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DOIS MORTOS NO INFERNO E UMA MORTA NO CÉU
Flavio Alves

Resumo:
Um acidente de automóvel tira a vida de Ernesto, Andrea e Maria Helena. Ernesto o pai, e a filha Andrea vão para um plano espiritual inferior e a mãe Maria Helena vai para um plano superior. No plano inferior há bastante sofrimento e Ernesto e Andrea com a ajuda de Maria Helena tentam se libertar da tenebrosa agonia.

DOIS MORTOS NO INFERNO E UMA MORTA NO CÉU

Texto: Flávio Alves

Cenário: O Ambiente é Nefasto. Existe um balanço e uma menina desolada, sentada sobre ele. O balanço balança lentamente e ela com um olhar tristonho fica olhando ao além.



PERSONAGENS: Ernesto, Andrea, Diretor


ERNESTO
Essa luz que ilumina
Que hora fica e hora vai
Entorpece o meu espírito
E boas novas me traz
Às vezes me angustia
Mas não desisto jamais.

ANDREA
Desistir é covardia
É ir buscar a realidade
Persistir é o nome certo
Isso sim é a verdade
Deixar o medo de lado
E jamais ser um covarde.

ERNESTO
Medo é símbolo de fraqueza
A dita falta de otimismo
De ir em busca dos sonhos
E não agir com pessimismo
Cruzar a linha de chegada
E adentrar no paraíso.

ANDREA
O inferno ta dentro da gente
Nas atitudes e nas ações
Na nossa falta de respeito
Nas nossas desilusões
Criamos o próprio inferno
Machucando corações.


ERNESTO
Estamos presos no inferno
Será que isso é verdade?
Com enxofre, fogo, e lama
E uma luz da crueldade?
Ou isso tudo é fantasia
Ou se não banalidade?

ANDREA
Isso não é banalidade
Também não é fantasia
Estamos aqui detidos
Vivendo nossa agonia
Neste maldito pesadelo
Ajude nós Virgem Maria.

(Música )

ERNESTO – Vai brincar minha filha, brinca, não fique assim tão triste, hoje é mais um dia que está indo embora e amanhã será um outro dia, quem sabe se o amanhã não será o dia da nossa partida, então estaremos livres deste pesadelo.

ANDREA – Brincar, brincar, brincar pra que meu pai, que adianta eu brincar se não tenho minhas amigas comigo, que adianta eu brincar se estou sozinha, que adianta eu brincar se estou sofrendo, Acorde meu pai! Será que o senhor ainda não entendeu? Estamos mortos e aprisionados neste inferno.

ERNESTO – Andrea minha filha, eu sei disso, já não sabemos o que é dia e o que é noite neste recinto, mas vamos manter a calma e acreditar na sua mãe, ela vai nos tirar daqui. O plano espiritual dela é muito mais elevado que o nosso. Vamos ter fé e acreditar.

ANDREA – Ai, ai, ai, que vida miserável! Dói minha cabeça, dói todo meu corpo, sinto uma fraqueza, tenho febre e sinto frio. O que eu fiz pra merecer tudo isso? Sei que não tenho culpa, não tenho, a culpa não foi minha, eu sou inocente. A culpa é do senhor meu pai, o senhor é o culpado por todo meu sofrimento. E agora como vamos sair daqui, me diga?

ERNESTO – Eu sei minha filha, eu sei, a culpa é minha, é toda minha essa culpa, mas pelo amor de Deus não me culpe ainda mais. Sei que errei e estou pagando por isso.

ANDREA – O senhor está pagando. Mas por que eu tenho que pagar também? O que eu fiz de errado pra está aqui? Eu não compreendo. Não fui eu que me embriaguei e causei o acidente.

ERNESTO – Aquele que não tiver erro que atire a primeira pedra. Eu sei que errei sim, sei que fui imprudente, sei que fui teimoso em não passar a chave do carro pra sua mãe Maria Helena. Aconteceu. E o que devo fazer agora? Oh Minha filha venha até aqui. (abraça-a). Pelo amor de Deus! Não me culpe ainda mais, vamos juntos tentar um jeito de achar uma saída.

ANDREA – Eu não acredito pai, eu não acredito. Isso deve ser um sonho (tempo). É isso mesmo, acho que estamos sonhando, eu e o senhor estamos ao mesmo momento dormindo e vivendo este pesadelo, e vamos acordar, e quando estivermos acordados, vamos contar um para o outro que tivemos o mesmo sonho. É isso meu pai!

ERNESTO – Eu espero que sim minha filha. Já pensei nisso também, mas é que já faz muito tempo que estamos aqui.

