TODAS AS LOUCURAS DELA.
Eu queria uma bela escultura minha,
pra colocar na biblioteca,
sobre uma velha escrivaninha
carcomida por cupins.
E minha garota Y.
não era propriamente
uma escultora,
mesmo assim
comprei quilos e quilos de argila
e joguei tudo no quintal de sua casa.
Ela começou a trabalhar com as mãos,
eu permenecia até 3 horas por dia,
paralisado,
enquanto ela
acariciava o monte de barro
que foi ganhando a forma de
um grande caralho
rude e desengonçado.
No final de tudo
ela me disse:
_eu não sou uma escultora,
sou uma estudante de psicologia.
Mesmo assim fiquei com o
meu caralho de quase 50cm
de altura por 35cm de
circunferência e o depositei
na entrada do banheiro, com
um chapéu sobre ele
e um charuto apagado
no buraco
que fiz com um longo prego.
Um dia,
quando voltei do trabalho,
a escultura tinha sumido.
Corri para casa de Y. e
encontrei o caralho em pequenos
fragmentos, todos jogados
dentro de um grande balde
de plástico.
_O que fez
com meu caralho?-perguntei.
Y. foi evasiva em sua resposta:
_ Vou planta-lo bem ali,
no quintal, perto das palmeiras.
_ Nada disso – e corri com
o balde na mão. Y. ainda
acertou o para-brisa do meu carro,
com uma barra de ferro
enquanto eu arrancava. Um caco
de vidro me cortou a cara,
no lado direito.
Depois tudo voltou ao normal,
os fragmentos da escultura
ficaram na biblioteca
e Y. todo dia me trocava
o curativo do corte de 4cm
sobre a vista de um desenho de Freud
que essa doce criatura
estava fazendo.
Eu amava
todas as loucuras dela.
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