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Um filho da puta de 1ª classe!
Galileu III

Resumo:
Carta de Galileu III para Carola Ginger. Amor e dor na dose certa: copo alto e sem gelo.

Bendita Corolina. Abri um Cabernet Sauvignon, da Alto Vale, me pareceu ótimo. Não sou bom entendedor de vinhos, mas posso reconhecer um que seja bom ou que pelo menos me seja boa companhia. Gosto do nome Carolina, que é o nome de minha bisavó, avó de meu pai. O calor aqui continua dourando a gente que vai a praia, e também caiu uma chuva muito refrescante e inspiradora. A coincidência é que depois de quase 40 dias sem chuva, ela veio na noite posterior ao seu retorno a Londres. Parece que ela esperou você cair fora pra lavar tudo e a todos.
Outro dia, quando estávamos aqui em casa, me pediu pra que eu escrevesse algo bom sobre os últimos acontecimentos, e que não fosse romântico, ou uma declaração do amor que sinto, aonde uma sensação de paz viria. E escrevi poemas agressivos e que você já os leu. Pois bem Carolina, não espero que goste, apenas que leia e reflita.
Foram longos meses, tudo começando com um bate papo no msn, um encontro virtual no orkut e virei seu grande companheiro. Como me relataste um dia, não lembro onde (veja como minha memória é lesada), cumpria sua rotina e voltava correndo pra casa, eu estaria lá pra você. Eu sempre estava pra você e um monte de gente, afinal, meu trabalho é estar na frente deste PC que fica aberto ao mundo 24h. E gostamos um do outro, da companhia agradável, do bom papo, das besteiras e confissões e te confesso, quando você ligava a web cam, eu beijava o monitor, bem ali, onde estava sua boca e seu corpo. Meus primeiros sinais de demência.
E você tinha um cara que te amava e você lhe correspondia o amor e eu também tinha algumas amigas que me exploravam sexualmente, elas caíam na minha “arapuca intelectual”, como tu me disse. Mas elas nunca foram importantes, saiam e entravam do meu quarto como se pra fazer um exame de toque, ou toxicológico ou apenas pedir mais cerveja, fumar e transar. Algumas sabiam que eu contaria “quase” tudo nos contos e queriam se ver lá, no blog. Malditas usurpadoras. Elas dizem que sou bom nesse negócio de cama, que sou paciente, explorador e que prefiro dar prazer a senti-lo. Neste último ponto eu não concordo. Anyway.
Pois bem. Nossa história foi crescendo, lhe dediquei algumas estórias, você tem um jeito encantador de sublimar seus sentimentos, suas relações e fui tocado, entre tantas coisas, por isso. Havia uma grande vontade de viver dentro de você, mas percebia que também havia algumas dúvidas (coisas inerentes ao homem moderno) propriamente dizendo sobre seu futuro. Achava uma preocupação razoável já que se tratava de uma garota estrangeira vivendo longe de casa. Eu abria um parêntese em meus pensamentos pra me perguntar: “que casa?”.
Lembro de um dia em que você estava em Berlin, na casa do Nil e que havia um monte de amigos na sala e você permaneceu no quarto, ligado a mim por satélite, abandonando a todos. Fiquei feliz pela importância que me dedicava e pensava “será que ninguém tem nada a dizer pra essa garota?”. E um dia as coisas se complicaram e você riscou meu nome. Eu havia te perdido e por longos meses, até que voltamos a nos falar. Confesso que fiquei realmente sem muita inspiração, até pra te maltratar literariamente. Não havia como dizer nada, não naquele momento e, como já escrevi em algum texto que está lá no blog, nos falamos ao telefone na casa de seu pai e você perguntou se eu havia perdido a inspiração porque já não postava nada a um bom tempo. Fiquei de saco cheio de você, mas era a pura verdade.
E me envolvi com Marta, uma válvula de escape pra te por pra fora de mim. Era uma garota legal, boa companhia mas não gostava de ler, nem o cardápio do Tex Mex, onde bebíamos sempre. E tem a Nativa, que ainda encontro esporadicamente pra trocar o óleo, a Ixtali, que é bacana mas quer ser o centro de tudo e ainda a minha doce Janna, que agora está perdida, a tadinha. Mas por nenhuma é amor, aquele em que te digo, sem certeza alguma, que não existe.
A alegria me corou quando soube que você viria ao Brasil e pensei, cá com minha camiseta sem botões: preciso conquistar essa garota, definitivamente, sem fracassos mas também sem muita empolgação, sem muita sede ao pote. Devo fazer tudo com muito respeito, o mesmo respeito que tenho por todos lá de sua casa, que sempre me acolheram tão bem. Eu deveria ir devagar, respeitar o Nil porque senão estaria desrespeitando a você. Mas a sede se transformou em fome, em fogo, em algo quase irracional.
Te ver na praia, naquela tarde de sol da Bahia foi ímpar. Me apaixonei pela segunda vez, e a cada dia era muito maior esse fogo. Eu me sentia em uma bolha de plástico, esticava meu braço e não te tocava. E na noite da pizza eu queria que todos morressem por uma noite pra comermos e bebermos tudo sozinhos, egoisticamente. E depois comermos um ao outro, no jardim florido da rua da Jaqueira. Mas parecia impossível, era intransponível. E resolvi relaxar, deixar as ondas atracar na praia,uma depois da outra.

Tadinha de você, meu bichinho, acuada tal qual uma gazela entre hienas. Vigiada pelos seus pares, andava estonteante de um lado a outro pelo quintal, servindo as pessoas, me oferecendo um gole e me olhando de pertinho, meio que para cima porque sou mais alto. Eu não sabia se aquilo era realmente bom para os dois, mas aproveitávamos o pouco que nos sobrou: pensar um no outro.
E depois você sumiu e pensei: fudeu, acabou, vou arrumar minhas malas e cair fora deste sonho gregoriano; não vou pagar pra ver, em absoluto. Não é possível saber o que se passa por aí, nestes hemisférios cerebrais sob seu cabelo ondulado, pintado; eu talvez estivesse pronto apenas pra te beijar e te comer sem garfo e faca, mas não sei nada sobre você e por isso, ainda duvido que possa estar pronto. Salve salve, o que me diz? Uma situação dramática, como diria os meus amigos do Cachorro Grande, uma banda que gravei no cd que logo chegará pra você, aí na 357 Perham Road G 3 – 9BA, London. Juro que queria estar dentro desta caixinha de correio.

Anyway baby, parece que realmente estamos encrencados e acorrentados. Mas são nossas estas vidas e se não soubermos fazer nada para transformá-las em algo bom, aí sim, viver não significaria nada. Eu estou pronto pra ARRISCAR TUDO, com os pés no chão, não porque a vida é curta. Eu acho a vida rápida, tem sempre o vento.
Sou um filho da puta de 1ª classe, como você mesmo diz.

Sempre teu!
Bahia, verão de 2007


Biografia:
Galileu III, 38 anos, já publicou o livro de contos "A dor da espécie", e participou de várias coletãneas de poesias. Acesse http://galileu3.blogspot.com para ler "O último segredo da noite" e "Feche os olhos, a tempestade vai começar", além de poemas e cartas.
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Contos Cerveja, poesia e uma mulher suicida. Galileu III
Cartas Um filho da puta de 1ª classe! Galileu III
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Poesias Meu amor roedor! Galileu III


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