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Entre o Céu e a Terra - cap 1
Rayanne Oliveira

Resumo:
     Você deixaria tudo para trás para viver o desconhecido?
     E quando o desconhecido não implica apenas a uma nova família, um país diferente, e sim, em algo que pode ir além da compreensão humana?
     O que coloca a Bella entre o Céu e a Terra é o seu sangue, o seu DNA mutante, além de claro, sua capacidade de se meter em confusão. Além disso, ela terá que lidar com a nova vida, o modo suspeito dos irmãos e as surpresas que o seu sangue lhe reservam.

Capítulo 1

     
     Meus dentes batiam de nervosismo enquanto esperava minha irmã trigêmea no aeroporto.
     “Será que ela vai gostar de mim? Será que somos realmente iguais? E se ela não for com minha cara? Mas agora seremos irmãs...”, esses eram pensamentos que não saíam da minha cabeça.
     Minha vida ficou de ponta cabeça em apenas dois dias. Tudo começou quando eu esbarrei em uma moça no shopping...
“- Desculpa! – disse uma mulher de uns 40 e poucos anos.
- Não tem problema – eu disse.
- Me desculpe, por fav... – a mulher arregalou os olhos quando viu meu rosto. Sua expressão era a de mais puro espanto, de repente a mulher me abraçou fortemente e começou a chorar – Minha filha... Minha filha – murmurava a mulher por entre soluços.
- Meu amor, não é nossa filha, nossa filha Rayanne está na Europa... – disse o marido tentando tirar a esposa de cima de mim.
- Não! Ela é nossa filha! – disse a mulher descontrolada.
- Ahn... Me desculpe – eu disse afastando um pouco a mulher de mim – eu não posso ser a filha de vocês, já que ela está na Europa, não?
- Não a Rayanne... mas a nossa filha que morreu – disse a mulher.
- Não diga besteiras amor – disse o marido.
- Não são besteiras! Olhe Pablo, ela é a cara da Rayanne!
- Realmente... você é idêntica a nossa filha... mas deve ser só uma coincidência... – disse Pablo.
- Que coincidência o quê!? – disse a mulher quase entrando em desespero – É ela, eu sinto!
- Tudo bem, então vamos tirar a prova, pra ver se ela pode ser ou não nossa filha – disse Pablo – Tudo bem pra você? – perguntou.
- Tudo bem – tudo que eu menos queria era ver aquela mulher se desesperar mais.
- Qual o seu nome? – perguntou Pablo.
- Rayanne...
- O mesmo nome da nossa filha... – murmurou Pablo – quantos anos você tem?
- 19...
- Ta vendo! É ela! – disse a mulher quase pulando de alegria.
- Isso não prova nada meu amor, muitas jovens têm 19 anos... Qual sua data de nascimento?
- 17 de Outubro de 1990.
     A mulher deu um pulo e me abraçou novamente, chorando de alegria.
- É ela, é ela!!!! – gritava a mulher.
- Calma, calma - eu disse me afastando da mulher – pode ser uma coincidência...
- Coincidência?! – disse a mulher – Você é a cara da sua irmã mais velha, tem a mesma idade, nasceu no mesmo dia... Que horas você nasceu?
- Hum... meio dia e meio... eu acho.
- Ta vendo, é ela Pablo!
      Percebi pela expressão de Pablo, que ele estava se convencendo que eu era mesmo sua filha.
- Rayanne nasceu meio dia e vinte e oito, você nasceu exatamente no mesmo horário em que nossa falecida filha nasceu – disse a mulher já não se contendo de emoção.
- Mas... mas... ela não morreu? Então como eu posso ser ela? – perguntei já confusa.
- Nossa filha morreu logo após o nascimento... – disse a mulher com pesar – mas e se tiver ocorrido um erro e... e nossa filha ter sido trocada na matérnidade – disse a mulher com um olhar de esperança – Por favor, deixe-nos fazer um exame de DNA pra confirmarmos que você é nossa filha!”.
     Naquele momento minha cabeça estava a mil. Será que eu tinha passado 19 anos da minha vida com uma família que achava ser a minha? E se fosse verdade? E se eu fosse filha dessa mulher? O que deveria fazer? Abandonar quem chamo de mãe e irmãos por 19 anos e ir viver com essas pessoas que me eram completamente estranhos? O que fazer?!?!?!
