Já estamos perdidos? Quero dizer, ainda há algo pelo que lutar ou ainda estamos perdidos?
Trabalhamos, nos sentamos nos sofás de domingo à tarde, conversamos com nossos pais e filhos ou estamos muito, muito perdidos? Já lemos escritores que nos fizessem pensar na vida e no valor do ser humano? Já observamos as crianças brincando na praça? Já nos demos conta hoje de como a vida é algo raro e de como é um milagre que duas sementes humanas formem um novo ser completo e pleno? Não? Então estamos sensivelmente perdidos, expostos à influência do mal, à banalização da vida, ao medo de tudo e de todos.
Viver é comum? Morrer é entediante? Então vamos lá, banalizar a vida e a morte com muita, muita criatividade!!! Salpicar tudo com muita violência, para um ótimo gostinho brutal. Vamos matar como quem passeia pelo shopping, como quem vai ao cinema! Mata-se por política, mata-se por religião, mata-se por dinheiro, mata-se por vários motivos… mas, claro, mata-se também por tédio e por prazer.
Assim segue a roleta russa da perversão humana e da inversão de todos os valores. Assassinatos em massa, tortura? Todo dia, aos montes, por favor! A mídia adora e as pessoas amam, comentam, fazem piada: filmes sangrentos da vida real!
Não está entendendo a teoria? Só olhar os jornais de hoje: o Cavaleiro das Trevas ressurgiu nasessão da meia-noite em Denver, Colorado. Doze mortos, quarenta feridos. Crianças, gás lacrimogêneo. Depois de Columbine (1999), mais uma grande atração ali por perto mesmo, no país das super-produções! Após meia-hora de uma das exibições de estreia de Batman – o cavaleiro das trevas ressurge, o tiroteio fictício misturou-se ao tiroteio real protagonizado por James Holmes, de 24 anos.
Estaria James entediado, vivendo uma vida sem efeitos especiais? Teria pensado que uma máscara de gás e alguns corpos no chão fariam dele uma lenda? É PRECISO SER UMA LENDA?
O mundo ocidental hoje poderia ser chamado de Sociedade do Espetáculo. A internet talvez tenha dado voz a tantas pessoas ao mesmo tempo, que na maioria das vezes nos sentimos apenas mais um nome na lista de contatos do Facebook, Twitter, de um chat qualquer. É preciso sobressair-se, ser alguém, aparecer. É preciso tornar a própria vida um espetáculo digno de ser visto por multidões! Ou nossas páginas na internet não são propagandas de nós mesmos?
Para James, talvez não fosse o suficiente. Ele resolveu dispôr da vida de outras pessoas para ser destaque, para eternizar-se. Não foi assim que justificaram-se outros assassinos em massa?
Perdoem-nos, mas cabe aqui uma (mais uma?) provocação: dispor da vida alheia para sobressair-se NÃO é privilégio do assassino James. Grandes políticos da História da Humanidade mandam lembranças… assim como nosso querido Barack Obama, que se diz chocado e triste com o ocorrido.
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