O que digo ou escrevo não importa
se não tenho a chave da porta
que se abre para o paraíso oculto;
se ao meu lado o anjo mau se encosta
e me diz que ele, sim, tem a resposta
para este meu material mundo...
Tudo o que falo e escrevo
é, no mínimo, reza de um terço
de quem nos configura
através dos tempos
e das escrituras,
algo que só saberemos
quando à terra voltarmos
e nos transformarmos
em pó, barro, verdura...
Por isso o sentido
não faz sentido
se o sentirmos
sentidos...
A razão, mãe da casca,
sabe que o que a ultrapassa
é tão somente o acaso
que, de repente,
alivia o fardo...
O que escrevo ou digo
mal servirá de lápide ao que fui
se, no acontecente tempo ruinoso,
não percebê-lo ser o que a tudo rui...
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