Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
O Morto que Pensava Estar Vivo
Melio Tinga

O Morto que Pensava estar vivo

Foi na madrugada de 29 de Junho de 2054 que morri. Depois de uma noite muito chuvosa, e uma tarde de verão muito quente adormeci na cama enquanto lia uma Romance de um colombiano muito conhecido na literatura, era de Gabriel Garcia Marquez que nasceu a 6 de Março de 1928 e terá escrito A Revoada em 1955, seu primeiro romance enquanto escritor.
Naquela madrugada estava tudo morto, não havia temperatura se quer, nem chovia, nem aquecia como de costume, depois do jantar com meu único filho fui me atirar a cama lendo o livro que encontrei próximo de uma pequena cabeceira um pouco distante da cama onde todas noites deitava-me. A noite havia sido também calma, depois de algumas horas de trabalho, passeei com o meu menino de 14 anos e poucos, voltamos para casa um pouco tarde, por volta das 20 horas, e jantamos.
- Até amanha, filho! Disse, eu.
- Até! Respondeu o menino.
Li o livro durante cerca de trinta e quatro minutos e depois disso adormeci e acordei já morto por volta das cinco, quando meu filho vinha acordar-me porque não era meu normal até aquela hora não ter acordado, balançou-me como um prato de caril, deitou-me agua fria na cara, chamou vizinhos para ajudarem-no, mas em vão. Eu já estava morto e sentia minha alma a flutuar e meu corpo ali deitado como galo que repousa para eternidade.
Já eram 7 horas e 23 minutos quando uma ambulância chegou vindo do Hospital Central de Maputo para socorrer, para mim tudo aquilo parecia o mesmo que procurar chifres num galo, porque eu já era um cadáver, e um verdadeiro cadáver é um verdadeiro morto e isso não se pode negar. Levaram-me na maca, tentando de tudo para me devolverem a vida e meu filho deitava lágrimas seguindo os médicos aflitamente,
- Não se preocupe, nós vamos fazer de tudo para devolver seu pai a vida! Diziam.
Mas se a morte, a morte sincera e verdade havia chegado porque eu havia de voltar a vida, depois de ter nascido em 1994 no mesmo dia de minha morte, já havia muito visto; outros a morrerem por acidentes, outros por espancamento, outros por suicídio, e a minha havia sido a mais natural morte de todas que eu havia presenciado até antes daquela madrugada sem temperatura própria.
Estava já na sala reanimação. Mas seria trabalho sem retorno, eu sabia. Estava morto, para quê tanto sacrifício por um morto, para quê os médicos mais experientes e mais profissionais uniam-se para salvar-me uma vida já levada? Passaram três horas e quatro minutos, os médicos estavam todos com fios de suor escorrendo pelos rostos, haviam usado todas formas para me por a viver, mas eu já havia vivido o suficiente.
- Ele ... faleceu! Disse um dos médicos a minha mãe que já devia ter 79 anos de sua pouca idade.
Ela olhou com sensibilidade para o médico, parecia não ter se surpreendido com a informação. Deixou uma lágrima para limpar a dor e levantou-se saindo do hospital.
Depois de três dias o funeral estava pronto, havia certificado que eu estava mesmo morto e todos exames não revelavam nada sobre o motivo de minha morte, e para não plantar dor em minha família decidiram tratar do enterro sem mais cerimoniais.
No quarto dia, mesmo sem homenagens de heróis (porque não era), pela manha passei da igreja pelo período da manha e estava dentro da caixa mortuária que haviam comprado com o pouco dinheiro que ganhava honestamente.
- Em nome do Pai, do filho e do espírito santo. Amem! Abençoo o padre.
E levaram-me imediatamente por volta das 14horas para o cemitério, oraram, choraram, rezaram, eu ai no caixão adormecido eternamente, sem nenhuma temperatura, estava com a pele toda fresca e pálida como estátua de herói. O padre abriu a tampa da parte superior da caixa mortuária e parecia que os choros pioravam quando olhavam para meu rosto sereno e adormecido.
- Vá em paz. Disse no silêncio o meu menino, e eu pretendia dizer-lhe o mesmo, mas não podia ele me ouvir; eu era um morto.
E o caixão foi abaixo, atirado com areia e poucos minutos depois, já tinha minha campa, com uma montanha de areia creme e avermelha. E uma placa, com meu nome e data do meu nascimento e morte: 29 de Junho de 1994- 29 de Junho de 1954. Desapareceram todos.
Estava sozinho sentado num lugar desconhecido, e de longe uma mulher vinha ao meu encontro, vinha correndo como corpo perdido a procura de sua alma, era minha esposa ao meu encontro. Havia morrido logo que soube que também morri, em Portugal onde trabalhava a cinco meses, e me abraçou com seu corpo quente como se fosse a primeira vez que nos encontrávamos, me beijou no rosto e me abraçou novamente sem deixar sobrar se quer um milímetro de distancia entre nossos corpos, e senti como se realmente tivesse ressuscitado para a vida e tivesse viajado para Portugal ao encontro de minha amada, eterna.

Mélio Tinga

Número de vezes que este texto foi lido: 52822


Outros títulos do mesmo autor

Contos O Morto que Pensava Estar Vivo Melio Tinga
Poesias Encontros Marcados Melio Tinga
Poesias Encontros Marcados Melio Tinga
Poesias Poesas Melio Tinga


Publicações de número 1 até 4 de um total de 4.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 69060 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57962 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 57607 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55879 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55188 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 55146 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 55026 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54931 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54899 Visitas
Coisas - Rogério Freitas 54883 Visitas

Páginas: Próxima Última