Agora, em novembro, a morte de Manoel de Barros empobreceu a poesia. Era o poeta das miudezas, das insignificâncias, das rãs, dos rios, das pedras. Ouvia a cor do canto dos pássaros, ouvia as raízes, os silêncios. Durante todo tempo, esteve visitando a infância, era o menino cheio de vazios, incompleto.
“A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.”
Por essa incompletude, era abastado também de sentimentos e poesia. Sonhador, que queria mudar o mundo usando borboletas. E dentre tantas outras façanhas, cresceu continuando menino, sem esquecer a curiosidade e o encantamento.
"Que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças, nem barômetros. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós."
Um encantamento que a sua poesia nos inocula, que nos injeta, veias, coração e mente a dentro.
Agora, em 2014, Manoel, que era de Barros, quase terra, quase joao-de barro, definitivamente, virou estrela. E a poesia, se a poesia existe, vai olhar para cima e repetir: “As coisas muito claras me noturnam.” e “Do lugar onde estou já fui embora.”
Mas antes de ir, deixou um conselho, um alerta para alguns:
“Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho
1 abridor de amanhecer
1 prego que farfalha
1 encolhedor de rios
1 esticador de horizontes”
Manoel Wenceslau Leite de Barros, nasceu em 19 de dezembro de 1916. Em 13 de novembro de 2014, enraizou-se, virou árvore. Ou, então, emborboletou-se, e saiu voando.
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