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CULTURA SEMPRE Ano 9 Nº 26
Mangaratiba, 15 de novembro de 2012
Emil de Castro

Resumo:
Cultura Sempre é uma publicação mensal da Academia Mangaratibense de Letras e Artes e tem sede na cidade de Mangaratiba, E. do Rio de Janeiro. Presidente e Editor: Emil de Castro. Email: Emil41@oi.com.br

MANGARATIBA - 1928
“É um dos passeios que os turistas farão com prazer, saindo da excitação da cidade. Mangaratiba, à beira do oceano, cidadezinha , ingênua, ainda com a sua graça primitiva, repousa os olhos e repousa o espírito. Fica no Estado do Rio”.
Este é o início de um texto escrito pelo na época famoso cronista Álvaro Moreira, autor do famoso e saboroso “As Amargas, Não...”, em 1928, descrevendo a viagem de trem da Central do Brasil à nossa cidade, e publicado no guia informativo sobre o Rio de Janeiro e seus arredores.
Com destaque para apenas cinco cidades: Petrópolis, Niterói, Teresópolis. Friburgo e Mangaratiba.
O guia chamava-se “Os Guias Verdes do Brasil” e era o informativo de turismo, por excelência, na época.
Com este registro, “Cultura Sempre” presta sua homenagem ao povo mangaratibense, no ensejo da passagem dos seus 181 ano de emancipação político-administrativa, ou seja, a elevação de sua condição de freguesia à elevada condição de Vila, o que na época tinha grande significação, pois representava a criação de uma câmara municipal, constituída por vereadores eleitores por sua população.
Com isso ainda temos a esperança de que nossa cidade recuperará sua graça primitiva de uma cidadezinha ingênua, à beira do oceano, distante da violência que apavora nos grandes centros urbanos.
               ***
“Envelhecer: imposto sobre a renda...”
                 Álvaro Moreira
               ***
“Quebrou a vida para ver o que tinha dentro. Tinha o amor e tinha a dor”

               Álvaro Moreira

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    EXPOSIÇÃO: 181 DE MANGARATIBA

A FUNDAÇÃO MÁRIO PEIXOTO, em comemoração aos 181 de Mangaratiba, está expondo no Solar Barão do Saí um acervo original, constituído de jornais, revistas, ilustrações, mapas, livros e reproduções de quadros do grande pintor José Pancetti.
A hemeroteca e outros documentos, em sua maior parte é de propriedade do escritor Emil de Castro, editor deste “Cultura Sempre” que se associa às homenagens prestadas ao Município de Mangaratiba.
A exposição foi montada pelo Diretor do Museu Municipal, Luciano Heffner e pelo Curador do Salão de Exposições, artista plástico Jorge Nathureza, membro da Academia Mangaratibense de Letras e Artes.
A exposição poderá ser vista até o final do mês de novembro, quando será substituída por outra exposição.
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POESIA ETC
                                           O Bêbado e a Metáfora          
                                                        Emil de Castro


O bêbado viu a lua na poça d’água.
Ele se viu lindo e imortal.
Era um bêbado dançando numa corda que se estendia entre o mar e o céu.
O bêbado amou sua fantasia de arlequim
no cristal da poça d’água
e viu sua alma bêbada dançando sobre a cidade.
Nem percebeu que ele era uma ilusão,
puro delírio de um poeta
e mergulhou em busca de sua beleza
e não se encontrou do
outro lado da vida.
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SUGESTÃO DE LEITURA
“O Tombadilho”, de Renard Perez, segundo Armindo Pereira, “responde a todas as exigências específicas do conto. Nele, o contista atinge o ápice da sua vocação. Um livro que pode servir de modelo às últimas gerações de contistas, novas e novíssimas. Manifestamente revolucionário, pleno de legitimidade artística e de validade, nele se encontra um conto perfeito, intitulado “Os Óculos”.
É, portanto, a nossa sugestão de leitura para aqueles que ainda não conhecem a obra desse excelente contista brasileiro.
Na literatura brasileira, há uma obra-prima com técnica semelhante a de Renard Perez, ao escrever “Os Óculos” e que merece uma atenção especial de nossos leitores: “Labirinto”, de Marques Rebelo.
Não se trata de uma publicação recente, pois o livro foi publicado em 1961.
No entanto, como ainda continua pouco conhecido pelas novas e novíssimas gerações, como a maioria de excelentes escritores brasileiros que foram colocados no limbo.
Afinal de contas, nem só de Machado de Assis vive a nossa literatura.

