Águas da memória
Inundam minh’alma estas águas passadas,
Que trago retidas em minhas memórias,
Algumas são odes, são cantos, são glórias;
Mas outras, somente, são penas juncadas,
Colhidas no tempo ao sabor das lufadas,
Dos ventos contrários do meu caminhar.
Lembranças que gritam, que fazem penar,
Que cortam, retalham meu ser em pedaços,
Que vestem de luto minh’alma, meus traços,
São lágrimas tristes, salgadas do mar.
As águas que escorrem de dia e de noite,
Nas grotas profundas do meu pensamento,
São vozes caiadas de dor, sofrimento,
Algemas de mim, meu chicote de açoite,
Que não me dão paz, muito menos acoite.
Eu luto com fé para não naufragar,
Nas águas do tempo que insistem borrar,
O riso que aflora nos lábios sem pejo,
O sonho que nasce qual água de um brejo
Com lágrimas tristes, salgadas do mar.
E neste retrato pintado na tela,
Eu bem sei que sou grão ilusório de sonho,
Que em meio as tormentas da vida que enfronho,
No vão da tristeza, da dor, da procela,
Ainda pressinto que a vida é tão bela.
Por isso que expurgo da face o penar,
E toda tristeza que vem me amargar.
Assim vou seguindo, cerzindo as hachuras,
Bebendo na taça do tempo as rasuras,
Das lágrimas tristes, salgadas do mar.
Edith Lobato – 07/11/13
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