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Imaginem todos vocês depois do esforço e estudos da graduação atuar como professores na situação educacional em que esse país se encontra: a profissão é desvalorizada, o salário não faz jus ao trabalho, não há infraestrutura, não há o devido respeito e as condições são precárias. E imaginem também serem alunos de professores que trabalham nessas condições. Imaginem ter que sair cedo para trabalhar e encarar dois turnos diários de salas lotadas para conseguir um salário satisfatório, cerca de 30 crianças ou mais (algumas fáceis de lhe dar e a maioria não) para educar e também disciplinar já que alguns pais deixam a educação dos filhos a desejar. A professora do vídeo faz isso há 25 anos. Ainda com o jeito autoritário dela já fez muito pela escola e pela comunidade e tem o seu reconhecimento. A escola sabe sim do que se passa em suas salas de aula, sabe que ela não é a única professora a tomar medidas drásticas com os alunos. Falo isso porque já acompanhei de perto alguns dias de lá há alguns anos atrás e não creio que mudou muito desde então. Ou se isso não valer ainda, que tipo de escola que tem um profissional há tantos anos no seu corpo docente e não conhece a pessoa, o seu temperamento e o seu método de ensino? Ao tirar o corpo fora e fingir que não sabe de nada essa escola só está se mostrando covarde e procura alguém para punir injustamente. Há muitos profissionais que trabalham nessas e muitas outras escolas do país que aprenderam com métodos arcaicos e ás vezes o utilizam numa tentativa desesperada de quem já está cansado. Esses já estão ou deveriam estar com os dias contados, mas ainda não se extinguiram. Apesar da grande admiração pela experiência e esforços desses profissionais não acredito que essa seja a melhor maneira de lidar com um aluno, apesar de entender o que os leva a fazer isso. Deixo claro que não apoio ou contemplo a atitude da professora, não passa pela minha cabeça fazer isso com qualquer pessoa, mas imagino que também não se passava pela cabeça dela até estar abalada o bastante para considerar a possibilidade. E qual atitude a ser tomada com alunos indisciplinados, escola omissa, alguns pais descuidados e educação falida? A quem recorrer?
O lado dos alunos é claro devem ser levados em consideração. Eles são prioridade. A educação é para o desenvolvimento deles. Mas ainda assim é preciso lembrar que nem sempre eles têm a consciência disso. Sendo assim vão para escola pelo lanche, pelos amigos, por serem obrigados e a maioria não está lá para se comportar. Sei das exceções, dos poucos tesouros que a sala de aula tem, mas garanto que não eram eles os castigados. O simples fato de esquecer o material não levaria a medida tão drástica. Imagino o que esses alunos aprontaram durante a semana, o mês e o ano. E outros desses ao longo de tantos anos. Ainda não justifica a atitude dela, mas teve lá a sua contribuição.
Entendo a revolta dos verdadeiros pais, da sociedade e do desconforto em confiar as suas crianças as escolas e saberem do que se passa lá dentro. Esses não devem se pronunciar apenas nas horas de ruins. “Educação vem de berço”. Ela deve ser construída não só dentro da escola, mas também em casa e ao longo dos anos. Penso que se os pais disciplinassem os seus filhos corretamente e participassem mais ativamente da vida escolar as coisas não chegariam ao ponto que chegam.
O objetivo do meu desabafo aqui não é defender a professora, os alunos ou atacar a escola e julgar os fatos. É apenas expor as ideias que passaram pela minha cabeça. Eu já fui e ainda sou estudante, não sou exemplar, já aprontei bastante a agora pretendo ser uma profissional docente. Sou aluna de licenciatura na graduação, pretendo ser uma professora e ao mesmo tempo em que tenho orgulho dessa profissão tenho os meus momentos de aflição ao ver os problemas e o rumo da educação. Eu sou da cidade e conheço o seu contexto. A professora é uma pessoa muito próxima e muito querida. É válido ressaltar que ela está recebendo apoio até mesmo de muitos alunos. Como já disse tive oportunidades de conhecer a escola em questão e outras muitas escolas da região e fora dela também. Portanto, para os que não conhecem os fatos que ocorrem na educação abram suas mentes e reflitam com mais cuidado antes de tomar uma decisão. Sejam mais flexíveis para pensar no dia-a-dia e as dificuldades que profissionais e alunos enfrentam uma vez que não recebem a atenção, investimento e cuidados necessários. Também ressalto que a pessoas difíceis de lhe dar, falta de educação acontece em todos os setores profissionais e até mesmo na vida pessoal. Todos com certeza já passaram ou ainda vão passar pela situação desagradável de ter que lhe dar com pessoas difíceis. Porque então essa professora está sendo punida e julgada tão severamente?
Agora aproveito a oportunidade para expor também a minha decepção com o sistema educacional desse país e a mídia que acoberta. Em um cenário com greves eclodindo em muitos setores inclusive o da educação ser essa uma das reportagens a causar tanto alvoroço é possível entender o motivo da crise na educação. O que realmente tem importância não é mostrado como se deve. A verdade é que o governo não da a importância que a educação merece. A mídia brasileira deixa de lado e acoberta as verdades das greves de professores federais e servidores públicos, repetem de forma descontextualizada números que se desmancham quando corretamente analisados de forma a criar a impressão de professores se recusam a aceitar ofertas do governo. Quantos realmente sabem o que se passa nas greves? Ela começou em maio, quanto tempo demorou para a mídia mostrar algo sobre ela? Garanto que não é a mídia que irá informá-los, ela já não tem valor. Vamos lá! Não custa nada deixar de lado os fatos que vem prontos e começar a refletir realmente, pensar e ter argumentos válidos sobre o que acontece a nossa volta e no cenário nacional.
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