Antigamente, na antiguidade do homem, ou seja, no século XX, muitos achavam que artistas eram pessoas com um impulso irresistível de expor a sua arte. Qual pintor iria querer que suas criações ficassem preservadas em um quarto escuro, intactas, mas inéditas aos olhos da humanidade? E qual ator encenaria sua peça sem platéia? E que poeta, que escritor escreve unicamente para si mesmo?
Há eras atrás, no século XX, achávamos que essa necessidade de divulgar sua arte, sua criação, fazia com que os artistas, bons ou ruins, trabalhassem para obter não só o sucesso financeiro, mas principalmente, o reconhecimento local, nacional, mundial. Dizem até que se Hitler, que era mais um pintor medíocre achando que era um gênio, tivesse sido aceito na escola de artes talvez se contentasse apenas em produzir obras inexpressivas para o resto da vida, em vez dos quadros de destruição que criou.
Hoje, na idade moderna, ou seja, após a internet, descobrimos que estávamos errados. Não eram os artistas que movidos por essa ânsia de entregar sua arte ao mundo, buscavam espaço e reconhecimento. Na verdade, a internet nos provou que, sem qualquer dúvida, não só os artistas, mas sim todos, querem divulgação e reconhecimento. Todos nós. Não se trata de escrever bem ou mal, mas sim, muitas vezes, falar sem um mínimo conhecimento. Nesse mesmo instante, mundo afora, milhões de mentecaptos exercem seu direito inalienável de publicarem aquilo que pensam, apesar do esforço hercúleo que isso represente para os poucos neurônios operantes que possuem.
Todos têm uma idéia ou opinião sobre tudo. Se houver oportunidade, muitos irão discutir física quântica com Stephen Hawking, sem se importar se seus pensamentos forem parar nas “perolas da internet”. Após a derrota da seleção, vi uma análise do Zico tentando explicar o vexame num conhecido portal de conteúdo. Dentre os vários comentários um sobressaiu-se, dizia: “o que esse cara sabe, é um derrotado, nunca ganhou nada”. Segundo o abalizado comentário desse profundo conhecedor, Zico, campeão mundial pelo Flamengo e ídolo internacional não entende nada de futebol. Esse sujeito sim, sabe tudo. Sorte a nossa, pois não poderíamos prescindir de sua relevante opinião.
Mais importante que tudo é opinar, deixar sua marca. Conhecimento e bom senso ficam em segundo plano. Não devemos nos intimidar com tais detalhes...
Aliás, essa foi mais uma conquista alcançada pela internet em pouco tempo, superando o que psicólogos e psiquiatras tentavam há décadas: hoje, muitos não só conquistaram o direito de serem medíocres e imbecis. Foram ainda além, se redimiram completamente: passaram a se orgulhar disso.
|