Sob a sombra de uma árvore qualquer,
Num dia claro, de um agradável verão,
Ante os olhos claros de uma mulher
Gravei, naquele tronco, um pequeno coração...
Tosco, rústico, e um tanto irregular,
Mas de uma beleza, assim, inebriante;
Fi-lo com carinho, sem mesmo hesitar,
Levado pela magia daquela fugaz instante...
Fui agraciado com um beijo apaixonado,
Pela minha obra, ingênua e tão singela;
E meu próprio coração ficou aprisionado
Àquela imagem, tão cativante e bela...
Foram-se anos, desde aquela passagem,
E apenas hoje, saudoso, para lá voltei;
O tempo implacável modificou a paisagem,
Mas, austera, a árvore, ali, eu encontrei...
No tronco vi, ainda, com toda nitidez,
As marcas de meu momento de loucura;
Relembrei seu perfume, a cor de sua tez,
E todos os detalhes de sua divina formosura...
Isto, contudo, é passado, está morto, acabou !
E olhando o tronco, sorri, para não chorar:
O coração que eu te fiz, árvore, inda palpita,
Enquanto o meu, calou-se, na desdita
De se entregar a quem não soube amar !...
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