Antes de falar dos mocinhos e vilões da vida real, vou dar uma mexida no balaio dos gatos. Depois de acordar no sábado, e começar ler as notícias na internet, me senti chegando de outro planeta. Com exceção da meteorologia, para aonde o meu mouse me levasse o assunto era o final da novela “Avenida Brasil”.
Muitos psicólogos se debruçam sobre essa religião chamada “novelas da Globo”. Todos tentam explicá-la de algum modo. Especialmente nos grandes centros, onde as opções de lazer são maiores. Nas entrevistas, a constelação de grandes atores brasileiros, deixa clara sua preferência pelo teatro. Televisão fica em segundo plano.
O programa “Starte” do canal por assinatura “Globo News”, fez uma série de entrevistas com quatro atrizes. Agora a série é com quatro atores. Na semana passada o entrevistado foi a ator Antônio Fagundes. Que também colocou a emoção do teatro acima da televisão.
As fotos das ruas desertas de São Paulo impressionavam. Outros números impressionam ainda mais. O último capítulo da novela teve duzentos anunciantes. Foram sessenta pontos no Ibope. Na grande São Paulo, cada ponto corresponde a sessenta mil televisores ligados. Até a presidente Dilma Rousseff, andou mudando horário de comício para não perder a novela.
Fui um dos poucos gatos pingados, que não viu a novela, e nem o capítulo final. Por esse motivo, no fim de semana, sofri uma espécie de “bullying novelístico”. Não me importei muito com isso. Transformei o “bullying novelístico” em “bullying literário”.
E se “Avenida Brasil” fosse um romance escrito, você lia do começo ao fim?
Ser mocinho ou vilão faz parte da nossa dualidade. Descambamos para um lado ou outro, de acordo com quem está no comando. Nossos anjos ou diabinhos. Entre eles trava-se uma guerra interminável. E temos uma sorte danada. Quando nos olhamos no espelho, não vemos a aparência deles. Nem os métodos que eles usam.
É comum na ficção torcer descaradamente para o vilão. Dependendo do enredo até tem certa lógica. O problema começa quando perdemos a capacidade de dissociar a ficção da realidade. E nunca podemos esquecer que em cada curva do caminho de mocinhos e vilões está a hipocrisia humana.
Alguns dizem que o julgamento do “Mensalão” virou novela. No STF não existem atores. Mesmo rebuscados e com alguns disfarces os juízes são reais. Até neste ambiente nasceu um mocinho. Ele é Joaquim Barbosa. E um vilão. Ele é Ricardo Lewandowski. Ou vice-versa. Dependendo do lado e da ótica que você olhe, temos sempre um anjo e um diabinho. Nem tente fugir. É impossível. Data venia.
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