Certo dia, pela manhã, quando foi à padaria pra comprar pão e leite, que seriam degustados no café da manhã, minha esposa, ao chegar ao estabelecimento comercial foi surpreendida por pequeno cãozinho, que de imediato ficou junto a seus pés.
Tendo efetuado o pagamento das mercadorias, dirigiu-se ao balcão para receber os produtos, para, então, retornar ao lar. O animalzinho acompanhou-a, seguindo seus passos. A princípio ela não observara que o mesmo a seguia. Após alguns instantes nota a sua presença. Resolve, então, voltar à padaria para saber a quem ele pertencia. Após algumas perguntas e procura nos arredores, em uma tentativa infrutífera de localizar o proprietário do cachorrinho, resolve levá-lo para casa e aguardar se alguém iria reivindicar a posse do canino.
Os dias se passaram e como nenhuma pessoa apareceu dizendo-se dono do pequenino animal, resolvemos ficar com ele. Era pequeno mesmo. De tão pequeno foi “batizado” de Pingo, e a partir daquele momento Pingo arranjara definitivamente um novo lar.
Pingo era meigo, de cor branca com rajado-marrom, olhos grandes e arregalados. Era um verdadeiro cão fiel, no sentido lato da palavra. Parecia pressentir nossos sentimentos: angústias, alegrias, dores.
Quando Pingo passou a fazer parte de nossa família já tínhamos uma cadelinha chamada Anita. Anita era alva como o algodão, inteligente, astuta, corajosa e brava, na defesa do território, quando algum estranho intentava entrar na casa sem permissão. Tal qual Pingo, uma fiel companheira. O interessante é que os dois bichanos nunca brigavam entre si, a não ser é claro quando a ração de um acabava e ia comer a ração do outro.
Meu filho Victor, que nessa época contava menos de dez anos, o elegeu como sua mascote de estimação, e quando ele voltava da escola os dois brincavam correndo dentro da casa ou no quintal. Pingo ficou muito apegado a ele, parecia que tinha nos esquecido. Só tinha olhos para ele. E que olhos!
Em determinada época, mudamos de casa. Pingo e Anita demoraram a se acostumarem com o novo ambiente, que não tinha quintal, apenas um pequeno espaço no final do imóvel que servia como área de serviço. Em contrapartida a área construída da casa era superior em muito ao imóvel no qual morávamos antes.
As brincadeiras aconteciam, agora, dentro de casa em um corredor que, saindo da sala, passava pelos quartos e ia até a cozinha e, finalmente, a área de serviço.
Lembro-me que quando chegava do trabalho, Anita percebia a minha chegada, estando eu ainda no portão e ela nos fundos da casa. Ligeiramente corria até o portão com seus latidos estridentes e o rabinho balançando, demonstrando alegria com a minha chegada.
Às vezes resolvia brincar de esconde-esconde com ela. Chegava bem de mansinho e me escondia detrás da porta de um dos quartos e gritava:
- Anita!
Imediatamente ela saia pela casa me procurando, focinhando em todos os lugares até me encontrar, quando, então, recebia alguns tapinhas na cabeça e afagos na região do pescoço, saia feliz da vida!
Porém, certo dia, Anita amanheceu triste, acabrunhada e mofina. Estava doente. Esperamos durante o dia para ver se ela tinha melhoras. Minha esposa fez um chá de boldo e deu a ela. Talvez a coitadinha tivesse ingerido algo estragado e no dia seguinte amanhecesse melhor. Era o que esperávamos, mas não foi o que aconteceu. Anita piorara. Rapidamente levei-a ao hospital veterinário onde fez exame de sangue e constatou-se que ela estava infectada com uma bactéria que era transmitida pelo carrapato. Passei o dia com ela no hospital enquanto ela tomava soro e medicação. Já no final do dia, por volta das 16hs, recebeu alta. Com o receituário em mãos passei em uma farmácia veterinária e comprei a medicação a ser administrada a ela. Chegamos a casa e a coloquei no chão e fui preparar a medicação. Quando me aproximo noto que Anita já se encontrava sem vida. Foi muito dolorosa para todos nós tamanha perda, contudo, Pingo ajudou-nos a superar esta perda. Fizemos a desinfecção do local como mandara o veterinário. Logo depois adquirimos outro cãozinho que recebeu o nome de Loopi, que passou fazer companhia a pingo. Alguns meses se passaram e Pingo foi infectado pela mesma bactéria, cujo poder letal é muito grande, vindo a falecer exatamente como Anita. Foi mais um “baque” na família, principalmente para Victor, que demorou a aceitar a realidade dos fatos. Nova desinfecção foi promovida em todo o ambiente onde os animais ficavam a maior parte do tempo. Realmente a desgraça assolara nosso lar, pois Loopi também não escapou ao mesmo destino de Anita e Pingo. E pensar que todo esse acontecido se deu devido à existência de uma “vacaria” que ficava localizada no final da rua. Os animais transitavam normalmente pela local, deixando em seus rastros os parasitas que infectaram nossos bichinhos. Eternizamos os momentos de alegrias que nos proporcionaram, em forma de lembranças, em nossos corações.
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