     Mas quando prestei bem atenção nesses que se diziam meus pais, de fato eles pareciam bastantes comigo. A mulher tinha os cabelos volumosos e ondulados, castanhos claros e com rajadas de loiro, provavelmente queimados pelo sol, assim como os meus. Eu nunca entendera por que meus pais e irmãos tinham os cabelos lisos e eu não. Já Pablo tinha os cabelos lisos e escuros, seu nariz parecia com o meu... ambos usavamm óculos, assim como eu. Os dois eram bem bonitos e despojados.
     Topei fazer o exame de DNA, pois não queria ver mais essa mulher se desesperar. Ela ficou superfeliz, abraçou-me e encheu-me de beijos.
     Mas e se eu não fosse filha desses dois? Esse casal ficaria decepcionado, principalmente ela... com certeza ela iria sofrer muito... A propósito, seu nome é Mariana e o nome da minha mãe é Maria... seria mais uma coincidência...?
     O Pablo imediatamente ligou para uma clínica marcando um exame de DNA, por sorte conseguiu um para aquela tarde mesmo. Enquanto esperávamos dar a hora de irmos para a clínica, eu, Pablo e Mariana fomos para uma sorveteria, ali mesmo no shopping.
     Eu adooooooro sorvete, e descobri que os filhos deles também.
     Eles queriam saber mais sobre mim, então enquanto tomávamos sorvete, ficamos conversando um pouco sobre a minha vida.
“- Bom... eu estou no 3º semestre da faculdade, faço Design de Interface Gráfica.
- Que maravilha!! – exclamou Pablo – Eu sou designer! E Mariana é publicitária, juntos abrimos uma agência de Design e Publicidade.
- Sério?! – perguntei toda empolgada.
- Sim, nossa filha estuda Design de Moda em Paris – disse Mariana – e Ryan estuda Jogos Digitais no Japão.
- Sério?! Caraca velho! Eu quero me especializar em games e sempre quis ir pro Japão!!!
- Eles também estão no 3º semestre – disse Pablo.
- Que engraçado... – eu disse.
- O quê? – perguntou Pablo.
- Os três estarem no 3º semestre, porque eu pulei uma série no ensino fundamental, mas só entrei na faculdade um ano depois, que foi quando consegui uma bolsa integral na faculdade – expliquei– antes disso tinha conseguido duas bolsas, mas eram de 50%, mas não tinha como pagar os outros 50%...
- Seus pais não tinham mesmo como pagar a metade da sua faculdade? – perguntou Mariana um pouco aflita.
- Não... Meus pais são divorciados, minha mãe não trabalha e a pensão que meu pai dá é muito pouca pra três filhos... mas de boa, o importante é que nunca desisti – eu disse espantando a sombra de tristeza que pairou sobre meus olhos – consegui uma bolsa integral, trabalhei pra pagar as despesas com materiais, pagar meus cursos, enfim, vou levando como posso.
     Quando percebi, já estava nos braços de Mariana, que me apertava forte contra o peito. Senti um calor inundar meu corpo, era uma sensação tão boa, tão gostosa... uma sensação que nunca senti... quando percebi, meus braços já apertavam Mariana em um forte abraço. Sem perceber, uma lágrima correu por meu rosto.
     Não tenho esse tipo de afeto com minha família, temos um bom relacionamento, um relacionamento divertido até, só que... não gosto muito de contato físico, ou seja, sem abraços, carícias, essas coisas.
     Ficamos conversando ali por mais um tempo, até dar a hora de irmos fazer o exame.
     Eu estava um pouco nervosa enquanto aguardava na sala de espera da Clínica. Pablo percebeu isso, pois eu estava tremendo o queixo levemente, me controlando para não bater os dentes. Pablo me envolveu em um abraço bem caloroso. A princípio me assustei, mas logo me aconcheguei nos braços dele, já que não tinha a presença patérna em minha vida, sentia muita falta de momentos como esse. Não que meu pai tivesse morrido, mas ele nunca ligara para mim e para os meus irmãos, então era como se eu não tivesse pai. Pablo me falou que seus filhos quando estavam nervosos faziam a mesma coisa que eu, batiam os dentes.
     Lá na clínica nos pediram que preenchêssemos alguns dados, enquanto eu preenchia o meu formulário, Pablo deu uma olhada no meu formulário e me perguntou se meu sobrenome era mesmo Oliveira, respondi que sim, ele me falou que o da Mariana também. Não acreditei, caramba até o sobrenome?! Já não bastava eu ter o mesmo nome da filha deles, ter nascido no mesmo dia, agora ter o mesmo sobrenome?
