Tendo falado no capítulo anterior do comportamento que devem ter os cristãos idosos, os jovens, e os servos nas relações de trabalho, Paulo começa este capítulo falando do dever da submissão dos cristãos para com as autoridades civis constituídas sobre eles (governantes, juízes, policiais etc) uma vez que tais autoridades foram instituídas pelo próprio Deus para que seja tornada possível a continuação da vida num mundo que está sujeito ao pecado.
Tais autoridades foram constituídas pelo Senhor especialmente para a punição dos malfeitores.
Ainda que alguém em posição de autoridade não honre o seu cargo, não cabe aos cristãos infamá-las porque será ao próprio Deus que eles terão que prestar contas e àqueles que estão constituídos sobre eles.
Além disso têm o dever de lhes obedecer e estarem preparados para toda boa obra, isto é, darem demonstrações práticas da sua obediência em atitudes e ações que contribuam para que as autoridades possam cumprir o seu dever.
Este dever de a ninguém infamar (falar mal de) foi estendido pelo apóstolo a todas as pessoas, e além disso é exigido dos cristãos que não sejam contenciosos, isto é, brigões, arrumadores de casos, mas ao contrário, têm o dever de mostrar mansidão para com todos os homens.
Eles não têm a missão dos magistrados de julgarem e punirem os malfeitores, mas de lhes pregar o evangelho da graça de Cristo, na expectativa de serem transformados.
Aos que estão nas prisões e penitenciárias devem pregar que caso se convertam a Cristo serão homens verdadeiramente livres e perdoados de todos os seus pecados por Cristo, ainda que tenham que pagar a dívida que têm para com a sociedade.
De um modo geral, quanto a todos que se convertem a Cristo, antes da sua conversão eram insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias cobiças e deleites, em malícia e inveja, odiosos e odiando-se mutuamente no mundo, mas desde que foram chamados por Cristo das trevas para a luz, devem fazer valer o comportamento da nova criatura que são no Senhor, e viverem nas virtudes do Espírito, nada dispondo para a carne, e não vivendo segundo o velho homem, do qual temos o dever de nos despojarmos progressivamente até que cheguemos à estatura de varão perfeito, isto é, de cristãos maduros nas coisas ordenadas por Deus ao seu povo.
Foi para este propósito que o Senhor não somente nos justificou pela Sua graça quando nos convertemos a Ele, como também, nos regenerou (novo nascimento) pela habitação do Espírito Santo, para que pudéssemos ser santificados.
O Espírito não produziu portanto somente uma transformação instantânea quando nascemos de novo (regeneração – novo nascimento), como também nos renovou e continuará renovando, de maneira que sejamos transformados a cada dia em graus maiores de graça e de glória, segundo a própria imagem de nosso Senhor Jesus Cristo, para que nos tornemos cada vez mais parecidos com Ele.
Foi para este propósito mesmo que Jesus morreu por nós na cruz, e assim, como poderão ser aprovados perante Deus aqueles que vivem de maneira a frustrarem tal propósito, especialmente se tratando do caso de cristãos?
Como podem portanto terem seu comportamento aprovado pelo Senhor aqueles que vivem na prática deliberada do pecado, se Cristo morreu justamente para nos libertar e purificar do pecado?
Ele sabe que este trabalho de purificação será progressivo pelo processo da santificação do Espírito, mediante aplicação da Palavra, mas como poderemos ser aprovados se não formos diligentes na aplicação e na busca deste alvo que Deus traçou para todos os Seus filhos?
Se a justificação pela graça tornou o cristão herdeiro da vida eterna, então os ministros do evangelho têm o dever que lhes é imposto por Deus para que afirmem com toda a ousadia, a todos os cristãos, que é portanto um dever que eles têm para com Deus o de procurarem se aplicar às boas obras, porque é isto que é bom e proveitoso aos homens (v. 7,8).
E isto nada tem a ver com promoção de debates teológicos, de discussões loucas e insensatas que geram contendas, porque são coisas inúteis e vãs; até mesmo debates acerca da própria lei de Moisés; porque a Igreja está encarregada de pregar e ensinar o evangelho da graça de Jesus Cristo para a salvação de todo o que crê.
As verdades objetivas reveladas na Palavra devem ser pregadas e serem ensinadas para serem cridas e não para serem discutidas. Afinal se é a própria vontade e boca de Deus que inspirou a produção das Escrituras, quem é o homem para discutir com Deus quanto àquilo que se refere à Sua vontade, e que Ele revelou a nós desde o céu na Sua Palavra?
A Palavra revelada nas Escrituras não é palavra de homens mas a Palavra do próprio Deus, produzida por Sua revelação, inspiração e vontade.
Desta forma os hereges não devem ser ouvidos pelos ministros fiéis, antes devem ser repreendidos numa e noutra admoestação, e depois disso devem ser evitados, porque tais pessoas estão pervertidas, e vivem pecando deliberadamente, servindo aos interesses do diabo, e por isso já se encontram condenadas em si mesmas, pelas coisas pervertidas que eles afirmam e que são contrárias ao evangelho (v. 9 a 11).
Paulo solicitou a Tito que quando ele enviasse Ártemas e Tiquico para se juntarem a ele em Creta, possivelmente para ajudá-lo a confirmar nas igrejas tudo o que ele havia ordenado, que retornasse com eles para estar junto dele em Nicópolis, porque havia decidido passar o inverno naquela localidade, não para fugir do frio, porque este nunca foi o estilo do apóstolo, a saber, o de fugir de qualquer tipo de dificuldade, mas porque certamente deve ter encontrado uma porta aberta para a pregação do evangelho naquela localidade (v. 12),
Ele fez uma recomendação especial para Tito quanto ao cuidado que deveria ter em receber com apreço tanto a Zenas que era um mestre da lei, quanto a Apolo, de maneira que nada lhes faltasse na hospitalidade que deveria ser dada a ambos (v. 13).
Paulo dava sempre honra a quem era devido honra, por ver que tais pessoas estavam efetivamente a serviço do evangelho.
Ele era o Moisés do Novo Testamento que tinha um desejo sincero que todos fossem usados como profetas, mestres, evangelistas, no serviço do evangelho, porque visava exclusivamente à glória do Seu Senhor, e não buscava nenhuma glória para si mesmo, da mesma forma que Jesus em tudo procurou glorificar somente ao Pai em Seu ministério terreno.
Tito deveria aprender a se aplicar às boas obras, nas coisas necessárias, para que tivesse fruto espiritual no trabalho que realizava para o Senhor, assim como todos os cristãos (v. 14). Não é portanto apenas dever do pastor se aplicar á obra do evangelho, porque Cristo tem imposto tal dever a todos os cristãos.
Finalmente, Paulo encerrou a epístola dizendo a Tito que todos os que se encontravam com ele lhe saudavam, e que Tito deveriam saudar a todos os que lhes amavam na fé. Veja que este amor não é carnal, mas o amor que opera pela fé, que é fruto dela nos corações, conforme produzida pelo Espírito na nossa santificação.
Paulo desejou também que a graça de Jesus fosse com todos os cristãos de Creta, porque sem a força da graça, nada do que ele havia ordenado anteriormente nesta epístola, é possível de ser vivido e praticado (v.15).
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