Notas vomitadas.
Acordei de roupa e sapatos, 5:35 da madrugada. Me sentia zonzo, bêbado. A lâmpada de 25W acesa dentro do abajur iluminava uma grande taça com vinho tinto. Tomei o mais longo dos goles e voltei a dormir, ainda de roupa e sapatos. Às vezes não vale a pena remover nada do lugar, e na maioria das vezes, não vale a pena nem tirar a roupa.
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Meu amigo Marc gostaria de ter sido um grande jornalista político. Hoje corta cabelos numa rua movimentada de Sampa. Saan queria montar um grande restaurante, hoje vende cachorro-quente na frente da escola. Fernandinha queria ser tenente do exército da salvação, hoje é atendente de bingo. E continua com aquela enorme e deliciosa bunda. Arthur Reis queria ser um escritor respeitado, hoje é vendedor de enciclopédias. Marina Marshal queria ser uma brilhante psicanalista, hoje faz check-in no aeroporto de Stambul. De certa forma, todos ainda tinham esperanças de ver seus desejos concretizados. Já Brunno Formatori era maluco, 2 bilhões na conta, herdeiro do petróleo, esbanjador, soberbo, conservador, um jovem rabugento e infeliz. Um fracassado, como diria.
Os níveis do fracasso são tênues
e podem confundir quem tenta entende-lo.
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A banda The Longneck’s tocava no Gira. O bar lotado, pessoas dançando, bebendo e curtindo numa boa. E apareceu a fotógrafa suíça e o namorado cabeludo e caipira. Este começou a vaiar e rir do repertório da banda. A cada música que começava, dava gargalhadas e gritava “essa música é uma merda... que porra de som de merda...” e outras besteiras mais. As pessoas já começavam a se sentir incomodadas, pois havia uma relação boa entre os The Longneck’s e o público que estava lá. Mas ninguém tomou atitude alguma, apenas olhavam de lado e faziam caras de quem se perguntava: quem é esse cara?
Foi aí que Dexter bateu forte nos pratos e a música parou. Dexter foi até o cabeludo e, com as mãos inchadas, começou a socar o caipira, com vontade. Depois de o jogar pra fora do bar, pegou a máquina da fotógrafa suíça e fez várias fotos da cara quebrada do homem jogado na rua. Então rebobinou o filme, tirou-o da máquina, entregou a fotógrafa e arremessou a máquina sobre o telhado da casa vizinha. Dexter voltou pra bateria, pro rock and roll. Gritos de satisfação do público ecoaram no Gira.
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Há dois anos que não transo com uma mulher que eu pudesse dizer, com todas as letras “eu amo você”. E aí tentava manter aquela pose de durão e pensava “que se foda o amor, eu só quero é trepar e o resto que se dane”. E, ao que tudo indica, vou continuar com pose de durão, querendo que tudo se dane.
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