     O resultado do exame sairia em dois dias.
     Encarar minha família depois daquele dia maluco foi difícil. Como falar pra mulher que te “pariu”, que cuidou de você desde que nasceu, que sempre esteve ao seu lado, que estava ao seu lado quando você estava doente, que passou por dificuldades para que você tivesse o que comer, que você não é filha e dela e que provavelmente a criança que ela pôs no mundo nasceu morta ou morreu logo depois?
     Tentei contar sem dar muita importância ao fato, como se fosse uma simples estória, como se fosse algo que eu tivesse visto no shopping... Minha mãe fez uma cara meio aflita, mas não deixou transparecer mais nada, então não soube dizer se aquilo mexera muito com ela ou não.
Esperar pelo resultado do DNA era angustiante, parecia que o tempo não passava. Mariana me ligava toda hora para saber como eu estava, só que pelo que percebi, minha mãe não gostava muito disso não.
     Finalmente o dia tão esperado havia chegado. Me encontrei com Pablo e Mariana na Clínica, onde fizemos o exame. As mãos de Pablo estavam trêmulas ao segurar o envelope como resultado de DNA.
- Abre logo Pablo! – apressou Mariana que já estava muito agoniada.
     Pablo abriu o envelope e percorreu os olhos pelo documento, depois de um tempo seus olhos fixaram Mariana e depois em mim, sua expressão era séria, mas logo se desmanchou em um sorriso. Imediatamente Pablo e Mariana me abraçaram, as lágrimas já molhavam seus rostos, enquanto me abraçavam e beijavam.
     Naquele momento fiquei sem reação, fiquei ali parada enquanto meus pais me felicitavam, a ficha ainda não tinha caído.
     Meus pais... agora eles eram meus pais e não tinha mais volta...
- A Rayanne vai ficar super contente com essa notícia – disse Mariana não se contendo de emoção – Ela chega hoje de Paris.
- Ainda não conseguimos falar com o Ryan, mas ele com certeza vai ficar muito feliz – disse Pablo.”
     Pra falar a verdade eu estava um pouco assustada, com medo de como seria minha vida a partir de agora, as coisas estavam acontecendo rápido demais para eu assimilar.
     Quando cheguei em minha casa acompanhada de Pablo e Mariana, fiquei mais nervosa, mas tentei disfarçar para que a situação não fosse tão tensa.
     Pablo e Marina se apresentaram e contaram sua estória para minha mãe, falaram da dor de perder um filho e da enorme alegria de depois de muitos anos encontrarem esse filho que supostamente morrerá.
- É, agora eu vou saber que dor é essa – disse minha mãe.
- Mãe, quem é a sua filha mais velha? – perguntei.
- Até dois dias atrás era você.
- Pois então mulher, vou continuar sendo sua filha oras, só que agora vou morar com outra família. Mãe não é aquela que faz, é aquela que cria, que cuida, que educa, que ama, enquanto você me amar vou ser sempre sua filha! – não pude conter minhas lágrimas, minha mãe também não, nos abraçamos. Fazia tempo que não nos abraçamos...
     Como não gosto muito desse tipo de clima fui arrumar minhas malas e chamei meus irmãos para me ajudarem. Acho que minha mãe pensou que eu estivesse desesperada para sair de casa e na verdade estava. Não que nossa relação fosse ruim, mas desde muito cedo eu tinha esse desejo de sair de casa, sempre me senti deslocada nessa família, como se não pertencesse a ela e agora essa oportunidade batera a minha porta e ela provavelmente não bateria novamente.
- Você nunca mais vai voltar? – perguntou meu irmão.
- Tá louco?! Vocês não vão se livrar de mim tão fácil assim de mim não, é claro que eu não vou embora pra sempre, eu vou vir visitar vocês, a gente pode manter contato pelo MSN, telefone...
     A despedida foi mais fácil que eu pensei, acho que foi porque ficou claro que pra mim, eles ainda iam continuar sendo minha família. E aqui estou, no aeroporto esperando minha irmã...


Biografia:
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Outros títulos do mesmo autor

Crônicas Entre o Céu e a Terra - cap 1 Rayanne Oliveira


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