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O Andarilho Sombrio: Corrupção
Bruno Zamarco

No Anno Domini 1462, Waláquia, a região havia sido invadida pelos turcos, forçando o então governante Vlad a se refugiar na Hungria, onde buscou reforços para recuperar suas terras.
Os turcos comandados por Mehemed II, também conhecido como “O conquistador”, detinham um dos exércitos mais poderosos de seu tempo, que não só conquistou Constantinopla capital do Império Bizantino, mas também consolidando o poder turco, criando o poderoso Império Otomano.
Vlad cujo pai foi culpado injustamente pelo uso de magia negra e morto por um de seus compatriotas. Menino que em um ato de coragem matou uma criatura imortal tornando-se um atemporal.
Assumiu a liderança de sua terra a fim de conduzir seu povo há uma vida melhor, negando a regra que é imposta aos atemporais de vagar pelo mundo. Fundou a Ordem do dragão, responsável pela proteção dos habitantes de sua terra e responsável por difundir a fé pregada pela Irmandade Bizantina.
Para esconder sua incapacidade de envelhecer chamou a si mesmo de Vlad O Dragão e posteriormente forjou sua própria morte deixando para seu filho Vlad III, que nada mais era do que seu alter ego, toda sua herança e poder.
Mesmo com seus poderes e habilidades foi incapaz de lutar contra a principal arma do então sultão turco o djinn chamado Marid.
Djinn era uma raça de seres poderosos que possuíam dentre atributos físicos e psíquicos superiores e o controle sob um dos elementos, a capacidade de se transformar em névoa. O que tornava uma luta corpo a corpo praticamente impossível.
Marid era considerado o mais poderoso de toda sua raça, pois era o único capaz de controlar todos os elementos. Ele teria se juntado ao exército de Mehemed II, a fim de recompensá-lo por tê-lo livrado de sua prisão milenar em um recipiente mágico escondido em uma caverna localizada no deserto da Arábia.
A batalha entre o djinn e Vlad foi brutal todo exército de ambos os lados foi aniquilado. Somente os dois permaneceram de pé, durante três dias os dois lutaram sob o chão cheio de cadáveres em decomposição e como ar fétido impregnado de morte.
O líder da Waláquia mesmo com suas habilidades de metamorfose, foi incapaz de ferir gravemente seu oponente. Cansado da dura batalha acabou fugindo em um momento de distração do inimigo, refugiando-se nas terras da Hungria.
Desolado pela derrota o campeão romeno buscava a formação de um novo exercito para confrontar seu inimigo, porém a história de sua derrota já havia se espalhado e todos se recusavam a enfrentar um inimigo que até mesmo o filho do dragão não conseguiu derrotar.
Como ultima opção o rei da Waláquia usou um dos ensinamentos de seu mestre, onde este explicou que era possível enviar uma mensagem a outro atemporal que ele conhecesse através dos sonhos. E assim ele fez, deitou-se em uma cama de uma velha estalagem próxima a Lugos e antes de cair no sono concentrou-se inteiramente em seu mestre.
Ele então se viu em uma grande ponte estreita sob um abismo gigantesco. O céu era escuro e os raios rabiscavam o céu, como se uma criança estivesse brincando com um lápis e o céu era seu papel.
Ao longe Vlad avistou seu mestre como o conhecera, um homem de média estatura, sua silhueta era de um porte médio puxando para gordo, porte este que nenhum guerreiro tinha. Entretanto o andarilho não necessitava de músculos, afinal o conhecimento era sua arma principal.
Ao aproximar-se de seu discípulo o homem o fitou, porém seu capuz tampava-lhe os olhos, nesse momento Vlad percebeu que nunca havia visto o rosto de seu mestre, mesmo durante seu árduo treinamento.
O andarilho então perguntou.
-O que quer de mim jovem discípulo?
Vlad responde.
-Homem, venho aqui, pois minha terra está sendo arrasada por um mal, que fui incapaz de enfrentar.
O mestre contempla o vasto abismo por onde a ponte localizava-se e continuou.
-Diga-me que mal é forte o bastante para amedrontar um atemporal, a fim de que recorrer à ajuda de outro?
Vlad sabia que pedir ajuda a outro atemporal era humilhante, afinal de contas eles eram conhecidos por seus grandes feitos e principalmente por seu eterno orgulho. Mesmo assim ele suplicou.