ANDREA – Eu já não agüento mais este sofrimento. Essa luminosidade nojenta e nefasta que não nos deixa em paz. (para um ponto de luz). Vamos, vamos, apareça pode aparecer sua luminosidade nojenta.

ERNESTO – Isso mesmo, apareça seu covarde. Nós somos vermes. Fomos concebidos e jogados no mundo. Olhem aqui, Lama!

ANDREA – Pedras.

ERNESTO – Enxofre

ANDREA – E fogo.

ERNESTO – Que lindo e belo cenário este onde fomos postos! Não sei se por nossa culpa. Mas de quem é a culpa, minha? Da minha filha? Responda!

ANDREA – Que culpa temos nós, se nascemos sem saber, gerado pela hipocrisia e posto numa sociedade de pessoas boas e pessoas más. Nós não sabíamos e não entendemos porque vimos parar no umbral, no purgatório, ou melhor, neste inferno!

ERNESTO – Deixe-nos em paz luz assassina do inferno! (efeito de luz, eles gritam e se contorcem de dor). Pare maldito, pare! Acabe comigo de vez, mas por favor deixe minha filha ela não é culpada. (Ele se aproxima da Luz).

ANDREA – Não meu pai, não! Por favor não se aproxime (Outra luz azul simboliza Maria Helena sua mulher, música).

ERNESTO - Maria Helena! É você meu amor?

ANDREA – Não, não pode ser! não é possível! Minha mãe?

ERNESTO - Eu sei que você quer nos tirar daqui, mas eles não deixam, fazem isso só pra aumentar nosso sofrimento.

ANDREA – Faça alguma coisa minha mãe, por favor!

ERNESTO – Maria Helena escute por favor. Está sendo difícil permanecer aqui. Sei que você sofre muito, e ainda está sofrendo, mas você pode nos tirar daqui.

ANDREA – Isso mesmo mãe, eu e o pai estamos sofrendo e sabemos que o erro foi dele por dirigir embriagado mas fale pra alguém aí que não fui eu que causei o acidente. (pra luz) como é mãe? Mais um pouquinho de paciência? Sempre a mesma história, sempre a mesma história (chora).

ERNESTO – Ta vendo Maria Helena! Ta vendo! Nossa filha Andrea não merece isso, ela nada fez pra ta trancafiada aqui sentindo esse maldito cheiro de enxofre. Calma minha filha, calma! Olhe pra o seu pai (se olham). Eu sei que agi errado, eu sei que você não merece está aqui e meu sofrimento maior e lhe ver pagar os meus pecados. Se eu pudesse minha filha... se seu pai pudesse... mas não posso não depende de mim.

ANDREA – Eu sei meu pai, eu sei e é melhor a gente ter calma e confiar na mãe, tenho certeza que ela vai nos tirar daqui.

ERNESTO – Oh meu Deus! Me perdoe Maria Helena. Se não fosse o meu egoísmo, minha imprudência... Você tanto que me avisou... Me lembro como se fosse hoje: Você em desespero gritava...

ANDREA - Chega Ernesto! Chega! Você já bebeu demais, temos muitos kilômetros pela frente.

ERNESTO – E você continuava a falar:

ANDREA - Vá meu amor, me passe a chave por favor.

ERNESTO - E eu com meu orgulho, meu machismo, descaradamente não te dei ouvidos. E continuei a falar.

ANDREA - Ora Maria Helena! Deixa de ser chata! Você não acredita no marido que você tem?

ERNESTO - Esse é o mal de muitos idiotas. Todo mundo sabe que a bebida alcoólica estimula e altera todo processo orgânico. Se eu tivesse escutado tuas palavras hoje nós não estaríamos aqui. (para a luz) Como é? Você já ta indo embora?

ANDREA – Mãe, por favor, pelo amor de Deus. Que a senhora vá embora, mas por favor não esqueça de tirar a gente daqui. (apaga-se a luz).

ERNESTO – Ta vendo minha filha, ta vendo? Todas às vezes é assim, já não consigo contar as vezes que ela aparece em forma de luz e sempre desaparece da mesma forma, do mesmo jeito, e nos deixa aqui sempre.

ANDREA – Calma meu pai, minha mãe não esquecerá de nós, ela também está sofrendo em nos ver aqui, mas pra a gente sair desse inferno não depende só dela.

ERNESTO – Quando vivo, li vários livros sobre o espiritismo, mas nunca pensei que fosse assim. Sei que quem pratica um erro tem que pagar, mas qual foi o seu erro filha? Por que você teve que morrer também no acidente? Porque você não ficou em casa? E além de morrer vim parar aqui! Seu plano deveria ser perto da sua mãe e não junto de mim, que fui o único culpado.

ANDREA – Eu sei que não tive culpa meu pai. Estou triste e estou sofrendo, mas estou feliz porque estou ao seu lado. Eu te amo meu pai.

