ASSOCIAÇÃO DE MULHERES
Flávio Alves
PERSONAGENS:
Viriato
Isaura
Laura
Rosana
Nadja
Cenário (Quatro cadeiras em círculo e uma mesinha)
VIRIATO – (O Celular chama no modo silencioso). Alô bom dia! Sim sou eu Viriato da Associação de Mulheres. Qual a informação minha senhora? Bem: nossa Associação funciona das oito da manhã até o meio dia, retornando ás quatorze até ás dezessete horas. Em que eu posso lhe ajudar? Estupro? Tudo bem, a senhora pode vir, mas antes a senhora deverá conversar comigo e retornar no horário da tarde pra conversar com a Dra. Berenice nossa psicóloga. Infelizmente terá que retornar sim no período da tarde porque a Dra. Berenice tem outros compromissos pela manhã. Não, hoje não senhora, porque já está lotado, já temos quatro pessoas. Amanhã pode sim, aguarde um momentinho que vou anotar. (pega papel e lápis) Pode falar seu nome? Juliana Maria dos Santos, ok dona Juliana, amanhã sem falta ta bom? (desliga) Desculpe pessoal infelizmente não temos secretária e tenho que usar mesmo o celular, deixei no modo silencioso já pra não incomodar. Bem, vamos lá? Bom dia pessoal: meu nome é Viriato e em nome de todas as mulheres criei esta Associação. Acho que já estava na hora de procurar ajudar aquelas pobres mulheres que no dia a dia se sentem ultrajadas com essa violência que assola nosso País. De acordo com pesquisas, podemos notar que antigamente havia também violência contra a mulher, mas de uns tempos pra cá, podemos perceber que houve um grande aumento de mulheres espancadas, mal tratadas e até assassinadas. Será que esse aumento não tenha sido devido ao fato das mulheres conquistarem seu espaço na sociedade? Hoje muita coisa mudou, não só existem as Amélias. As mulheres são independentes, independentes entre aspas, pois na realidade sempre haverá o preconceito. Embora as mulheres que aos poucos conquistaram funções como: delegadas de polícia, motoristas de ônibus, gerentes de grandes empresas, e até grandes funções no cenário da política, mas mesmo assim ainda são maus vistas pelo fato de serem mulheres. Como falei: meu nome é Viriato, sou Assistente Social e na minha função estou abraçando esta causa em defesa de todas as mulheres que se sintam ameaçadas. Tenho certeza que escutando os problemas e fazendo minhas anotações, poderemos resolver alguns casos ou todos os casos dependendo da confiança de cada uma de vocês. É lógico que tudo que for relatado em nossa reunião será levado ao conhecimento da nossa Psicóloga. O importante é deixar o medo de lado e ter a coragem de denunciar, ninguém é saco de pancadas. Sei que cada uma de vocês tem dentro de si o medo, porque se falar que foi agredida ,poderá pagar com a vida, não é isso pessoal? Mas vamos deixar o medo de lado. Eu gostaria de saber quem poderia começar relatando seu problema. Uma coisa é certa, tudo que for comentando aqui, aqui ficará. Vamos ter coragem e desabafar, afinal somos amigos. Quem é a primeira, você? Então por favor sinta-se a vontade.
ISAURA – Boa noite a todos. Meu nome é Isaura. Estou aqui reunida nesta Associação, mas de ante mão posso afirmar que não está sendo nada fácil está aqui. Minha história acredito que seja uma história que muitas pessoas conhecem. Pois bem: Á treze anos conheci Itamar, um homem simples, educado, que não tinha vícios e trabalhava como pedreiro numa construtora. Ele vivia reclamando da vida porque se achava um homem pobre, até aí tudo bem, eu podia entender. Está aqui minha amiga Laura que não me deixa mentir. Pois é, depois de cinco anos que vivíamos juntos, ele conheceu dois amigos os quais não posso revelar o nome, até mesmo pela minha segurança, foi quando começou o inferno na minha vida. Quando estávamos juntos, depois de dois anos nasceu meu filho Itamar Junior. Hoje Junior meu filho tem onze anos de idade. E está cursando a sexta série do ensino fundamental. Ele às vezes pegava um carro de mão e ficava em frente de supermercados carregando frete ou catando latinhas de alumínio nos finais de semana, chegava em casa e dizia: mainha tome pra senhora comprar coisas pra dentro de casa. Eu procurava saber de onde tinha vindo aqueles 60 reais, discutia com ele e ele me falava como conseguiu aquele dinheirinho que me ajudava tanto. Mas mesmo assim não admiti meu filho trabalhando pra ajudar em casa. Independente de qualquer coisa estou de acordo com aquela frase que diz: “Lugar de Criança é na Escola,” pois é, foi isso que fiz, nunca