-Por favor, ajude-me a derrotar o djinn! Eles marcham em direção ao meu castelo! Minha esposa ainda está lá!
O Mendigo gesticula a cabeça negativamente.
-Você sabe que não deve assumir um matrimônio... nós não devemos...nos apegar a nada ligado a Chronos, isso só te levará ao sofrimento...
-Irei ajudá-lo pela responsabilidade confiada a mim como seu mestre, encontre-me a leste, vá a pequena cidade de Tomisovara as margens do Mar Negro, teremos que encontrar uma relíquia especial para enfrentarmos o djinn.
Surpreso Vlad pergunta.
-Quem naquela região poderia possuir tal artefato místico?
O andarilho sorriu e respondeu.
-Baba Yaga...
Nesse momento o jovem atemporal despertou de seu sonho recolheu seus pertences e seguiu até a região indicada por seu mestre e após dois dias a cavalo ele chegou à cidade portuária de Tomisovara.
A pequena cidade estava escondida entre a grande floresta de Pinheiros e o Mar Negro, a neve cobria a região como um grande lençol branco o que dificultava a locomoção.
Vlad chegou durante a noite nenhuma casa ou estalagem estava aberta, apenas em um estranho casebre podia-se ver o fogo bruxuleante da lareira acesa. Ele seguiu até o local, a porta estava aberta e lá sentado em um pequeno balcão estava o andarilho, ele então disse.
-Você está atrasado.
O discípulo sorriu por encontrar seu velho mestre e foi logo perguntando.
-Onde esta a tal Baba Yaga?
O mestre observou o fogo da lareira por um momento e disse.
-Está lá dentro.
Apontou o dedo para um pequeno cubículo da casa.
-Ela está providenciando a nossa relíquia.
Apressado o jovem atemporal exclamou.
-Não temos tempo a perder o exército de Marid marcha em direção a minha terra, onde está essa velha bruxa?
O andarilho esboçou um olhar repreendedor para Vlad.
-Sua pressa o leva a derrota, antes de enfrentar um inimigo você deve conhecer suas habilidades e fraquezas, não podemos derrotar algo que pode transformar-se em fumaça.
Então uma pequena velha apareceu da escuridão do quartinho e disse.
-Baba Yaga encontrou a pequena lâmpada para velho andarilho.
-Dívida de Baba Yaga esta paga!
-Baba Yaga não quer ver andarilho nunca mais!
Vlad tomou a pequena lamparina em suas mãos e perguntou para seu mestre.
-Que utilidade tem essa coisa velha?
O andarilho calmamente pegou a relíquia das mãos do jovem e disse.
-Essa lamparina foi criada para absorver a capacidade de transformação de um djinn em sombra, isso o deixará vulnerável e tornará nosso trabalho mais fácil.
O mendigo levantou-se e saiu pela porta. Vlad o seguiu, porém antes que ultrapassasse a porta a velha bruxa o pegou pela mão e disse.
-Baba Yaga vê...Baba Yaga sabe...antes que o jovem menos esperar...a ajuda de Baba Yaga ele irá precisar...Baba Yaga não sairá dessa cidade até o jovem retornar.
Vlad soltou a mão da bruxa e seguiu seu mestre e juntos viajaram até o sul da Walaquia para enfrentar o temível inimigo.
O que ele não sabia era que aquela velha bruxa conhecida pelas fábulas daquela região, possuía a capacidade de ver a escuridão no coração dos homens e que o destino para aquele jovem atemporal era negro.
O mestre não sabia, mas desde que seu jovem discípulo assumira a alcunha de Vlad O Dragão ele cometera diversas atrocidades com seus inimigos, desrespeitando uma das principais regras dos atemporais, que era não matar humanos comuns. O que estava corrompendo o seu coração. O mestre não sabia, entretanto a bruxa sabia.
Durante o caminho até o local da batalha nem discípulo nem mestre ousaram dizer uma só palavra, contudo o andarilho sabia que o medo do jovem Vlad de perder sua esposa era perigoso e estava estampado em seu rosto e o djinn poderia usar isso a seu favor.
Ao chegarem à fronteira entre a região da Waláquia e as terras do império otomano eles avistaram em cima de um monte o djinn Marid.
Sua forma humana era de um homem alto, porém sua pele tinha uma coloração roxa usava uma cafia e túnica brancas e um cirwal marrom, era uma visão amedrontadora, pois seus olhos não possuíam íris e nem mesmo pupila.
