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Borderline por Borderline
Thais Nocentini

Resumo:
O texto é uma visão de como se sente, no dia a dia, alguém acometido pelo Transtorno de personalidade Boderline.



Muita gente conhece a música "Borderline" da cantora Madonna. Sim, essa música fez um estrondoso sucesso nos anos 80 e o refrão dizia assim "Borderline, Feels like I'm going to lose my mind" (Borderline, parece que eu vou enlouquecer - em tradução livre). O que pouca gente sabe é que o Transtorno de personalidade Boderline é uma doença grave, incapacitante é extremamente solitária. Eu tenho essa doença há muitos anos e o sofrimento é extremo. Em primeiro lugar porque somos instáveis. Geralmente as pessoas suportam cargas emocionais fortes, difíceis, doloridas, mas conseguem se manter sãs, elas percebem que o tempo é capaz de curar. É claro que elas sofrem, mas passa. No caso do Border, esse sofrimento não passa, ele é intrínseco, ele é sentido de uma forma diferente, ele é cansativo e incapacitante. Geralmente temos incapacidade e dificuldade de nos relacionar, somos extremamente carentes e temos uma capacidade fora do normal em magoar as pessoas. Daí nos arrependemos, porque não era a intenção magoar quem a gente gosta/ama, mas aí a merda já está feita. O contraditório no Borderline é que ele só quer ser compreendido, ele só quer uma mão que diga que vai ficar tudo bem, mas sua incapacidade, sua auto mutilação e o seu pensamento suicida impede que os outros se aproximem. Na realidade, ninguém quer se comprometer, ninguém quer dar um tempo em seus próprios problemas e estender a mão para fazer um simples carinho. Isso não existe, as pessoas preferem se afastar do que é diferente! Então, nós, Borders, acabamos por desenvolver uma personalidade muito carinhosa com relação a terceiros. Na real, a gente tem a esperança de que se dermos amor e apoio, as pessoas, alguma hora, irá nos retribuir com o mesmo apoio. Mas isso é burrice! As pessoas estão sempre muito preocupadas com elas mesmas, com os problemas delas e não tem mais tempo para cultivar amizade. Ninguém pode perder uma tarde simplesmente fazendo carinho em quem, aparentemente pode ter tudo, mas não tem nada.
As pessoas são egotistas (e não julgo, eu também sou, também sou injusta, faz parte desse novo mundo). Elas não pensam que pequenos gestos de verdadeira demonstração de interesse pode salvar uma vida.
Eu, particularmente, me considero uma pessoa legal. Eu sou razoavelmente inteligente, valorizo os meus amigos, minha família, sou mãe de um filho lindo, mas estou envolta em uma dor insuportável 24h por dia.
Então eu me corto, muito, feio, para que essa dor seja um pouco menor. Eu me corto porque assim tenho sono, porque me acalma, é porque a dor se torna física. Dói menos.
Uma das características dos Borders é a sensação de culpa. Nós odiamos magoar alguém, mesmo sabendo que sempre magoamos, seja por impulsividade ou seja pela tentativa de obrigar a pessoa a se importar. Então, quando você perde muita gente (porque, como eu disse, as pessoas se afastam), você decide que não vale mais. Que não tem sentido e que você simplesmente não consegue mais suportar a montanha russa involuntária de sentimentos a que fomos embarcados.
O que os outros não percebem é que este transtorno é uma doença muito cortante, dolorida, fria, que te consome um pouco por dia. Na minha cabeça, eu convivo 24h por dia com um sentimento de fim. Eu quero terminar, estou cansada de tentar, eu tenho aqui comigo, na minha frente, a solução para o fim, mas não acho a coragem. Eu preciso dela, eu quero ela por perto, sem que seja transvestida de impulsividade. Eu quero fazer e parar de pensar, de sentir, de arder, de perder. Muitas vezes nós temos que dar o ponto final, temos que livrar as pessoas ao nosso redor do nosso convívio é temos que parar de nos sentir ocos, vazios, doloridos. Enfim. Odeio. Quero só que tudo acabe.


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