Cerveja, poesia e uma mulher suicida.
A desgraçada veio por cima, sentou em cima do meu pau e começou a trabalhar, mexendo os quadris para os lados e depois pra frente e pra trás. Peguei nos peitos cheios e duros e dei uma mordida de leve, arrastei a língua. Ela urrou e aumentou a velocidade. Depois virou sua bunda e pediu que a currasse. A cama gemia estridente, parafuso arranhando a madeira.
__ Vai, enfia essa coisa gostosa em mim.
Enfiei o negócio duro e roxo lá dentro e fiquei bombeando suavemente até que gozei tirando o pau fora e espalhando a porra nas suas costas.
__ Vou me limpar, ela disse saindo da cama, enrolada no lençol.
__ Vá, desgraçada.
Apertei um baseado, liguei o computador e fiquei vendo vídeos de ninfetas transando com animais, na internet. Uma garota loura chupava o pau de um cavalo árabe. Depois o garanhão mijou e ela bebeu tudo, às vezes cuspia. E apareceu uma negra gorda e as duas começaram a se beijar e a negra esfregava o pau do cavalo nos peitos murchos e caídos.
Tocaram a campainha. Completamente nu, abri a porta. Um cara negro muito pequeno, com grande óculos escuro moldado por farta cabeleira black power estava do outro lado, sobre o tapete enlameado.
__ Mandaram entregar isso para a Mel Joplin. Me deve $25 - disse o anão com uma voz grossa e arrastada, evitava me olhar.
__ Entraí!- convidei. Ele entrou.
__Sente-se, quer beber alguma coisa? Uma cerveja...pode ser? – insisti.
Ele sentou e aceitou a cerveja. Apenas acenava com a cabeça e dizia “hãhã”.
__ Você deve ter um nome - lhe disse abrindo a geladeira e sacando de lá duas Heineken.
__ Serafim. É esse meu nome.
__ Gostei. Serafim.
Ficamos por ali, tomando uns tragos. Estava anoitecendo, a janela aberta, água do chuveiro correndo.
__ Você quer transar com Mel?- pausa, silêncio. Ele encheu a boca de wisky. Continuei:
__ Por isso veio aqui, trazer esse bagulho?
__ Pode ser, já transei com ela. Poucos caras aqui da área transam com a Mel. Além de mim, tem Flavão, Kurtz, Delfin e você. Mas não fiquei surpreso em te encontrar aqui, já tinha te visto entrar ontem à noite.
__ Se importa se eu ficar pelado?
__ Claro que sim, vá se feder...pelo amor de deus.
Apanhei mais duas verdinhas.
__ Tenho uma idéia- disse a Serafim.- Tire a roupa. Vamos foder Mel Joplin.
Mel ainda estava no banheiro, negra, mergulhada na espuma branca feita com detergente misturado a essência de Florais. Ela sempre vinha com aquela conversa, enquanto enchia a banheira e despejava o líquido de uma garrafinha de wisk. “Quando você se banha com essa essência floral, ela mobiliza a consciência de seus dons únicos, sabe, desperta alguma coisa que está aguardando para ser despertada, fortalecida ou desbloqueada. Que saco! A mesma ladainha.
Arrombei a porta com um chute e ela deu a maior risada quando viu o anão, pelado, arrastando a mangueira.
__ Trouxe um presente pra você, minha “nega”.
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13:17. Acompanhado do café, fui pra internet, a loura ainda chupava o cavalo árabe. Mel, que dormia no sofá, acaba de despertar. Faz um alongamento, respiração, etc.
__ Ainda por aí?
__ Estou buscando uma alternativa para salvar a humanidade.
__ Para que isso aconteça, você deve salvar uma pessoa de cada vez. Porque não começa por você mesmo?
__ É!
__ Você está ouvindo, mas não está escutando!
__ O quê? – ironizei desligando o PC.
__ Vou sair daqui a pouco pra uma reunião com os Irmãos na igraja Deus é Mais, lá pros lados das tribos indígenas. – disse Mel passando um novo café. Não se esqueça de passar na igreja – completou.
