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Copyright© 2013 by Otaviano Maciel de Alencar Filho
otaviano maciel de alencar filho



Lá pelas bandas do sertão setentrião cearense, por volta dos anos cinquenta, existia um fazendeiro de nome Valadares, ou simplesmente, “coroné Valadares”. O tal “coroné Valadares” era um homem rico, proprietário de vários imóveis na região.
De boa índole, porém muito intempestivo e rude no falar, muitos que se achegavam a ele tremiam de medo, e quem não segurasse a vontade de urinar fazia o serviço ali mesmo na sua frente, tamanho era o temor que ele provocava nas pessoas.
Em sua fazenda, os trabalhadores morriam de medo, quando ele chamava algum deles para conversar sobre os resultados dos trabalhos realizados em sua propriedade.
D. Marilena, sua esposa, era uma donzela de vinte e três anos de idade, enquanto Valadares já beirava os cinquenta. Muito discreta e amável para com todos os colaboradores da fazenda, por diversas vezes interferira em favor dos trabalhadores, garantindo-lhe enorme prestígio junto a eles.
O fato é que Valadares era homem viril e bastante namorador. Desde sua mocidade muitas moças deixaram-se levar por seus galanteios; talvez muito mais interessadas em sua herança, - já que ele era filho único e, portanto, herdeiro direto de seu pai que, aliás, quando morreu deixou toda fortuna para ele -, do que propriamente pensando em um relacionamento baseado em laços afetivos.
Esse modo de viver o acompanhou por toda sua existência. Por isso mesmo, era um homem que desconfiava veementemente da fidelidade conjugal de sua atual esposa, que, diga-se de passagem, era a terceira mulher com a qual o coronel contraíra matrimônio. Porém, nem mesmo com todo cuidado e vigilância intensiva deixou de ser traído pelas duas ex-esposas. Em nenhum dos relacionamentos teve filhos.
Coronel Valadares contava com o auxílio de seu fiel confidente, o capataz Julião, que trabalhava para ele desde o seu primeiro casamento. Julião tinha como principal incumbência vigiar todos os passos de suas esposas, e assim averiguar se as mesmas se comportavam direito, quando saiam da fazenda para outros lugares.
- Às vezes fico com inveja do seu relacionamento conjugal com sua esposa Julião. D. Clotilde é tão leal no matrimônio, não Julião? –Interpelou.
- É coronel, não dou mole não, mantenho sempre as rédeas curtas. – Falou se gabando da fidelidade da esposa.
Mas sina é sina, e todos os cuidados tomados foram em vão. Contudo, parecia que a maldição do “chifre” havia acabado. D. Marilena em nenhum momento dos quatro anos que estavam casados demonstrara qualquer atitude suspeita relacionada à traição matrimonial. Mesmo assim, Valadares não abria mão da espionagem.
Certo dia D. Marilena disse que iria à feira comprar algumas mercadorias e não querendo pedir ao marido para ir com ela, pois o mesmo encontrava-se muito ocupado, solicitou que Julião a levasse. Valadares disse-lhe que Julião estava de folga neste dia e não poderia leva-la até o local onde era realizado o comércio hortifrutigranjeiro.
- Oh, amor, algum trabalhador pode me conduzir. Falou com voz melosa, acariciando os cabelos grisalhos do esposo.
- Não... Façamos o seguinte: eu a levarei e enquanto você realiza as compras aproveito para ir até barbearia.
-Tudo bem, vou pôr um vestido bem bonito. – Caminhou para o quarto cantarolando alegremente.
Na feira, o coronel deixou sua esposa fazendo as compras e antes de ir à barbearia, dirigiu-se a um prostíbulo que existia ali perto. Quando chegou ao meretrício deu de cara com Julião. Imediatamente os dois começaram a confabular:
- Está divertindo-se muito, hein?
- Estou sim doutor.
-Julião, hoje é sua folga, mas preciso urgente de seus serviços.
- Pois não!
Sua patroa está fazendo compras na feira, quero que você a siga e não saia de “Sua cola”.
Imediatamente o homem caminhou até o local de vendas e procurou por Marilena. Não a encontrando resolveu, então, procurar pelos arredores. Novamente a busca foi em vão. Quase duas horas depois, retornou ao salão de festas e contou para seu patrão que procurou a patroa em toda a cidade e não a encontrou.
- Tem certeza que a procurou direto, homem? Perguntou.
- Claro coronel... Só falta dá uma olhadinha lá em cima, nos quartos. – Insinuou o homem, em tom sarcástico.
Os olhos do coronel arregalaram-se e enfurecido desabafou:
- Não, não pode ser. Não a vi entrar neste lugar, contudo, suba lá e dê uma olhada, e se a encontrar, traga até a mim. Vou mostrar a ela quem é o coronel Valadares.
Numa só pisada o homem subiu os degraus, e após alguns instantes ouviu-se barulho de objetos sendo quebrados, indicando que estava havendo briga na parte de cima do estabelecimento. Minutos depois o homem desceu com uma mulher arrastada pelos cabelos e sendo esbofeteada. Valadares levantou-se, e aproximando-se dos dois exclamou:
- Pare com isso Julião, a mulher é minha, eu é que tenho de lhe dar uma lição, não você.
- Quem disse para o senhor que esta é D. Marilena? – Falou o capataz esbravejando.
Aproximando-se da mulher que estava jogada ao chão, Valadares a reconhece como sendo a esposa se seu fiel funcionário.
- E Marilena, onde ela está? Perguntou.
- Sei, lá, coroné. E eu estou com cabeça para procurar alguém. O corno aqui sou eu e o senhor desconfiando de sua mulher?
Valadares imediatamente subiu as escadas e procurou pela esposa, mas não a encontrou. Colocou a cabeça para fora da janela e olhou para baixo na rua e viu sua esposa na calçada da barbearia, gritou:
- Onde você estava mulher?
- Terminei as compras e vim até a barbearia procurar por você. Disseram-me que ainda não aparecera por aqui, então resolvi ir até o salão de beleza de D. Rocilda e fazer as unhas e, então, retornei para cá... O que fazes ai? – Perguntou curiosa.
                  - Estou descendo para lhe contar o que aconteceu e o porquê de eu estar aqui. Você não vai acreditar! – Exclamou, pensando na desculpa que daria para a esposa, aproveitando-se do episódio ocorrido no local.
Instantes depois, Valadares voltava para a fazenda, conversando com sua esposa, enquanto a confusão continuava no cabaré.


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