… O chefe de polícia começou a folhear o livro e a cada página que virava, seus olhos arregalavam mais ainda. Olhou para Nênia que permanecia calada e inerte na cadeira, chamou Bruno e lhe mostrou algumas figuras macabras que apareciam em certas páginas. Bruno a cada figura que via, se benzia e repetia “nos guarda pai”, como querendo proteção.
O chefe de policia se deteve em um capítulo que falava do ritual onde se sacrificavam meninas com a idade de até sete anos, para se obter o rosto e o corpo sempre jovens, e uma vida longa; seu coração disparou! Veio à sua lembrança, os sete corpos as meninas que encontrou despidos, sobre a cruz de ponta cabeça, e sem uma gota de sangue. Viegas ergueu o olhar em direção a Nênia:
- Pode me explicar o que você faz com um livro desses, em sua casa?
Nênia apoiou os cotovelos sobre os joelhos e descansou a cabeça na palma das mãos, respirou fundo, e permaneceu calada! Viegas levantou com o livro aberto, e tornou a perguntar, mostrando o que estava escrito sobre o ritual macabro de sacrificar crianças:
- Vou tornar a perguntar; porque este livro está com você?
- Quando eu resolvi deixar de ser hippie, trouxe ele comigo! Era do meu antigo guia!
- Hippie? O que vocês faziam com um livro que ensina a matar crianças e arrancar seus órgãos..., mutilando seus corpos e..., e..., só Deus sabe mais o quê?
- Nós não fazíamos nada disso! – Nênia gritou! Nós fazíamos somente tocar, cantar, uma vez e outra fumar um..., você sabe; mas matar? Isso nunca!
- Dona, este livro me diz o contrário do que você está me falando! – Viegas foi enfático;
- Eu só sei que quando a velha deu este livro a Bile, ele come...
- Que velha? Quem é esse Bile? – Interrompeu Viegas;
- Acho que era a sua avó..., ele era o guia de nossa aldeia. Depois que ganhou o livro, passamos a ficar mais tempo dentro da mata e a invocar a presença dos “espíritos de luz”, para nos conduzir pelo caminho, que dizia ele, ser para uma vida melhor! Mas descobri ser tudo uma mentira!
- Descobriu? Quando? – Perguntou Bruno, entrando no meio da conversa;
- Quando minha mãe morreu!
Nênia começou a contar a história de como resolveu deixar de ser hippie, e passou a ler a Bíblia Sagrada. Viegas perguntou se ela era cristã, ela respondeu que visitava a igreja, de vez enquanto, mas que ainda não se convertera:
- Deixa ver se eu entendi; você deixou de ser hippie, começou a ler a bíblia mas não é evangélica!
- Sim!
- Seu cunhado é encontrado morto, de uma forma que só Deus sabe como, sua irmã e sobrinha desaparecidas e eu encontro você com um livro de magia negra nas mãos!
- O senhor está querendo dizer o que com isso?
- Que essa história está muito mal contada! Até agora, só consigo pensar que você está envolvida até o pescoço nisso tudo, e te garanto uma coisa; minha intuição não falha!
O chefe de polícia começou a rodear a cadeira onde Nênia estava sentada! Ela o acompanhava com o olhar, enquanto Bruno escrevia na pequena agenda em suas mãos. Nênia levantou-se, o chede de polícia parou à sua frente, ela cerrou o olhar para ele e falou:
- Eu estava com este livro nas mãos, tentando encontrar alguma resposta ou uma forma de salvar o meu sobrinho! - Disse ela firmemente;
- Salvar o seu sobrinho? Como assim? - Viegas ficou curioso;
- Se eu falar o que aconteceu, o Senhor vai me internar em uma clínica psiquiátrica!
- E se eu te falar o que descobri, investigando a morte daquelas sete meninas, você irá dizer que estou fantasiando! Pode falar!
