A mulher sentada á beira da cama,olhava sem piscar o homem deitado ao seu lado,com seus quarenta anos,rugas,e uma serenidade que só existia quando este dormia,uma paz que nesses ultimos anos ela passou a desconhecer.
Ele se mecheu um pouco,mas continou dormindo.
Ela olhava agora para a televisão que estava em cima de uma estante já velha,em frente a cama,mas não estava ligada,nem pensava em liga-la.
Apenas pensava.
Casou-se com aquele homem por amor,um amor juvenil,puro e inocente,que seu pai alertou não durar para sempre,mas que ela ignorou o comentário maldoso de seu pai e seguiu seu coraçao.
E agora lá estava ela,talvez com uma ponta de arrependimento,mas não conseguia pensar num futuro diferente daquele,ou sua vida sem aquele homem que todas as manhãs acordava de mal-humor,com as sombrancelhas enfezadas e a boca torta,todas as manhãs eram iguais,ele mal dirigia palavras á ela,e nem demonstrava nenhuma emoção.Já se acostumara a essa indiferença.
No entanto,naquela manhã,essa indiferença á incomodava,esses anos á incomodava,as monossilabas á incomodava.
Levantou e se deu conta que tudo estava insuportavelmente incomodo,dirigiu mais um olhar furtivo ao homem e decidiu.
O homem se mecheu mais uma vez,abriu lentamente os olhos e viu a figura dela parada em frente a cama,quieta e olhando para ele.
-Que foi -perguntou o homem sonolento.
Ela nada respondeu,foi em direçao a ele.Não o olhou ,apenas o abraçou bem forte,como a tempos não fazia.
Ele lentamente a envolveu tambem,e pelo que se pareceu horas, ficaram assim.
Ela apenas meneou a cabeça,e quase como um sussuro disse ,com o coraçao acelerado e a coragem já fugindo de si.
-Se quiser este pode ser o ultimo abraço.
Ele não respondeu.
A olhava sem entender.
E por um instante hesitou ,mas logo entendeu.
A envolveu de novo e se permitiu o silêncio.
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