Um índio com a camisa da Osklen. Aquilo, para mim, era novo. Não a camisa da Osklen, mas o índio.
O capitalismo tem uma capacidade tal de modificar qualquer componente da paisagem, independentemente do enraizamento cultural dos seres, que a identidade de um povo vai sendo moldada por algumas marcas - que oferecem produto de vestuário como tantos outros sem glamour.
O domínio das marcas, com etiquetas que valem mais do que o uso do próprio produto, foi capaz de viciar tanto o pensamento da sociedade moderna que os índios - mesmo vestidos à caráter - todo domingo pela manhã na Feira Hippie da Afonso Pena, em Belo Horizonte, não são eles mesmos.
E usar a camisa da Osklen não é o único motivo para isso.
Adaptação é diferente de modificação. Adaptar é ser o mesmo usando os novos recursos.
O índio com a camisa da Osklen e atualizando o Instagram enquanto vende seu artesanato típico não é um índio.
É uma figura caricata da cultura indígena. E friso: não há nada de errado nisso, como pessoalmente admito uma vida que nada lembre minhas raízes italianas.
O novo índio na feira é um novo índio. É o Brasil antigo vestido do Brasil novo.
Não é o mesmo.
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(danielpolcaro@me.com)
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