NO PAÍS DAS SARJETAS
Bradam elegantes mentes
Malditos dementes conscientes
Comandantes desse regime corrupto
Que inexoráveis injetam sonhos abruptos
No povo vestido de miséria e luto.
No país das sarjetas
Tocam trombetas
Para a “nova” república obsoleta.
Nós os corrompidos na via pública da massificação
Elegantíssimos e enlouquecidos
Na verdade esquecidos.
Asfixiados numa cruel lavagem cerebral
Recebemos como gratificação
As mãos plenas de calos
O bornal aos cavalos
Aos bois – o sal!
Oh! Cruel sociedade
As crianças nos templos das praças
O tempo ferindo-as
Novas chagas se abrindo
Velhas cicatrizes se rompendo
E essa dor profunda roendo
A própria vida, dor renhida que não passa.
Até as pedras passam
Porque são mudos pássaros.
Há caminhos pelas ruas
Em cada caminho há muitos espinhos.
Na realidade crua
Os miseráveis meninos cheiram cola
E a sociedade bebendo “coca-cola”
Juntando prata para as férias
Fingindo desconhecer a miséria
Essa quimera que a alma desses meninos – esfola!
Que triste cenário!
Um Brasil de urubus e canários,
Límpidas são as almas desses meninos
Pérfidas as almas dos assassinos
Políticos, empresários – sanguinários!
Nas metrópoles há vidas sendo executadas
Todos os dias como se fossem,
Bois no matadouro.
Pessoas caminham adormecidas
De sonhos e sentimentos
Vivendo em vis tormentos
Em atrozes subterfúgios na busca do ouro!
Nos lares da pobreza
A fome é uma eterna lamentação
Mas sempre há um pedaço de esperança
Como última refeição!
Nos lares da socialite
A escória burguesa ultrajante
Esbanja em faustos restaurantes
O que poderia ser ao pobre
A água o azeite
A farinha o fermento o pão
Porém, promovem as drogas como deleite
E a indiferença como execração!
Vivemos no interior de uma quimera
Que nos devora tenazmente
Mastigando nossas incoerências
Ruminando-nos sem clemência
Para enfim, nos engolir inclemente
E conosco nossa filosofia decadente!
(Do livro "No País das Sarjetas")
www.pedroluizmeirelles.com.br
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