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Os Mortos Querem Paz
Contos de Terror
Rodrigo Magalhães Mesquita

Os Mortos Querem Paz

     Ela entrou na casa. Estava tremendo de medo. A porta rangia com o leve movimento, deixando a situação ainda mais assustadora. Estava ali por causa de uma veterana idiota, que a mandou ir ali pegar uma flor no jardim de trás da casa. O problema era que, para ir até o jardim, ela teria que passar por dentro daquela casa. Isso não seria um problema se ela não conhecesse a história daquela casa.
     Uma história de dar medo.
     Ali já havia sido a casa de um grande fazendeiro, mas este perdeu tudo na crise de 29. Então ele matou toda a sua família e seus empregados e depois se suicidou. E a história não para por ai. Logo depois um psiquiatra comprou a enorme casa e a transformou em um hospício. Durante trinta anos o hospício funcionou e nesse tempo foram criadas muitas lendas. São lendas porque ninguém nunca conseguiu provas as torturas ou experiências que eram feitas lá. O hospício só fechou por que o seu dono e diretor, um homem chamado Eduardo Vargas, faleceu no seu escritório aos oitenta anos. Ninguém sabe como ele morreu, só sabem a verdade pelo que se ouve das lendas. E nenhuma delas parecia fazer sentido. Ela achou isso quando as ouviu quando criança, mas agora estando ali elas pareciam ser muito reais.
     O cheiro de mofo foi a primeira coisa que sentiu. O lugar estava fechado havia quase cinqüenta anos. Ninguém era louco o bastante para entrar ali. Todos na cidade morriam de medo da casa. Ela estava entre essas pessoas. Porém as pessoas de fora – em sua maioria estudantes que fixam residência lá por causa da faculdade – não sentem medo daquele lugar. E era por isso que ela estava ali. A veterana que a mandou ali era de fora, então achava as lendas maluquice do povo da cidade. Então a mandou ali achando que a caloura morreria de medo. Na hora não demonstrou medo nenhum, mas agora estando ali na recepção do antigo hospício, estava tremendo de medo.
     Era noite, então tudo ali estava muito escuro. Uma lanterna era tudo o que tinha para se guiar. Via o longo corredor com as portas dos quartos e uma escada, mas – graças a Deus – não precisaria ir para o segundo andar. Só precisava seguir em frente até o jardim atrás da casa. Lá teria alguma flor que ela poderia pegar para provar que fora ali e acabar com esse trote idiota. Caminhou bem devagar, passando pelo lugar onde antigamente ficava a recepcionista. Queria andar rápido, mas seu corpo tremia tanto que não conseguia. Seus passos ecoavam no chão de madeira, com isso parecia que sempre havia alguém do seu lado. Ela constantemente olhava para todos os lados. Sentia-se em um cenário de filme de terror. Engoliu seco quando começou a passar pelas portas dos quartos. Naquele lugar ela não olhou para nenhum dos lados. Estava com medo de ver algum corpo, espírito ou qualquer outra coisa. Estava com medo de encontrar o doutor Vargas com uma faca na mão, esperando para tortura-la da pior forma possível e inimaginável. Mentalmente fazia todas as orações que conseguia lembrar. Não era uma pessoa muito religiosa, mas naquele momento isso não importava. Se conseguisse sair dali viva começaria a rever isso. Estava chegando no final do corredor. Nele havia uma porta de madeiras ornamentada. Rezava para que atrás dela estivesse o jardim. Quando estava chegando perto ouviu algo que fez o seu sangue gelar e seu coração quase parar de bater.
     Ela ouviu um grito.
     E não parecia ser um grito normal. Parecia ser o tipo de grito de uma pessoa que esta em extrema agonia. E parecia ser o grito de uma mulher. Seu corpo de repente ficou paralisado, era o medo que a impedia de se mover. Achava estranho porque, nos filmes de terror, às vezes as vitimas não conseguiam se mexer. Agora entedia o porque. Era o medo, um sentimento quase impossível de controlar. Respirou fundo e juntou coragem. Agora, mais do que nunca, precisava sair dali. A qualquer momento ela poderia ser a próxima a gritar. Obrigou o seu corpo a se mexer e a andar os poucos passos que faltava até a porta. Com a mão ainda tremendo, segurou com força a maçaneta e a abriu. Infelizmente, as suas preces não foram atendidas. A porta não dava para o jardim, mas para um escritório. Caminhou para dentro olhando para todos os lados. Havia uma enorme janela do seu lado. E ela dava para o jardim! Foi correndo para ela procurando uma forma de abri-la. Encontrou o trinco, mas este estava enferrujado demais para abrir. Procurou então alguma coisa para quebrar o vidro. Nessa altura o medo já havia sumido um pouco, estava agora focada em pegar o que tinha que pegar e sair dali. Viu que havia uma poltrona do outro lado de uma escrivaninha de madeira. Foi correndo pegá-la e foi nesse momento que ela viu, em cima da escrivaninha, um caderno velho com um nome na capa.
     Eduardo Vargas.
     “Meu Deus! Aqui era o escritório dele!” Pensou ela desesperada. Correu com a cadeira. O pensamento de fugir lhe veio a mente, mas logo ela desistiu. Com o objetivo assim tão perto, não tinha como desistir agora. Pegou a poltrona, carregando-a pelo escritório e a jogou com toda a força na janela. O vidro quebrou facilmente, com os seus cacos se espalhando por todo o lugar. Ela pulou a janela e foi para o jardim onde ficou pasma. Em um lugar onde tem anos que não entrava ninguém, como pode um jardim estar florido e bem cuidado? Era uma coisa no mínimo esquisita. Porém não era hora para ficar pensando nessas coisas. Pegou a primeira flor que viu e se virou para voltar pela janela, mas então um barulho a fez parar e se virar para trás. Foi então que ele viu uma cena que a fez correr como louca.
     Alguma coisa havia passado por dentro de uma das janelas do segundo andar. Esta coisa caiu com força no chão e permaneceu imóvel. Demorou um segundo para ela perceber que a coisa era, na verdade, um corpo humano. Um corpo que estava coberto por cortes e de sangue, porém ela ainda conseguiu ver quem era ela. O corpo era da veterana que a mandou pegar a flor. Olhou para cima procurando ver de que janela Lea caiu. Quando encontrou viu um homem de barba e cabelos pretos, pele muito pálida, olhos vermelhos e uma faca afiada na mão. Ele sorriu para ela e depois passou a faca de leve no pescoço. Vendo isso começou a correr chorando, percebendo uma coisa.,
     Ela seria a próxima.
     Correu o mais rápido que pode. Seu cérebro não queria saber de mais nada a não ser sair dali. Deixara a flor cair em algum lugar no caminho, mas isso não importava mais. O que importava era fugir daquele lugar. Quando estava chegando na porta sentiu alguma coisa entrar na sua perna. Era algo afiado e pontudo. Ela começou a mancar e o sangue a sair pela ferida. Foi o tempo de sua outra perna ser ferida. Então ela caiu no chão devido a dor. Desesperada tentou se arrastar para fora. O sangue sujava o chão de madeira velho e mofado.
Biografia:     
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Termos de uso