ERNESTO – E eu também te amo minha filhota querida. Obrigado meu Deus por me dar este presente maravilhoso que é essa minha filha.

ANDREA – Não sei por que, mas me sinto cansando. Tenho sono meu pai.

ERNESTO – Venha até aqui deite sua cabecinha no meu colo minha querida. (Ernesto deita a cabeça da menina em seu colo e canta pra ela dormir) Ela agora vai sonhar e se encontrar com Maria Helena. (Ele transporta a menina pra um local feito uma cama). Dorme em paz minha pequena pelo menos não sentirás esse maldito cheiro de enxofre e não verás este cenário diabólico. O que devo fazer meu Deus? Me ajuda a consertar meu erro. Minha menina não errou, eu que errei. Castiga-me, castiga-me meu Deus, mas por favor liberta ela daqui, deixa que pelo menos a mãe dela possa levá-la. Minha menina é muito novinha tem apenas oito anos de idade. Acredito em ti e ás vezes não sei o que digo, mas tu sabes meu Pai. Sei que o que estou te pedindo não é nada em relação a tua grandeza, mas em nome de Jesus liberta minha pequena. É muito sofrimento pra ela. Ás vezes o barulho neste recinto é ensurdecedor, só escutamos gritos e clamores, isso sem falar da fedentina de enxofre e esse ambiente funesto. Preciso sair daqui meu senhor. Vou pagar pelo meu erro, mas liberta Andrea minha filhinha. (Andrea acorda em desespero com o sonho que teve).

ANDREA – Mãe, mãe, onde a senhora está, volte mãe, volte!

ERNESTO – Calma Andrea, calma, eu estou aqui, calma, foi só um sonho, calma querida, foi um sonho e já passou psiu, psiu, psiu.

ANDREA – Ele não deixou minha mãe falar comigo. Ele é feio meu pai, muito feio. Queria me levar mas eu sai correndo. É ele meu pai, que não deixa minha mãe tirar a gente daqui.

ERNESTO – Eu sei minha pequena, eu sei, mas confia em mim, me abrace minha filha, me abrace, eu protegerei você. Psiu, psiu, psiu.

ANDREA – Acho que agora vai ser difícil minha mãe aparecer novamente.

ERNESTO – Não Andrea, não, você ta errada minha filha. Olhe ao além: veja, há uma luz se aproximando! É sua mãe, tenho certeza que é ela, e ela veio nos tirar daqui.

ANDREA – Pobre do senhor meu pai! Já não está com o seu raciocínio perfeito. O tempo que estamos aqui presos foi o suficiente para queimar os seus neurônios.

ERNESTO – Que é isso Andrea! Tenha mais respeito comigo!

ANDREA – Não é isso, mas o senhor tem que entender que a luz da minha mãe sempre aparece na forma azul e essa luz é amarelada opaca e distante.

ERNESTO – Você tem razão minha filha, não tinha percebido isso. E vejo que distante existem pessoas.

ANDREA – Eu vejo também muito distante, mas percebo que há homens, mulheres e crianças e o ambiente é bem pior que o nosso.

ERNESTO – Nós podemos ainda andar minha filha, mas eles estão presos e acorrentados a uma cadeira. Veja aquela senhora minha filha, veja!

ANDREA – Qual meu pai? Qual?

ERNESTO – Aquela que veste branco. Pobre mulher! Sinto que ela quer falar alguma coisa mas é incompreendida, por isso se sente presa em mentiras e segredos.

ANDREA – E aquele senhor meu pai, que com muito esforço tenta esboçar um sorriso, mas seus traumas e seus anseios estão muito mais além, por isso ele também está sofrendo.

ERNESTO – Todos sentados, e cada um com os seus problemas. Eu cometi um crime, mas qual o crime que eles cometeram? Pobre pessoas que saem de suas casas pra amenizar seus sofrimentos em busca de um pouco de lazer, mas não conseguem se divertir porque se sentem acorrentadas.

ANDREA – A luz está indo embora. Será que alguém mandou essa luz pra avisar que existem lugares bem piores, que este que nós estamos meu pai?

ERNESTO – Pode ser Andrea. Analisando bem somos egoístas nunca paramos pra agradecer. O que fazemos é o de sempre, pedir, pedir, e pedir.

ANDREA – Mas como podemos agradecer se estamos neste lugar horroroso?

ERNESTO – Agradecer Andrea pelo que foi feito de bom em nossas vidas e que nunca reconhecemos, agradecer ao Pai pelas oportunidades oferecidas, às quais não aproveitamos. Se eu tivesse escutado minha querida Maria Helena, nada disso teria acontecido. (O ambiente vai ficando avermelhado. Música dandesca predomina a cena, gritos e clamores são escutados, muita fumaça toma o ambiente, efeito de luzes são utilizados, eles sentem dores e gritam. A cena vai voltando ao normal).

