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Eu fui torturado
Sequências de surras.
André Francisco Gil

Eu apanhei e testemunhei os monitores dando safanões e xingando num ataque de fúria os meus parças.Pareciam cães em cima de um pedaço de carne.
Diziam que iam deixar meu couro mais mole que o da barriga.Um negão,parecia um tanque de guerra,me deu um pontapé,me afastei,me encolhi,para não ser alvo fácil de suas investidas.
E com cumplicidade ocorreu uma sessão de catinipapos no pé-do-ouvido.Os tabefes doíam no fundo da alma além da pele.É costumeiro levar socos na boca do estômago como represália.Eu fui agredido várias vezes.Mas eu quase vi a morte quando me espancaram.
Esse comportamento era comum quando eles suspeitavam que algum moleque iria provocar uma rebelião.O vídeo que vazou e que está sendo investigado foi um parça que filmou com um celular.
Funcionários estressados e despreparados estapeavam qualquer um que desafiasse sua autoridade.
Levei um soco no olho,me desviei,mas pegou de raspão,o olho apareceu roxo e inchado.
Eu sempre era punido,não foram muito com a minha cara.
Ontem na João do Pulo eu ainda testemunhava as constantes surras.
Eu não sou santo,eu sei,tem um monitor que me batia,eu tinha vontade de amarrá-lo num colchão,jogar álcool e atear fogo.
De boa,de leve,eu tentei denunciar a unidade mas falhava.Outros internos na disputa pelo poder aprontavam pra mim.
Eu sabia que a surra era inevitável mas não sabia que estava sendo gravada dentro do respaldo.
As imagens que foram gravadas só confirmaram o espancamento.
Depois veio um parça me dizer:
-Os caras tão ferrados,as imagens foram parar na tv.
Trabalho para o promotor do Ministério Público Estadual.
Eu ouvi que ainda hoje eu vou ser ouvido novamente.Serei o centro da atenção porque vou depor.Eu vou contar os detalhes da tortura.Mesmo sob ameaça.
Tem uma sala na Casa que é pra onde me levaram.A salinha do amansa louco.
Eu não compactuava com aquilo mas tinha que suportar.A revolta crescia dentro de mim.A cada agressão eu me acuava,afastava,mas mesmo assim era torturado.Eu só de cuecas,teve um pervertido que queria me abusar.Eu reagi.Aí não.Outros imperdiram a ação do desmiolado.
As imagens da ocorrência na unidade são reais,prova descabida da motivação maldosa,banal e covarde dos envolvidos.
Agora neste instante recordando o que passei,desce uma lágrima,porque me lembro dos pontapés.Ontem fui liberado para tratamento bucal para arrancar alguns dentes quebrados.Eu que tocava o terror senti na pele.
Muitos tentaram a fuga aí o chicote estalou.
Eu que metia o louco quase enlouqueci.Domingo eu assisti o "Fantástico" e pude reviver aquele dia maldito.
Na tentativa de transferência dos torturadores alguns comparsas camuflados foram em sua defesa.Ponderaram.Acobertaram.
No entanto quando há princípio de tumulto a cotovelada come.
Até a corregedoria apurar isso os suspeitos ainda me agridem,essa noite mesmo,apanhei tanto que vomitei sangue e desmaiei.
Eu sempre fazia as vítimas mas a vítima agora sou eu.


Biografia:
André Francisco Gil poeta ipaussuense radicado na capital paulista com muita coisa escrita mas ainda engavetada.Textos editados em publicações esporádicas do interior e de alguns fanzines da vida.Almejei uma oportunidade e eis que a chance surgiu.Graças a este espaço vou ver meu poema ganhar asas.Lindo voo.
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