Para ser feliz é preciso a pá e a enxada,
uma para enterrar seus mortos,
a outra para recomeçar
sob as chuvas de março
e replantar a luz divina
que brota e cresce no coração do homem...
Preciso é reconhecer cada folha
de planta na beira da estrada,
saber o nome das coisas
para esquecê-las depois
e renomeá-las com a língua da poesia,
urgentemente apanhar um punhado de terra
e sentir a umidade da mãe
que nos gesta alimentos,
saber domar e amansar
cada perigosa fera
que nos vai por fora
e nos vem por dentro...
Ir até onde está a Linha do Equador
e atravessá-la como um equilibrista
a olhar as marcas do tempo
como cicatrizes numa América quase dopada,
recuperar a ancestralidade Maia
sob uma nação cambaia,
escutar a música dos ofendidos
e gritá-la até que todos
possam a ter ouvido...
Lavar o rosto sujo de impossibilidades
quando avistas o homem estendido
na calçada e segues em seu caminho
torto e manco,
mesmo que o sal de teu corpo
te saia pelos olhos
e tempere a vida ao teu redor,
queira ou não,
te tornando um tanto quanto
melhor ou pior...
O que te importa a bandeira levantada
diante do batalhão de proscritos,
de malditos que se sabem perdidos?
O que te importa saber
que em nenhum livro escrito
está a história real
dos que te trouxeram a este caminho,
nada nunca te será comunicado
em bilhete ou te será dito,
absorto que estás a pensar
sem sentir a beleza do desatino?
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