“Um Crime”, de Plínio Bastos

Aproveitando o embalo, sugerimos a leitura de um pequeno romance chamado “Um Crime”, de um escritor importante na história literária de Mangaratiba, pois aqui ele encontrou inspiração para a maioria de   suas obras.

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POESIA ETC & TAL

Taj Mahal

       Lívia Campos de Souza

Um príncipe hindu, Shah Jahan, se apaixonou por uma encantadora princesa
E lhe deu o nome de Mumtaz Mahal - a eleita do palácio.
Após a morte da amada, consequência do 14º parto,
Outro palácio foi construído por 20 mil homens, durante 22 anos
Com fino mármore da Índia;
Jade e cristal da China;
Turquesa do Tibet;
Ágata do Yemen;
Safira do Ceilão;
Corais da Arábia Saudita;
Quartzo do Himalaia;
Âmbar do Oceano Índico
E desse esplendor arquitetônico
Nasceu o Taj Mahal, a última morada do eterno amor!

O palácio inspirou poetas, músicos e pintores
Que tentaram descrever tanta magia,
Com palavras, sons e cores.

O Taj Mahal será, enquanto existir,
Uma lágrima de amor
Petrificada por muitos séculos.

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as sementes

tens na lavra do poema
a solução exata
do obscuro problema
que o cérebro maltrata

é uma pedra que lavras
com escopro e cinzel
esculpindo palavras
no branco do papel

e enquanto a pedra cortas
com a agudeza do fio
as sementes transportas
para o teu lavradio

    Reynaldo Valinho Alvarez

          ********

Poema I à mulher estéril

Vesperais maçãs
e Herodíade
a mulher intemporal
colhendo pedras
continua.

Antinéopoema VIII

Lembrança undécima
quando na tarde
as pombas lhe acodem
salvando do tédio
de ser só você
diante do espelho.

Poema III à mulher estéril

Toda ave é o limite
entre a mulher
e o aceno verde da palmeira
enquanto há vento                            
e a seta não atingiu
o pássaro
fruto imaginário                           

Ciclo IV

Das sementes
a hora translúcida
na cela tece.
rola o carretel
vazio, roda
entornando o sonho.

        (EMIL DE CASTRO)
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ARQUIVOS LITERÁRIOS


DIFERENÇA ENTRE FANTAMAS

                                               Lessing


Observo mais uma diferença entre os fantasmas dos autores inglês e francês. O espectro de Voltaire nada é senão uma máquina poética, surgindo apenas para favorecer a intriga; em si, não nos oferece o menor interesse. O espectro de Shakespeare, em compensação, é uma personagem realmente atuante, de cujo destino participamos; desperta pavor, mas também compaixão.
Esta diferença resulta, sem dúvida, da diversidade com que os dois autores encaram os fantasmas em geral. Voltaire considera um milagre a aparição de um morto. Shakespeare, um evento inteiramente natural. Qual dos dois pensa de maneira filosófica, não há que perguntar; Shakespeare, porém, pensa de maneira mais poética.


                        ***


7 de abril de 1928

“Do outro lado da cerca, pelos espaços entre as flores curvas, eles estavam tacando. Eles foram para o lugar onde estava a bandeira e eu fui seguindo junto à cerca. Luster estava procurando na grama perto da árvore florida. Eles tiraram a bandeira e aí tacaram outra vez. Então puseram a bandeira de novo e foram até a mesa, e ele tacou e o outro tacou. Então eles andaram, e eu fui seguindo junto à cerca, Luster veio da árvore florida e nós seguimos junto à cerca e eles pararam e nós paramos e eu fiquei olhando através da cerca enquanto Luster procurava na grama”.
Este é o início de “O Som e Fúria”, de William Faulkner, considerado um de seus melhores romances.



          ***
“A rima não te espreita,
Não vai teu verso avante!
Eis aqui a receita,
Toma um grande purgante.

Sai ou não sai a poesia,
Ó meu poeta sacana.
Acho que essa porcaria
Só com uma cesariana”.