Nênia então narrou os fatos para o chefe de polícia; desde quando recebeu o telefonema do sobrinho, até o momento que encontrou o livro:
- … Foi quando os senhores chegaram e estamos aqui, parados, enquanto nem eu e nem os senhores sabem onde estão minha irma e minha sobrinha, e nem eu sei se Hélio ainda está vivo ou não!
Viegas olhou para Bruno; viu quando ele fez um sinal na face, passando o polegar do meio da testa até os lábios, e em seguida, cruzando o polegar de um lado ao outro sob o nariz, formando o desenho de uma cruz:
- Que sinal é esse que você fez?
- O sinal da cruz! - Respondeu ele;
- O dedo não vai até em baixo, na altura do peito? - Perguntou Viegas, fazendo o sinal do qual falava;
- É o mesmo! - Bruno respondeu e voltou a escrever na agenda;
Viegas voltou-se para Nênia:
- Precisamos voltar na casa de sua irmã. Temos que verificar o lugar em que você encontrou esses sinais!
- Eu não vou entrar naquela casa novamente! - Disse Nênia, sentando-se na cadeira;
- Então você não quer encontrar sua família! - Respondeu Viegas.
Nênia olhou para ele; respirou fundo; jogou a cabeça para trás fechando os olhos...:
- Tudo bem! - Respondeu ela finalmente!
Nênia trocou de roupa e saiu com os dois homens...
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
… Norma quando viu a boneca parada na porta, olhando para ela com aqueles olhos flamejantes, saltou um grito de pavor e recuou, quase entrando no círculo; foi contida pela velha:
- Cuidado! Preciso de você fora do círculo! - Disse a velha com um sorriso sinistro na boca.
A velha falou algumas palavras para a boneca, mostrou-lhe o corsier, a boneca grunhiu e caiu ao chão. Rapidamente, tratou de colocá-la de volta dentro do círculo. Norma estava apavorada com tudo o que via e ouvia. Sabia que apesar da aparência na face de uma mulher de quase quarenta anos, aquela mulher não passava de uma velha. Pediu para Éster devolver Sophia para seus braços:
- Não podemos mais correr o risco de um outro atravessador tentar possuir o corpo de sua filha! - Disse ela, afastando-se de Norma;
- E o que você vai fazer? - Perguntou Norma;
- Colocá-la dentro do circulo, onde nenhum outro demônio vai poder tocá-la!
Éster já estava pronta para entregar Sophia para a mulher dentro do círculo, quando de repente, Sophia abriu os olhos e falou:
- Mamãe?
Norma que estava com a cabeça baixa, ao ouvir a filha chamá-la, suspendeu a cabeça e olhou em direção de Éster. Viu quando ela esticou os braços com Sophia, tentando entregá-la para a mãe, e correu em sua direção! Arrebatou Sophia dos braços de Éster, abraçando-a e chorando:
- Filha! Filhinha! A mamãe está aqui! A mamãe está aqui meu bem!
- Mamãe...? O que aconteceu...? Que lugar é esse...? - A voz de Sophia chegava entrecortada;
- Não aconteceu nada não meu bem! Mamãe está aqui, vamos pra casa! - Norma começou a caminhar em direção a porta.
Éster que tinha ido parar do outro lado da sala com o tombo que tomou de Norma quando ela arrebatou Sophia de seus braços, levantou-se e falou:
- Se você sair agora, sem realizar o ritual, você vai perder sua filha para sempre!- Norma parou;
- Se você levá-la, sem mandarmos este demônio de volta para o inferno, ele irá atrás dela, a onde quer que você esteja! - Disse Éster passando a mão na cabeça, no lugar da pancada;
- O que você quer dizer com isso? - Perguntou ela;
- A conexão com a boneca – Éster apontou para a boneca dentro do círculo – está momentaneamente cortada! Se você sair com a menina, ele irá atrás dela e não poderemos fazer nada longe deste centro!
- Eu prefiro arriscar, que ver vocês invocando os demônios sobre minha! - Disse Norma decidida;
- E o que você pretende fazer? - Perguntou a velha com cara de nova;
- Procurar uma igreja para ajudar minha filha!
