Pendure a justiça pelo pescoço;
alguém vai dizer,
ela é tão moça, moço,
por que fazê-la desaparecer?
Deixe que ela viva como tem vivido,
separada de todos, como fosse escorbuto;
por detrás se vê os olhos dela, de vidro,
ciente de que seu traje é, sim, por luto...
Um dia ela andava pela cidade
a rir e a comemorar seus feitos
até que uma má palavra lhe invade,
dita, maldosamente, por um mau sujeito...
Foi sua queda e seu castigo,
abriram seu fecho,
romperam seu vestido,
derrubaram-lhe do berço
o filho que lhe seguia,
humilde e sempre pronto a ajudar,
por nome o chamavam Direito,
que todos tinham e podiam cumprimentar...
Olhe bem, seu moço,
nos olhos dela e veja a verdade;
por que atirá-la ao poço
das nossas inumanas veleidades?
Que ela sobreviva à todos nós,
que cante seu canto de plenitude,
que seja por todos a principal voz
a reclamar por nossos erros,
nossa falsa virtude não lhe seja algoz...
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