Numa manhã em que o sol atravessava a pele com força e calor quase insuportáveis,o mestre convidou o monge para caminharem juntos e conversar amenidades durante o trajeto. Foi um dos mais belos momentos:a presença de arvores amenizava o clima e a claridade do sol permitia o vislumbre daquela paisagem tão completa de detalhes poéticos,aos olhos e ao coração.
-“Esta noite ,concentre-se no que viu e com certeza terá sonhos muito nítidos e confortantes”,recomendou-lhe o mestre.
Em um dia,o mestre o abordou e combinaram um passeio por aquele mesmo caminho,porém,à noite.Foram caminhando e conversavam,mas a escuridão os fazia sempre tropeçar em alguma pedra ou pedaços de madeira jogados ao chão.Acrescentava-se ao inconveniente,o medo constante de algum inseto ou réptil atingi-los.Mas assim foram e logo retornaram ao mosteiro.
-“Esta noite,concentre-se no que viu e com certeza terá sonhos muito nítidos e reveladores acerca de si mesmo”,recomendou,de novo,o mestre.
-Mas,concentrar-me em quê?Nada consegui ver naquela escuridão.
-“Justamente!Quis lhe mostrar que vimos muita coisa à claridade do sol mas que quando mergulhamos na escuridão,devemos ter consciência e atenção em dobro pois nossas referências diminuem.Da mesma forma,devemos agir quando penetramos a escuridão do nosso eu interior.Há muitas descobertas,mas há também muitos inimigos dentro de nós,prontos a nos enganar”.
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