Uma jornada de mil quilômetros começa com o primeiro passo. Se não quiser e não tiver genuína vontade, nem atravessar a rua você faz.
E eis que Joselfio resolveu trilhar seus mil quilômetros, num rumo incerto, mas empenhado em representar bem o papel ao qual estava cosmicamente destinado: ser o protagonista deste pequeno conto.
E botou-se na trilha. Primeiro passo. Segundo passo. Terceiro...
Os passos foram se multiplicando: centenas, milhares. Um trajeto que parecia não se acabar. Mas, verdadeiro dono e senhor de seu destino pessoal, Joselfio não sucumbiu. Teve ocasiões em que fraquejou um pouco, é bem verdade. Questionou a si mesmo se aquilo valia a pena. Mas não havia o que fazer. Era inexorável. A satisfação de ter completado um percurso de tamanha envergadura haveria de valer a pena.
(***)
E os dias foram se passando. E os meses.
(***)
Até que, do alto de um morro, Joselfio avistou no horizonte próximo algo que parecia um outdoor. Sem esforço, leu: "Bem-vindo, Joselfio. Você conseguiu!".
(***)
"UAU!!!", exultou ele. "Finalmente!"
Respirou fundo, agrupou forças, e entrou em disparada rumo ao destino derradeiro, ao final da jornada. Chega de sofrimento, de dor, de calos e bolhas nos pés.
(***)
Faltando cerca de 100 metros, ao tocar no bolso de trás para pegar seu celular, a fim de imortalizar o momento, Joselfio tremeu. Estremeceu. Gelou.
- Putaquepariu, esqueci o celular!!!, berrou.
(***)
Já diante do outdoor, ele olhou tudo aquilo, suspirou, olhou de novo.
Olhou pra trás, e viu as pegadas que iniciavam lááááá ao longe e terminavam perto dos calcanhares de Joselfio.
Suspirou novamente:
- É o jeito...
Uma jornada de volta de mil quilômetros começa com o primeiro passo.
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