Estas duas quadra, com um toque de humorismo poético, foram escritas por Plínio Bastos na primeira página de “As confissões de Félix Krull, cavalheiro de indústria”, de Thomas Mann. Um belo romance do grande romancista alemão.
       
                 ***

    TEATRO
              
        Armando de Moraes Breves

A Companhia chegou de Mangaratiba.
Os artistas, empobrecidos, hospedaram-se no teatro, no fim da nossa rua.
Era uma família de oito a dez pessoas, mais o Totó.
Fomos a todos os espetáculos.
Houve uma cena que representava os da casa voltando de uma visita.
O Totó entrou na frente, farejando os móveis, latindo.
Pegaram um ladrão no armário do quarto.
O cachorro começou a lambê-lo, a dar pulos de alegria.
Era o seu antigo dono.
Todos gostaram do moço apaixonado, que bisou muitas vezes esta canção:
“Ó minha Carabu
Dou-te o meu coração
És a minha paixão
Para mim, só tu,
Ó minha Carabu”.

Não sei se está certa.
Foi assim que a guardei.

Na noite da despedida, apareceram alguns artistas desconhecidos.
Trabalharam num ato que representava a mocidade d São Marcos matando um dragão.
Ninguém via o monstro, mas diziam que morava na represa, de onde saía vomitando lama, empestando o ar com o bafo da febre.
Depois do barulhão da luta, os rapazes voltaram com lanças e capacetes. As enfermeiras aparavam os feridos.
A Vitória, toda de branco, ia entrando no palco para premiar os valentes, quando reconheci, entre eles, alguns alunos taludos da escola.
Levantei-me e gritei:
Olhem o Antonico! A Lígia! O Palmerino!

    “O Reino da Marambaia” - 1966
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POESIA ETC

    LAGO SEM MARGENS
                                
            Para Alexei Bueno

Esta de asas exangues já não corta
o céu da vida, eis que está dormindo
nos veios esquecidos da memória.
E em veios da memória, esparzindo
um tempo que, em vãos da dor, comporta
outra memória e outra e, assim, fluindo
/escampos brancos de sutil história
pássaros breves, animais balindo
Lagos sem margens pontes levadiças
cavaleiros encantos várzeas aves
d coisas todas vãs, todas mudáveis! -

não fora a instância prima do existir,
como seria bom,também, dormir.

       Antonio Brasileiro, Bahia
            DESTA VARANDA

             *********   


BOCA           
      Astrid Cabral

livre trânsito
de vocábulos e aves
fruições e frutos.
Boca
sede de gozo e poder
pombos lhe pousam
entre os dentes ávidos
pêssegos se imolam
cindindo-lhes os lábios.
Boca
sítio de martírio
se a contragosto
de fome se fecha
ou em pânico se cala
atrás de uma mordaça.             

___________________________________________

UM CONTO DE EDUARDO BORSATO:

      A gata borralheira     

       
- A madrasta era uma peste.
- Ela a culpada.
- Culpada?
- Os maus tratos.

BORRALHEIRA
Que fazer, que fazer?
Tudo ao meu
Querido pai dizer?
Sua felicidade
Comprometer?
Que fazer, que fazer?
- Acontece que ele já sabia.
- Sabia?
- E não fazia nada.
- Não?
- E tudo sem falar nas duas irmãs postiças.

1ª IRMÃ
Passa de novo o meu vestido. Você não sabe fazer nada.
2ª IRMÃ
- Você não sabe fazer nada. A comida está horrível. Faça de novo.

- E ela? Continuava sem se revoltar?
- Ora... Conformada.
- Idiota.
- Até que um dia...
ARAUTO -    Por ordem de sua majestade, o príncipe real, fica decretada que haverá uma semana inteirinha de bailes no salão azul turquesa do palácio. Estão convidadas todas as donzelas da corte.

- Só a Borralheira não foi.
- As irmãs não deixaram?
- E também não tinha vestido. Só andrajos.
MADRINHA
- Não chore assim. Eu dou um jeito.
- Deu?
- Era uma fada.
- Deu?
- Transformou-a na mais bela donzela do baile.

