Quando eu era criança, gostava muito de brincar nos fundos do quintal. Certa vez encontrei embaixo de uma árvore frondosa, uma cobra conversando animadamente com um passarinho. A cobra, com um ar de tristeza, confessava ao passarinho o seu desejo de voar, acalentado há muitos anos.
— Sabe de uma coisa, passarinho?
— Não , dona cobra. Eu não sei de nada... A única coisa que sei fazer no mundo é cantar.
— Não é nada disto passarinho. Eu estou querendo dizer a você que eu estou cansada de rastejar pelo chão sujo. Eu gostaria de saber voar e cantar bonito assim como você canta e voa.
— Eu ehm... Se você aprender a cantar e voar, vai ser pior para nós e também para a humanidade racional, os homens, que já sofreram muito com as suas mordidas.
— Mas por que você diz isso? Respondeu a cobra.
— Ora esta, se você cantasse bonito como eu canto e também voasse, ninguém teria medo de você. Aí... Sabe... As cobras do mundo todo se transformariam em armadilhas vivas espalhadas pelas moitas dos quintais.
— Passarinho, você não entende o que eu estou querendo dizer. Acontece que se eu soubesse cantar bonito, todos me tratariam bem. Eu acho que se ninguém tivesse ódio de mim, eu não ficaria tão envenenada como sou.
|
Biografia: Marcos Barbosa é jornalista, escritor e poeta, membro e Secretário da Academia Aguaslindense de Letras. Tem três livretos publicados e participação numa coletânea da Aletras. Os textos de Marcos Barbosa estão publicados em vários blogs, sites,,, e nos jornais impressos, desde 1970. |