O monstro logo gritou instigando Vlad a lutar.
-Então o rei covarde voltou? Pensei que a humilhação de fugir com o rabo entre as pernas tinha sido o suficiente.
O rei atemporal sem esperar qualquer reação de seu mestre partiu para cima do inimigo transformando-se em um grande lobo negro, contudo antes de acertar o djinn, o monstro metamorfoseou-se em névoa fazendo com que o lobo passasse através de sua silhueta e acertando de frente uma enorme pedra localizada atrás dele.
O andarilho abaixou a cabeça e sussurrou.
-Esse garoto não aprende mesmo...
-Mas essa investida infeliz ainda será de bom proveito.
O viajante sabia que a habilidade de se transformar em fumaça de Marid não poderia ser usada por um breve período de tempo.
Ele o atacou com um grande salto e o acertando no rosto com seu braço revestido pela gauntlet, fazendo pela primeira vez o inimigo sangrar, o impacto jogou-o de cima do monte fazendo-o chocar-se contra o solo.
O djinn aturdido pela colisão e pela dor sentiu pela primeira vez a mais humana das sensações, o medo.
Vlad nesse momento atacou ferozmente o inimigo tonto e desferiu diversas mordidas pelo corpo djinn. Ele por sua vez utilizou sua capacidade de controlar o elemento terra para fazer com que o monte desmoronasse sob o atemporal.
Antes que pudesse recuperar seu fôlego o andarilho já estava em pé atrás dele, o djinn então fez suas mãos pegarem fogo e desferiu um soco direto no viajante.
Entretanto seu golpe foi parado pelo mendigo que segurou seu antebraço e apertando-o com tanta força que fez com que Marid ficasse de joelhos.
Humilhado Marid usou o elemento ar a seu favor, com um sopro vigoroso ele jogou o andarilho ao ar.
Ao chocar-se com o chão de pé um ranger de metal foi ouvido revelando que o viajante usava greaves de metal que absorveram o impacto com o chão e criaram uma pequena fenda do solo.
O viajante correu ao encontro do monstro desferindo outro soco, contudo o djinn transformou-se em névoa, antes de atravessar o corpo do inimigo o andarilho sacou a relíquia que carregava e esta em contato com o corpo gasoso do inimigo acionou suas habilidades absorvendo todo poder de Marid, restando apenas o corpo mortal do inimigo.
Vlad nesse momento livrou-se da terra que encobriu-lhe e num ataque feroz rasgou o indefeso inimigo.
E mais uma vez uma luz o envolveu e ele sentiu o mesmo calor de quando derrotou o algoz de seu pai. Quando a luz cessou seu corpo havia se tornado gasoso. O atemporal absorveu o poder do djinn tornando-se ainda mais poderoso.
O andarilho assistiu a tudo e disse ao discípulo.
-Volte para sua esposa garoto.
Vlad voltando a sua forma humana respondeu.
-Obrigado por tudo mestre.
Após a batalha ambos seguiram caminhos diferentes, o viajante seguiu para o mar mediterrâneo e Vlad retornou para seu reino.
Infelizmente para Vlad a verdadeira batalha ainda não terminaria ali, pois seu maior inimigo era ele próprio.
Enfurecidos com as derrotas sofridas o Império Otomano aproveitou-se da ausência do rei e enviou a sua esposa uma carta falsa dizendo-lhe que ele havia perecido na batalha contra o temível Djinn.
Ela desolada com a perda jogou-se da torre mais alta de seu castelo, quando o rei retornou encontrou nos fundos de seu castelo em uma vala comum o corpo de sua esposa.
Indignado e consumido pela dor da perda ele procurou os sacerdotes e exigiu-lhes que ela fosse enterrada em terra santa conforme os costumes.
Contudo essa opção foi negada, afinal dentro das regras da irmandade suicidas não poderiam ser enterrados em solo santo.
Enlouquecido pelo medo da solidão que a eternidade garantia-lhe e a dor de perder seu único amor o levou a retornar ao casebre de Baba Yaga, como ela mesma já havia previsto.
Lá ele implorou para que ela o ajudasse, mas a velha apenas disse.
-Baba Yaga não tem poder para trazer esposa de garoto de volta.
-Mas Baba Yaga sabe que ao norte em uma caverna gélida, existe uma fonte por onde brota vida.
-Baba Yaga viu uma vez!