MADRINHA
- Venha embora antes da meia-noite. Se não, o encanto se quebra e...
- E assim foi. Só que na segunda noite...
- Ela se esqueceu da hora?
- Saiu em disparada tão grande que...                                                                                                                                            

- Perdeu um dos sapatinhos.
- Ué, você sabia?
Quem não?
Aí, o príncipe, já apaixonado...
... Mandou que se procurasse por todo o reino a dona do sapatinho.
- Você já sabia de novo?
- Experimenta que experimenta, o sapatinho coube direitinho no pezinho da Gata Borralheira.
- O príncipe com ela se casou e ...
- Antes ela mandou enforcar o pai, empalar a madrasta, cortar a , os pés e as mãos das irmãs postiças.
... Foram felizes para sempre.
    
(Do livro “Não fadarei, não mais fadarás”)


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DO FUNDO DO BAÚ

   Crônica da Semana
           
        Maria J. Jannuzzi

Alfredo acordou com os berros da mulher:
- Menino, não adianta chorar que hoje não tem manteiga, é mesmo pão puro e olha lá. Filho de rico é que tem essas coisas todo dia!
Mexeu-se na cama, sem vontade de levantar-se. Já se havia acostumado às reclamações da mulher. Um dia era o leite, outro dia a manteiga, e a situação permanecia ruim como antes. Lembrou-se que a festa da Padroeira se aproximava. Neste dia a mulher e os filhos teriam que vestir roupa nova. Como iria fizer às crianças que dessa vez não teriam bolas de gás nem pipocas de mel? Se ao menos o patrão lhe desse um aumento? Na véspera havia escutado à hora do jantar:
- Se vire homem de Deus, pegue biscate. Otília já mandou a costureira fazer as roupas dos filhos. Até sapato novo já comprou. E os filhos dela não são melhores do que os nossos, não!
- Mas mulher, calma que vou dar um jeito. Nossa Senhora não vai querer as nossas crianças de roupa velha na procissão dela, vai?
- É nisso você está certo. Fiz até promessa pra você ser aumentado.
- Promessa, agora pegou a moda de promessa. A gente que fique à espera dos milagres, pra ver o que acontece.
Luiza tinha razão: não adiantava mesmo ficar procurando uma desculpa forçada. Naquele momento, ainda sob as cobertas quentes, resolveu o que iria fazer: Não diria nada a ninguém.
Levantou-se, enfiou a roupa e, enquanto engolia o café, contou seus planos à mulher. Luiza não concordou.
-        Tá maluco homem. Você em vez de se pegar com Deus vai procurar coisa ruim!
- Foi sonho, mulher. A gente nunca sabe...
- Deixe de história. Vá trabalhar, que é assim que se ganha dinheiro, criatura.
Na rua, Alfredo cantarolava, como há muito não fazia. Restavam-lhe apenas umas magras notas soltas pelo bolso. Tentaria a sorte, quem sabe não daria certo? Seu Joaquim, o leiteiro, sempre dizia nas suas conversas:
- Ah! Que seria das crianças se não fosse a minha fezinha!
Lembrou-se, também, da última afirmação da mulher, mas seria só aquele dia, prometia a Deus, fosse qual fosse o resultado. Afobava-se, contando o dinheiro; ao todo setenta e dois cruzeiros. Chegou-se ao pessoal como um estranho:
- Cerca tudo isso no cachorro!
À tarde chegava com as primeiras sombras. Luiza aguardava na porta da casa conversando com a vizinha:
- Ele acertou no cachorro no cachorro, dona Otília. Foi sonho.
- Seu Alfredo é mesmo de sorte. Quanto foi a bolada?
- Sei não... Lá vem ele.
Alfredo era um homem feliz. Caminhava rápido, cumprimentando sorridente aos passantes, trazia pela mão uma criança e na outra um maço de dinheiro.
            
              ..........
                                        NOTA DA REDAÇÃO:

Esta crônica foi publicada, no jornal do Ginásio Mangaratiba “O Marimbondo”, nº 109, em 6 de outubro de 1962, na “Página da Normalista”. A autora era na época a normalista Maria José Jannuzzi, hoje é uma professora aposentada. Seria, sem dúvida, uma boa cronista. Não sabemos se ela continuou escrevendo crônicas, ou talvez contos. Somente a mesma poderá dizer alguma coisa sobre o assunto. EC.


          







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Ensaios CULTURA SEMPRE Ano 9 Nº 26 Emil de Castro


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