Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Complexo de cidade sitiada.
Conversa (des)afinada.
Alexandru Solomon

Resumo:
Perdoamos às pessoas não compartilhar as nossas opiniões.
Só não lhes perdoamos ter as suas.

Sacha Guitry


O povo unido jamais será vencido

Frase ‘curinga’.

Nada consegue estimular mais uma coletividade do que uma ameaça, real ou imaginária, a todos os seus membros. Diante do perigo, cerram-se fileiras, jorram palavras de ordem e, com bandeiras, ideológicas ou não, marcha-se rumo ao triunfo, que passa necessariamente pela aniquilação das causas do anúncio de infelicidades futuras.
De Tróia a Leningrado, passando por Carcassonne, a resistência foi a tônica.
Vez por outra inexiste a ameaça do aniquilamento. Investimos contra moinhos de vento, mas isso faz parte do jogo. É só escolher com cuidado os moinhos. Nesses momentos intervém a habilidade dos manipuladores de opinião. Criam-se perigo fictícios, inimigos imaginários, ameaças fantasiosas. Alguns exemplos?
Tomemos o caso do Sr. Jerôme Valcke que ante uma situação concreta, emitiu uma frase desastrada, insolente, nada diplomática. O famoso "coup de pied aux fesses", cujo impacto, na língua de Voltaire é bem menos agressivo do que traduzido ao pé da letra em Português.
Pronto. A honra nacional foi vilipendiada. Ultrajados, deputados, senadores ministros rejeitaram com indignação a irreparável ofensa proferida pelo 'vagabundo'. (Marco A. Garcia dixit). Pouco importa o que a motivou, o real e (quase) irreparável atraso das obras da Copa. Não contentes de chamar de vagabundo, há uma total rejeição a uma figurinha com poder de transferir a Copa para outro país. Ele não passa de um sub do sub – frase imortal de autoria do Nosso Guia ao se referir a Robert Zoellick. Outros, sem conseguir emplacar o Dia do Saci, desenvolveram interessantes teorias sobre a eficácia do nosso jeitinho, motivo de ufanismo idiota e pretexto para tranquilizar espíritos mais inquietos. Situação e oposição, juntas, estão determinadas a resistir. Resistir a quê? À realidade?
Consideremos agora a tese da desindustrialização. É bem provável que haja fundamentos para afirmar que este fenômeno ocorre, embora a participação do setor industrial esteja encolhendo também em outras economias mais desenvolvidas. Há várias causas, entre outras – e não se trata das menos importantes – a ineficiência geral devida ao custo Brasil, às deseconomias decorrentes de uma carga tributária caótica, à guerra fiscal etc. Admitir isso seria de uma rara falta de habilidade. Será preciso estimular o espírito animal do empresariado, que se compraz no espírito vegetal, parasitando, desde priscas eras, favores governamentais.
É tão mais cômodo, mais oportuno, mais prático, enfim, encontrar inimigos (sempre maldosos) prontos a devorar nossos frágeis 8 milhões e tantos quilômetros quadrados.
O mundo desencadeou uma guerra de moedas, as economias desenvolvidas prepararam um 'tsunami monetário' com o único objetivo de colocar-nos de joelhos. Mas isso não acontecerá! Vamos ensinar-lhes os princípios básicos da Economia, vamos defender (debilitando) nossa moeda! Obviamente, não seremos o rabo a agitar o cachorro, mas para uso interno, estamos reagindo. E tome medidas retiradas do grande arsenal que o ministro Mantega diz possuir. Por enquanto a quantidade de medidas servirá à Receita federal aumentar as autuações, pois a adaptação das contabilidades das empresas não será um passeio às margens do Sena. Bergson dizia que o ser humano é o único capaz de rir... do ser humano. Tá certo.
Identificamos mais um inimigo. O spread bancário. Circulam, na internet, que está sempre certa, casos como o de um indivíduo que aplicou R$ 1000 na caderneta e tomou um empréstimo de R$ 1000 no cartão de crédito. (Por que teria feito tal tolice?) Dez anos mais tarde o endividado deve o PIB do Haiti e sua poupança mal conseguiu agregar um zero à esquerda (antes da vírgula). O que fazer?
Já que a demanda interna está patinando, vamos estimulá-la. Vamos ignorar o endividamento atual (recorde) das famílias e vamos aumentá-lo (depois a gente vê) e vamos baixar os juros. Como? Ora, o BB e a Caixa diminuirão seus juros e os outros seguirão. Pode ser que os acionistas minoritários do BB não gostem da perspectiva de conviver com uma nova operação de embelezamento do balanço via recursos do Tesouro – aquele meu, teu, nosso dinheiro (acionistas ou não do BB) mas está desfraldada a bandeira. O Sr. Paulo Caffarelli já disse que os acionistas se assustam num primeiro momento, mas acabam gostando. Nada de mencionar o detalhe de ser o governo o maior sócio de todos os bancos, via a pletora de impostos que recolhe. Não existe inadimplência, não existe compulsório e essa expressão 'cunha fiscal' é uma metáfora que não se aplica. Vamos às compras baratas. Com o IPI zerado estou pensando em comprar umas três geladeiras e vitaminar a demanda.
O petróleo é nosso. Resta decidir se é melhor ficar lá nas profundezas ou virar vil metal. Sob pena de levar o rótulo de privatista, vamos deixar tudo com uma operadora, a Petrobrás, que os entreguistas cogitaram um dia de chamar PetrobraX. (X só nas empresas de Eike Batista) Se faltarem recursos? Bobagem, o Tesouro se endivida, repassa ao BNDES, e este financia a juros camaradas. O custo da operação não importa, se é para o bem de todos e a felicidade geral da nação.
Aliás, o BNDES parece dotado de recursos infinitos, estando acoplado à máquina de produzir títulos da dívida, naquela famosa operação cujo resultado ninguém sabe qual será. Há recursos para os grandes – os pequenos mal conseguem ter recursos para produzir, ou encomendar e pagar, um estudo de viabilidade nos moldes exigidos pelo BNDES. O pessoal de CUBA deve ter feito um belo estudo de viabilidade para seu porto de Mariel. Isso é geopolítica, entende, gafanhoto? Sozinho o BNDES ‘injetou’, bendita seringa, quase 300 bilhões de reais.
Mais forte que o BNDES é o nosso Fundo Soberano – ai de quem disser que se tratou do adiamento do pagamento de uma dívida. O FSB entrará na luta (ao primeiro sinal da Fazenda) e comprará dólares. Não perguntem com que dinheiro, já que quase todos os recursos estão imobilizados em ações Petrobrás e BB (a mais recente cirurgia plástica). Se preciso for, o Tesouro financia o FSB e o BC não precisará comprar tanto. Coisas de bolso esquerdo e direito.
Tudo isso para dizer que enfrentamos os poderosos. Mas será que esses poderosos eram ou são tão hostis?
"Lula enfrentou os poderosos". Momentinho, depois de eleito e reeleito havia alguém mais poderoso no Brasil?
Agora é a vez de Dilma enfrentá-los!


