Um dia
Quase sem notar
Ou querer
Fazemos conta
Entre certeza
E expectativa
Números inflexíveis
Demonstram friamente
O adiantado das horas
O tempo se foi tão rápido
Veloz, a galope,
Agarrados em sua crina
Tentamos não ser derrubados
Vendo a paisagem correr ao largo
E rostos
Inúmeros e ternos rostos
Irem ficando para trás
O tempo
Os números
A matemática
Anunciam:
Já cruzamos a metade do caminho
E a face de hoje
No espelho revelada
Não é a mesma
Que os olhos lembram
Nesse rosto
Formado pela memória
Um jovem
Magro
Com cabelos escuros
E trezentos mil sonhos
Olhava o mundo
Com inquietação e esperança
Hoje
Esse rosto
Que já não reconheço
Olha o mundo
Com urgência e ansiedade
Carregado da saudade
Daquilo que não aconteceu
Do que não houve
Olhos
A vigiar esse tempo
Que, segundo a segundo,
Na velocidade da luz
Como imenso buraco negro
Engole os anos
Como se fossem dias
Tempo que talvez
Nem mais exista
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