Nós faremos uma breve reflexão acerca do assunto em título, a partir de uma também breve exegese de determinados textos bíblicos.
A - Mateus 26:41: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.”
O “pronto” neste texto vem do grego protumos que significa prontidão, voluntariedade, e não preparo. Então não se deve pregar que o espírito já está preparado, aperfeiçoado, nesta passagem, mas que está em prontidão de vigilância, contra a fraqueza da carne.
Este texto nada tem a ver, portanto, com preparo para o exercício do ministério, porque não era a isso que nosso Senhor estava se referindo nesta passagem, quando ordenou a Pedro, Tiago e João, que vigiassem para que não entrassem em tentação, quando se encontravam em sua companhia no jardim do Getsêmani.
B - Tito 3:1: “Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra,”
A palavra pronto neste texto vem do grego hetoimos, que significa preparados, como também se vê em II Tim 2.21; I Pe 3.15. Então, diferentemente de protumos em Mt 26.41, não indica prontidão, voluntariedade, senão estar devidamente qualificado, aperfeiçoado para determinado fim, no caso citado no texto, para toda boa obra. Há então uma necessidade de ser preparado para poder realizar tais boas obras. Isto virá no tempo, até o amadurecimento do cristão pelo Espírito, por obediência e consagração pessoal a Deus.
C - 2 Timóteo 3:17: “a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.”
A palavra habilitado deste texto vem do grego exartizo que significa completado, terminado, suprido com perfeição. No contexto imediato é visto que este trabalho é realizado pelas Escrituras Sagradas, que sendo aplicadas à vida pelo Espírito, produzirão no tempo apropriado, este efeito de amadurecer o cristão para a obra de Deus.
D - Ef 4.11-13: “11 E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres,
12 tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;
13 até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo;” (Ef 4.11-13)
Há um tempo de amadurecimento para a ordenação ao ministério, seja ele qual for, e este amadurecimento é indicado pelo momento em que se chega à medida da estatura da plenitude de Cristo, quando o homem espiritual está completo, pelo pleno conhecimento do Filho de Deus. E esta maturidade vem no corpo de Cristo por se submeter ao trabalho dos apóstolos, dos profetas, dos evangelistas e dos pastores e mestres, que são levantados por Deus para a realização deste trabalho de aperfeiçoamento dos santos.
E - I Tim 3.10: “E também estes sejam primeiro provados, depois exercitem o diaconato, se forem irrepreensíveis.”
É dito neste texto que os diáconos, tanto quanto os pastores, devem antes ser provados, ou seja, examinados, para serem achados irrepreensíveis, a saber, sem falta alguma para o exercício do ministério. Não se deve ordenar portanto quem não esteja pronto, depois de ter sido provado e aprovado pelo Espírito, quanto a estar amadurecido ou não, em condições de assumir a obra do ministério.
F - Fp 3.15: “Pelo que todos quantos somos perfeitos tenhamos este sentimento; e, se sentis alguma coisa de modo diverso, Deus também vo-lo revelará.”
A palavra perfeitos vem do grego teleios, que significa completos, maduros. Todo candidato ao ministério deve ter atingido tal maturidade espiritual. Ser neófito é o contrário disto. Uma vez atingido este estágio de maturidade, não se deve parar, ao contrário, porque estamos numa carreira de crescimento da nova criatura que existe em nós, pelo Espírito, que é infinita, de modo que Paulo disse anteriormente a este versículo o seguinte:
“8 sim, na verdade, tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo,
9 e seja achado nele, não tendo como minha justiça a que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé;
10 para conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição e a e a participação dos seus sofrimentos, conformando-me a ele na sua morte,
11 para ver se de algum modo posso chegar à ressurreição dentre os mortos.
12 Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas vou prosseguindo, para ver se poderei alcançar aquilo para o que fui também alcançado por Cristo Jesus.
13 Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante,
14 prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus.” (Fp 3.8-14)
É necessário portanto que se esteja maduro, completo, para o exercício do ministério.
Quanto a esta palavra “completo” devemos dizer que é uma palavra muito importante e interessante, porque indica que este aperfeiçoamento não é de caráter individual, mas conjunto, conforme indicado pela referida palavra.
Esta é uma palavra composta do prefixo “com”, que significa “junto”, e a palavra grega “pleto” que significa preenchido, terminado, finalizado, pleno, amadurecido, aperfeiçoado (Lc 1.67; At 4.8; 9.17; 13.9). Isto indica então que este estar completo é realizado em união a outros. É no corpo, que é a Igreja que é realizado tal aperfeiçoamento dos cristãos, como vemos em Ef 4.15,16:
“15 antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,
16 do qual o corpo inteiro bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, efetua o seu crescimento para edificação de si mesmo em amor.” (Ef 4.15,16)
Deus está interessado no crescimento do corpo de Cristo, que é a Igreja, de modo harmônico e conjunto. Então, os ministros devem ser observados como se destacam neste conjunto de cristãos, ao mesmo tempo em que participam do convívio com eles. Devem ter o reconhecimento deles, da Igreja, e não apenas daqueles líderes que pretendam ordená-los, porque o crescimento deles deve ser notável a todos, como tendo recebido aquelas graças e dons, do Espírito, que distinguem a sua chamada para o exercício do ministério.
Então não se pode esquecer que estar completo significa estar em comunhão (com + união, ou seja unidos juntamente); e no compartilhar do mesmo pão que é Cristo (com + partilhar, que significa participar juntamente).
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