Biografia:
Alexandru Solomon nasceu em Bucareste (1943), mas vive no Brasil desde os 17 anos. Ao lado de uma sólida carreira empresarial, de uns tempos para cá passou a se dedicar a uma nova paixão: a literatura. Através da sua escrita nunca deixa o leitor indiferente. Um contador de histórias na velha tradição, empregando recursos que vão mostrar ao mundo em que vivemos, algo que pudesse estar perdido. Preparem-se, portanto, para uma surpresa que virá atrás da outra. Pois, Alexandru Solomon, além de humor, vai mais fundo.
Autor de ´Almanaque Anacrônico`, ´Versos Anacrônicos`, ´Apetite Famélico`, ´Mãos Outonais`, ´Sessão da Tarde`, ´Desespero Provisório` , ´Não basta sonhar`, ´Um Triângulo de Bermudas`, ´O Desmonte de Vênus`, ´Bucareste` (contos e crônicas) e ´Plataforma G`, além de vários prêmios nacionais e internacionais por sua escrita.

Este texto é administrado por: Celso Fernandes
Número de vezes que este texto foi lido: 55586


Outros títulos do mesmo autor

Cartas Premio Il Convivio Alexandru Solomon
Artigos Plus ça change... Alexandru Solomon
Artigos E as urnas falaram Alexandru Solomon
Crônicas Ababurtinogamerontes à espera de Voronca Alexandru Solomon
Poesias Como sou Alexandru Solomon
Poesias Pessimismo Alexandru Solomon
Frases Frases famosas Alexandru Solomon
Frases Incentivos, todos queremos. Alexandru Solomon
Artigos Refrescando a memória. Alexandru Solomon
Frases Políticos sem bastão Alexandru Solomon

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 178.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
Minha Amiga Ana - J. Miguel 61123 Visitas
O DESAFIO DA INCLUSÃO - Simone Viçoza 60674 Visitas
A Importância da Educação Digital no Ensino Fundamental - FERNANDO JUNIOR PEREIRA 60561 Visitas
Os Hackers, os Crackers e Nós - Max Bianchi Godoy 60415 Visitas
🔵 Noite sem fim - Rafael da Silva Claro 59282 Visitas
Jazz (ou Música e Tomates) - Sérgio Vale 59175 Visitas
🔵 Só se vive uma vez - Rafael da Silva Claro 59042 Visitas
Sete sugestões úteis para advogados: - Professor Jorge Trindade 59042 Visitas
🔴Madonna de areia - Rafael da Silva Claro 58817 Visitas
O CONTROLE É SEU - Vinicius Pereira Brito 58794 Visitas

Páginas: Próxima Última