-Vlad deve ir até lá e conhecer outro mestre!
Sem opções o rei caminhou em direção ao norte sozinho, vasculhando cada buraco, cada caverna, a fim de encontrar a fonte descrita pela bruxa.
Após dias de busca ele entrou em uma caverna fria, dentro dela ele sentiu um doce aroma, a fome o acometia a alguns dias e aquele aroma abriu-lhe o apetite.
Ele andou até o fim da caverna e num altar mal iluminado ele viu uma pequena fonte, todavia não era água que jazia ali, mas sangue.
Ao aproximar-se ele viu que o sangue brotava de um estranho símbolo na parede e de dentro do símbolo uma voz sussurra-lhe.
-Jovem discípulo enfim me encontrastes.
O atemporal então perguntou.
-Minha jovem esposa esta morta, fui informado que desta fonte brotasse vida, quero trazê-la de volta do mundo dos mortos!
Uma gargalhada ecoou do símbolo e a voz falou-lhe.
-O tempo da sua esposa expirou-se, você não poderá mudar o destino dela.
-Porém o seu é magnífico! Sinto sua alma pulsar atemporal!
-Você não é como os outros que se prendem em regras infundadas!
-Eu não posso trazer sua esposa de volta, mas posso dar a você o que mais quer!
-Poder!
-Olhe para a fonte e ela refletirá a verdade!
Vlad com olhos cheios de lágrimas olhou para dentro da pequena fonte borbulhante de sangue e viu seu reflexo, contudo ele viu apenas uma silhueta negra. Ele então perguntou olhando aquele reflexo distorcido de si mesmo.
-O que é você!
O reflexo respondeu.
-Eu sou o sangue que corre em suas veias! Eu sou o medo que pulsa no coração de seus inimigos!Eu sou seu ódio e sua vingança! Eu sou seu destino!
Vlad tremeu ao ouvir tais palavras, foi então que o símbolo revelou.
-Beba desse sangue e aceite seu destino!
-Beba e liberte-se das regras que os atemporais são submetidos!
-Beba e abrace a sua vingança contra a humanidade suja!
-Beba e supere a vontade de Deus!
Vlad engoliu suas lágrimas e disse.
-Perdoe-me Lisa, meu amor eu não fui forte o suficiente para te salvar, se eu tivesse vencido aquele primeiro embate com Marid.
-Se eu tivesse retornado para casa, se não tivesse fugido como um covarde...
Ao terminar de proferir essas palavras ele mergulhou sua cabeça na fonte e bebeu todo o sangue que ali estava contido.
O símbolo então gritou.
-Agora nós somos um!
-Você não é mais apenas um humano, nem mesmo um atemporal e muito menos um vampiro!
-Agora você é!
-Drácula!
Drácula tirou seu rosto da fonte e em meio ao sangue que escorria sobre sua face, vislumbrava-se os olhos vermelho carmesim, seus cabelos agora grisalhos e seu sorriso maquiavélico revelava suas presas pontiagudas.
A marca havia sumido da parede e se instalado em seu coração.
O grito do nome Drácula ecoou por muitos quilômetros, gelando o coração daqueles que o ouviram. E assim o herói se transformou no monstro.
O andarilho continuou sua peregrinação, porque ele não possui um lar, porque ele está aqui e ali, porque ele sempre esteve aqui.
Isso é o fim...ou talvez não...


Biografia:
Sou um amante da mitologia seja de games, músicas, contos e fábulas. A mitologia sempre foi utilizada para contar de forma fantástica a história sem cor da humanindade, transformando-a em aventuras lendárias. Imortalizadas na pele de heróis, monstros e deuses. Minha curiosidade em relação aos mitos de todas as partes do mundo, possibilitou conhecer novas histórias e criar o universo "O Andarilho Sombrio", que nada mais é do que um mundo onde todas as mitologias co-existem, histórias, cuja ambientação esta ligada a períodos reais da história humana e heróis com habilidades capazes de atravessar gerações. Então ajeitem-se na sua poltrona e preparem-se para conhecer os mitos mais famoso e obscuros da humanidade através do olhar do Andarilho Sombria. Afinal: "O andarilho continua sua peregrinação, porque ele não possui um lar, porque ele está aqui e ali, porque ele sempre esteve aqui. Isso é o fim... ou talvez não..." (O Andarilho Sombrio: Discípulo)
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Publicações de número 1 até 5 de um total de 5.


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