__ Como é mesmo o nome do cara? Esqueci completamente.
__ George Leen. Não é simplesmente um cara, é o pastor Leen. E não lhe roube o vinho outra vez, Walter, por favor.
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Com um limpo terno, o melhor sapato, a bíblia novinha dentro da mão, parti para o templo Glória nas Alturas, na rua das Palmeiras. Caminhava pensando nas mulheres que passaram pela minha vida, no modo como as havia feito desaparecer, algumas completamente e outras não, porque insistiam em me visitar quando Mel viajava. Mel era pastora e instrutora dos Jovens Missionários Cristãos, uma suruba só de garotos e garotas louvando e pedindo pela unidade dos cristãos.
Nos conhecemos numa noite fria em que ela encontrou-me bêbado, caído na porta da igreja. Juntou o que ainda restava de minha vida naquela calçada e levou-me pra sua casa. Quando tirava o manto sacristão, transformava-se na “abominável negra da caverna profunda e infinita”, como gostava de dizer que era. Disse que me daria guarita desde que a ajudasse com as contas e curtisse uma sacanagem.
__ O que você faz?
__ Sou escritor.
__ Já leu a bíblia?
__ Sim.
__ E Sodoma e Gomorra?
__ Sim. E também Sade...Casanova.
__ Então essa noite você dorme no sofá. Amanhã a gente vê como fica.
Enfim, cheguei à igreja, que estava fechada. Tinha uma entrada lateral e por ali cheguei nos escritórios e no tal George, o grande missionário cagalhão, sempre ocupado, trancafiado no banheiro, talvez currando alguma alma que buscava a divindade pelos caminhos errados, ou, como alguns cochichavam, para contar seu dinheiro. Bati na porta.
__ Estou ocupado – ele gritou – volte depois.
__ Aqui é Niko Baltimore, do Jornal Folha Expressa.
__ Então não volte NUNCA MAIS.
Voltei pra rua. Não sei porque, mas pensei em suicídio. Uma vez, eu ainda moleque e minha mãe me disse “Seu pai saiu há bastante tempo, e levou o revólver”. E eu e meu irmão encontramos o carro na escuridão da noite gelada, pertinho da praia. Ele estava lá dentro, víamos seu vulto, abrimos a porta e sua cabeça estava jogada para frente, apoiada no volante. Mas ele estava apenas bêbado, dormindo, com o revólver no colo. Eu achava o suicídio um ato justo, de coragem ou covardia, mas justo. Algumas pessoas levam anos “matando-se” com noitadas, preocupações, dinheiro, poder, infelicidade. Outros resolvem o assunto em 1 minuto.
Fiz uma pausa no Café Manghuty, cerveja com bolinho de bacalhau. O celular toca, é Mel Joplin, 26 anos, negra, feliz.
__ Wal, terá uma surpresa quando chegar, prepare-se.
__ Matei o pastor – atropelei.
__ O que? Não acredito...e pegou a grana?
__ Não...só o Vinho do Porto.
__ Filho da puta... mentiroso, você é um grande mentiroso.
__ Jesus também é. Disse que iria voltar, mas até agora, nada.
__ Jesus era uma criança, Walter.
__ Eu sei.
Cheguei tarde, altas horas e encontrei Mel pendurada pelo pescoço, na sala. Enforcada. Estava nua, sedutora, com um enorme crucifixo por cima dos seios. Sentei no sofá, com uma garrafa de wodka russa, fumando, olhando olhando olhando aquela cena, lembrando que havia pensado nisso enquanto rodava pela Alameda Mucugê.
No outro dia fechei todas as cortinas e fui pra rua, na padaria. Trouxe pães, queijos, ovos. Preparei o café, Mel pendurada, já meio verde-amarelo. Assisti televisão, escrevi a tarde toda.
Três dias depois, a noite, o telefone tocou.
__ Walter.
__ Que é?
__ É Dixtaly, como vai? – Dixtaly é uma jovem escritora, talentosa, enigmática, sempre apaixonada por alguém e sempre a fim de uma boa festa.
__ Vou bem Dixtaly.
__ Onde está Mel, quero falar com ela.
__ Acho que agora não vai dar pra ela falar com você. Está ocupada.
O corpo pendurado de Joplin dá uma balançada e vira, lentamente, ficando com a bunda no meu raio de visão. Fora o cheiro que já exalava, a cena era perfeita.
__ Estamos dando uma pequena festa aqui em casa. Você poderia vir até aqui, Wal.
__ Ok, estarei aí em meia hora.
__ E Mel? – ela insistiu.
__ Está dormindo.
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