     Ela sentia que iria morrer ali, naquele lugar amaldiçoado. Virou-se tremendo para ver o seu atacante, mas, por incrível que parece, não havia ninguém. Pelo menos ninguém que ela conseguisse ver, pois no chão estava se formando uma palavra no chão. As letras eram feitas com o seu sangue. Então a seguinte frase se formou:
     “Os mortos querem paz.”
     Após ela ler isso, um forte vento fez com que a porta da frente se abrisse ferozmente. Com muita dificuldade ela ficou de pé e saiu da casa chorando. Por sorte havia outros estudantes na frente da casa que a ajudaram. Ela contou o que viu, mas ninguém acreditava muito nela. Achavam que a veterana – que entrara na casa para lhe pregar uma peça – havia conseguido assusta-la como queria. Porém, ao perceberam os seus ferimentos, chamaram uma ambulância e a polícia. A ambulância logo apareceu para levar a ferida ao hospital. A polícia chegou logo depois no local e entrou na casa. Além da estudante morte, havia mais três corpos de outros estudantes homens. Todos brutalmente mutilados. A noticia se espalhou pela cidade e todos ficaram apreensivos. Achavam que a estudante havia matado seus companheiros, mas logo as evidencias da cena do crime os fizeram mudar de idéia. A noticia se espalhou rápido pela cidade e as pessoas exigiam que o antigo hospício fosse demolido.
     Enquanto isso, a sobrevivente no hospital estava em estado de choque. Não importava quantas vezes os policiais fossem falar com ela, suas palavras eram sempre as mesmas. Palavras que eles viram escritas com o sangue dela na recepção do hospício. Palavras que a haviam marcado profundamente.
     “Os mortos querem paz.”


Biografia:
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Contos Conversa Entre Amigos Rodrigo Magalhães Mesquita
Contos O Pedido Rodrigo Magalhães Mesquita
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Publicações de número 1 até 3 de um total de 3.


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