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O Plim Plim do Unibanco
José Ernesto Kappel

Sou cliente do UNIBANCO faz bastante tempo. Era um banco normal. Agora, segundo a propaganda, "até parece um banco".

Numa tarde tórrida dessas, onde, na rua, marcava mais ou menos 40 graus, fui a minha agência do UNIBANCO, onde a temperaturava marcava uns 50 graus.

O ar condicionado estava desligado ou quebrado. Assim, mais parecia um banho turco, formado por vigilantes simpáticos, gordos, flácidos, suarentos, camisa molhadinha e portando um bruto de revólver.

Você na hora que entra aperta um botão, para pegar o número de atendimento, que é dividido por classes. O Uniclass e o Popular.

Tirei duas fichas, pois se o Uniclass demorasse muito eu ia pra caixa da plebe.

O banco tinha mais gente do que funcionários. O atendimento para idosos tinha uma placa vergada ao contrário, quer dizer não tinha atendimento para idosos.

Eram 2 horas da tarde e os gerentes haviam ido almoçar. Só havia um de plantão atendendo uma fila de mais ou menos 10 pessoas.

As mulheres. Ah! As mulheres ! Todas de terninho escuro e pareciam terem saido naquela hora de um salão de beleza. Todas muito bonitas e simpáticas. Só uma coisa me chamou atenção: elas não suavam. Fiquei pensando naquilo e supus que o ar-condicionado dos funcionários era adaptado na cadeira.

Havia umas duzentas pessoas para serem atendidas e 3 caixas para atendimento. Eu pensei logo: eles são inteligentes: a economia é a base da prosperidade infinita.

Meu número era 534 e um placar piscante colocado na parede fazia a chamada . Eles estavam no número 237 na classe especial e 456 no setor popular.

Ia sacar R$ 5.000,00 reais. Mas logo veio a surpresa: para retirar 5 mil só avisando ao gerente que providenciaria seu dinheiro em 24 horas. Coisas de banco moderno.

Corri para um balcão e fiz um cheque de R$ 4.999,99, preenchi, assinei e voltei pro meu canto.

E o tempo passava, os número do placar eletrônico mudavam a toda hora.

Finalmente chegou minha vez. Um rapaz engravatado e sem um mínimo de suor, me atendeu muito gentilmente. Na hora que olhou a quantia do cheque trincou o rosto. E me disse: - Acho que não vou poder aceitar o cheque.

- Porquê? - disse eu.

- É que o banco só paga em 24 horas quantias superiores a R$ 5.000,00.

- Mas esse ai é de 4 mil e pouco - retruquei.

- Pera ai que vou falar com o gerente. E foi.

- Eu fiquei parado na caixa vendo a multidão que estava esperando me olhando com cara feia.

- O caixa chegou: O gerente mandou pagar desta vez. Mas da próxima o sr. terá que pedir o saque com antecedência.- Disse ele.

- E começou a contar o dinheiro com muita má vontade. Eu, fingindo que não estava nem ai, fixei o olhar no placar eletrônico de chamadas.

- Ele me entregou o dinheiro e, agora, falou mansamente e baixo:

- Escuta, meu sr. nós estamos com uma promoção do PLIM que dá tem sorteio todo mês, o sr. não quer participar?

- Eu disse - Não !

- Ele insistiu: Veja bem. O sr, com apenas R$ 50,00, por mês, vai ajudar o banco e vai me ajudar também. O sorteio é pela Caixa, garantido. O sr. pode ganhar milhões.

- Meu amigo, não quero saber desse negócio. Primeiro que não jogo e, segundo, muito menos acredito nesses sorteios da Caixa !

- Ele voltou à carga. Mas escuta aqui, o sr. precisa ajudar o banco !

- Eu disse: olha, seu caixa, o sr. pode contar comigo pra tudo, menos ajudar banco.

- Mas olha - disse ele, sem desistir - Nosso negócio é ajudar o banco e a mim. Garanto que o sr. estará fazendo um grande negócio...

- Como é que funciona esse negócio do PLIM, mesmo? - Disse eu, fingindo me render.

- Todo mês tem sorteio - disse alegre, abrindo um sorriso bancário - a gente vai na sua conta e tira R$ 50,00 reais por mês. O sr. não precisa se preocupar. Dai o sr. passa a concorrer a milhões, tudo garantido pelo soreteio da Megasena.

- Ah! me surpreendi - todo mês eu dou pro banco R$ 50,00 reais e concorro a milhões?

- Isso mesmo, disse ele. Não tem erro - concluiu .

Eu reparei que no caixa do lado uma funcionária, tentava passar para uma aposentada, um empréstimo. Quando mais ela dizia que não queria, que o dinheiro ia fazer falta no fim do mês, mas a moça, toda risonha, sempre insistia, com a maravilha do empréstimo e as taxas de juros, baixíssimas.

- Eu virei por caixa e disse. O sr. dá uma esperada ai. Estou coma tremenda do de barriga e vou no banheiro e na volta a gente vê o que faz.

- Tá legal. O banheiro é naquela porta - e apontou para um corredor.

Sai de mansisinho, fingindo que estava lendo um folheto, enquanto o caixa atendia um outro cliente. Me misturei na multidão e procurei a porta de saída. Quando abro a porta entra o gerente, ex-amigo meu, todo ensebado de gravata e uma camisa super brilhante. Uma maravavilha.

E ele disse: Oi, meu amigo, há quanto tempo ! Aliás precisava falar com você mesmo. O banco tá numa super-promoção do PLIM, é uma ajuda que você dá ao banco e me ajuda também.

E eu fui categórico: Vamos conversar lá na sua mesa.Dá só um tempo que eu vou lá. Agora estou com uma tremenda dor de barriga.Vou ao banheiro e já volto.

Por vontade divina, ele acreditou, e disse: tô te esperando !

Peguei aliviado a rua. Suava às bicas.

Denunciei o fato ao banco em São Paulo. Registra daqui, registra dali, telefonemas prá cá, telefonemas prá lá.

E sabem o que aconteceu á minha denúncia de coerção de funcionários com os clientes?

Sabem o que aconteceu? Nada vezes nada. É uma panela só.

E a partir de 12 de março de 2007 nunca mais entrei no UNIBANCO.

Obs.

Falo do UNIBANCO porque passei por toda essa estrepolia - os caixas e gerentes coagindo o clientes -.

Talvez, não por culpa dos caixas e gerentes, mas da oligarquia do UNIBANCO que além de pagar mal seus funcionários, ainda os obrigam a fazer coisas que normalmente não fariam.

E conversei com aposentados e clientes. Quase toda rede bancária faz isso - ou pior. Eles querem dinheiro e mais dinheiro.

Sei da uma empregada doméstica, aposentada, que chegou chorando em casa, pois, quando foi receber seu minguado pagamento, foi coagida a fazer um empréstimo de RS 1 mil reais.

O filho foi ao banco e fez o necessário escândalo, esbravejando contra os gerentes e obrigou a gerência a desfazer o negócio imposto maldosamente contra sua mãe.

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