Norma virou em direção à porta, abraçou Sophia e voltou a caminhar em sua direção. Éster olhou para a mãe e fez um sinal; ela pegou o acratóforo com o resto do sangue do coelho, e despejou sobre a boneca; a boneca começou a se movimentar como se fosse uma serpente, e abriu os olhos! Ao mesmo tempo, Sophia começou a tremeu o corpo por inteiro nos braços de Norma. Ela fez um esforço tremendo para contê-la e não deixar que caísse:
- Sophia? Querida...,o que é que você tem? - Norma olhava para a filha em seus braços.
Sophia não parava de tremer, até que ficou quieta, calma, em silêncio! Norma estava à poucos passos da porta; quando começou a caminhar novamente após ver que a filha havia se acalmado; quase a derrubou dos braços quando ela com uma voz grave e rouca, lhe perguntou:
- A onde você pensa que vai me levar?
Norma parou de supetão; olhou para a filha em seus braços; mas o que viu, foi o mesmo rosto da boneca que a olhava com os mesmos olhos flamejantes, de antes....
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
O chefe de polícia foi o primeiro a sair do carro assim que chegaram em frente a casa de Norma. Abriu a porta traseira para Nênia e esperou Bruno desligar o veículo. Perguntou se Nênia tinha as chaves da casa e ela respondeu que a porta devia estar aberta, pois quando saiu, não a trancou.
Viegas puxou o portão de ferro e empurrou a porta de madeira; ligou a lanterna e olhou para dentro da casa, parecia tudo normal! Chamou Nênia e perguntou como se ligava a energia. Mostrou o interruptor na parede, ao lado da porta, acendeu a luz da sala, e todos entraram.
Viegas perguntou em que local ela tinha visto o sobrinho pela última vez. Ela parou no pé da escada que levava ao andar onde ficava os quartos da casa. Viegas olhou a escada; bateu na madeira e verificou que ela permanecia rígida, olhou os corrimões e não encontrou vestígio de nada:
- Vamos no quarto onde você encontrou os símbolos! - Disse ele, dando o lado para que Nênia subisse em sua frente.
Bruno falou com o chefe, que iria permanecer na sala. Viegas olhou para ele, e apontou o dedo indicador em direção de Nênia que já estava no final das escada, sinalizando para ele subir também. Nênia parou na porta do quarto e não quis entrar:
- É esse o quarto? - Perguntou Viegas para Nênia;
- Hum, hum...,
Viegas segurou na maçaneta da porta e girou..., entrou devagar, pé à pé, olhando para todos os cantos do quarto. Chamou Bruno e pediu para que encontrasse o interruptor para acender a luz. Quando Bruno acendeu a luz, Viegas pode ver as marcações no piso que Nênia havia lhe dito. Tirou o livro do bolso e começou a comparar os símbolos com os desenhos no livro.
Encontrou todos eles e os seus significados. Mas ele sabia que estava faltando alguma coisa; olhou para o espelho por onde Nênia disse que as criaturas saíram (ela até o momento, não tinha informado ao chefe de polícia, que foram meninas deformadas que saltaram de dentro do espelho), e não encontrou pista alguma!
Parou no meio do quarto, olhando mais uma vez para todos os lados. De repente, seus olhos fixaram-se na cama! Caminhou até a cama e a virou; encontrou riscado no tablado a cama, como se tivesse sido arranhado, o nome de Sophia juntamente com outros. Só que de uma maneira estranha; como em uma palavra cruzada e dentro de uma “FITA ENTRELAÇADA INFINITA”*...
N
S O N I A
E M A R C E L O I
P
H É L I O
B I L I
A
A
* “FITA ENTRELAÇADA INFINITA” = Significa a vida entrelaçada, onde há sempre uma continuidade em outras encarnações. Também representa o pacto de sangue entre os novaerinos, envolvendo pessoas ou organizações. É usado para uma melhor obediência entre os aliados do movimento Nova Era.
|