ANDREA – Até quando essa peste vai nos mal tratar? Vá pra o inferno sua luz assassina! Não terás o perdão de Deus coisa nojenta! Desaparece e nos deixa em paz.. Sai miserável! Sai! Sai! Sai!

ERNESTO – Não Andréa, não! Por favor não se aproxime, é perigo (corre e retira a filha). Isso que estamos passando são provações, sinto que tudo está chegando ao fim. Vai chegar nossa vez minha filha, vai chegar, acredite.

ANDREA – Acredito meu pai, acredito. Como seria bom se minha mãe aparecesse, (tempo). Que dia é hoje pai?

ERNESTO – Não sei minha filha, perdi a noção do tempo, se pelo menos tivesse a luz do sol, poderíamos não saber o dia da semana, mas pelo menos saberíamos se seria dia, ou se seria noite.

ANDREA – Quando veremos novamente o brilho do sol? Será que hoje é domingo? (sonhadora) Se hoje é domingo minhas amigas estarão se preparando pra irem á missa matinal, Aline, Solange, Leônia, todas, todas com seus belos vestidos e laços de fitas nos cabelos. E quando chegar à tarde elas irão ao parque brincar nos brinquedos, comer pipoca... Eu me dou muito bem com Aline ela entende todos os meus problemas. A Solange é boa pessoa, mas tem a mania de querer ditar normas só porque é a mais velha. Já a Leônia é muito chata e qualquer coisa fica zangada, parece mais uma leoa. Acho que por isso deram lhe o nome de Leônia... (olha o pai desolado, triste e pensativo). Pai, ô pai, pai, o senhor ta me escutando?

ERNESTO – (De súbito) O quê? Como é? Oh minha filha desculpe, você começou a falar de ir a missa, das suas amigas, do parque de diversão, e eu fiquei aqui com minhas interrogações em meus pensamentos. (olha demoradamente pra filha) Estraguei sua vida não foi minha filha? Tudo isso por causa de cinco cervejas que bebi com alguns colegas. Fiquei afoito, me senti dono da verdade. Naquela hora que sua mãe reclamava e me pedia a chave, eu me sentia humilhado e queria provar que eu estava lúcido, não pensei em você, não pensei na sua mãe, e nem pensei em mim mesmo. O meu desejo era correr, mete o pé, acelerar, se possível deixar o ponteiro no canto, mas não foi preciso, não foi preciso o ponteiro chegar até o canto, pois em alguns minutos como um relâmpago. Já não existia Ernesto, já não existia, Andréa, já não existia Maria Helena. E como um cheiro de éter no ar, restou só escuridão, trevas. E aqui estamos nós, eu e você, tudo por minha culpa. E o que mais me dói, é saber que você está pagando por algo não fez, só pelos meus caprichos.

ANDREA – Não meu paizinho! Por favor, não fique assim. O que adiantaria se eu tivesse viva, com o senhor e minha mãe distante? Eu iria sofrer de todo jeito. Pelo menos algo me conforta. Eu tenho você meu pai.

ERNESTO – Obrigado meu anjo. Deus que te ilumine. Se você sair daqui e eu tiver que ficar nunca esqueça de uma coisa, esse teu velho pai, mesmo com todos os erros te ama, acredita filha, teu pai te ama.

ANDREA – Chora não pai, por favor. (A luz azul se aproxima) Olha lá pai!!! É ela! É a mãe. Ele veio nos buscar.

ERNESTO – Maria Helena o que devemos fazer pra você nos tirar daqui?

ANDREA – Isso mesmo mãe. Tire a gente daqui e, por favor, não vá embora desta vez. Como é minha mãe? (para o pai) Pai o senhor entendeu? Ela ta falando que veio nos buscar para sempre.

ERNESTO – Mas o que deveremos fazer? Diga-nos minha querida. Ir pra luz? buscar a luz?. (Outro foco azul toma o fundo do palco eles ficam sob o foco) E agora Maria Helena? (para a filha) feche os olhos minha filha, ela está pedindo par que a gente feche os olhos. (eles fecham os olhos efeito de fumaça, música. A música é cortada com a presença do Diretor.).

DIRETOR – Ok,ok, corta! Corta! Muito bem, excelente! Veleu (diz o nome do ator) valeu (diz o nome da atriz). Agora pode fechar as cortinas.


FINAL


O texto tem registro em cartório. Quem montar, favor entrar em contato com o autor pelo fone 81- 8640-0534 – 3518-0654 – 8805-0574 ou pelo e-mail: flavioactor@hotmail.com.

     


Biografia:
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