mais permiti meu filho trabalhando nas ruas e segurei a barra confeccionando e vendendo minhas bijuterias, pois meu marido nessas alturas já se afogava no álcool e nas drogas induzido por amigos inescrupulosos. Minha casa é muito simples, mas sempre tive o prazer de deixá-la bem arrumada, mas meu marido Itamar chegava com uns amigos e bagunçava tudo jogando dominó, e eu pra ser agradável nada falava, ficava na cozinha preparando tira gosto e escutando coisas horríveis. Uma vez um dos colegas do meu marido acendeu um cigarro de maconha na sala e eu fui intervir devido o cheiro desagradável, e a língua maliciosa dos vizinhos como também segurança do meu filho Junior. O mundo desmoronou a partir daquele momento. O meu marido jamais admitiu minha interferência e diante dos colegas levei vários socos presenciando meu filho estarrecido que me defendeu e levou uma surra que só um cavalo suportava naquele momento. Naquele dia pedi a separação peguei minhas coisas meu filho e fui pra casa dos meus pais que moram numa Cidade vizinha, mas nada adiantou, meu marido começou a me perseguir e a me ameaçar, até aí tudo bem, mas como eu não cedia, ele falou que se eu não voltasse pra ele, ele ia mandar uns amigos dele incendiar a casa dos meus pais. Desesperada sem saber o que fazer, voltei com meu filho, pedi pra ele deixar as drogas de lado principalmente o crack a pedra do demônio, mas ele traficava e muita gente chegava em casa a procura de comprar drogas e eu sempre protegi meu filho. Uma certa noite ele estava com uns amigos bebendo num bar, foi quando eu estava assistindo TV e meu filho estudando pra fazer prova do colégio. Quatro policiais invadiram minha casa com armas pesadas e reviraram tudo pedindo informações onde meu marido estava, ainda bem que naquele dia ele não tinha deixado drogas em casa. Só sei dizer que não foi difícil a polícia encontrá-lo. Houve troca de tiros e ele foi capturado. Eu nunca fui à penitenciária até mesmo pelo constrangimento e sei que ele quando sair vai me cobrar isso porque alguém o fez uma visita e ele falou que quando saísse ia me procurar até no inferno. Por isso estou aqui pra pedir ajuda e orientação, sei que existe a lei Maria da Penha pra proteger as mulheres, mas muitas mulheres já foram assassinadas acreditando nessa lei. O fato é que o homem agride a mulher, ela faz a denúncia e ele vai preso. E quando o mesmo se solta? Aí é que está o perigo. Eu não o denunciei, mas pelo o que eu conheço ele está revoltado porque eu não fui procurá-lo na penitenciária, e faltam poucos dias pra ele receber a liberdade. Por isso seu Viriato estou aqui à procura de ajuda. Pelo amor de Deus faça alguma coisa. Estou com muito medo.
VIRIATO – Realmente no nosso país a justiça é lenta e com essa super lotação em todas as penitenciárias as coisas ficam difíceis e sabemos que tudo isso é culpa dos governos atuantes nos Estados. Mas não devemos ser covardes temos que denunciar se não a coisa pode ficar ainda pior pra os nossos filhos e netos. Eu sei que a senhora dona Isaura está assustada, mas se acalme e aguarde a finalização dos outros depoimentos, ta certo?
LAURA – (Emocionada) Eu faria tudo pra não estar aqui, mas infelizmente não consegui suportar e tomei a liberdade de vir. Todo dia eu faço minhas orações pedindo pra que Deus me proteja e me dê forças pra continuar minha caminhada que não está sendo fácil. Sou casada e tenho dois filhos o Marcos e o Gabriel. Tudo começou quando eu era pequena e tinha onze anos. Minha mãe época de páscoa, sempre ia visitar minha avó lá no interior. Foi quando ela sofreu um acidente de carro e ficou paraplégica depois daí passei a cuidar da minha mãe que ficou dependendo totalmente de mim, pra comer, pra dar banho e outras coisas, pois ela ficou comprometida com alguns movimentos. Meu pai que sempre foi policial é um tipo arrogante que nunca tratou muito bem minha mãe, e depois do acidente ele mal olha pra ela, tudo depende de mim. Mas o fato é que depois do acidente eu fui obrigada a fazer sexo com meu pai. Era uma madrugada de sábado eu estava sozinha em casa e minha mãe foi pra casa da minha avó passar uns dias. Na madrugada de sábado eu estava dormindo e acordei com um corpo que me apertava ao meu lado na minha cama era meu pai, que botou a mão na minha boca e pediu que eu ficasse calada. Naquele dia eu estava menstruada, ele com um hálito fétido de bebida vociferava palavras sem nexo ao meu ouvido, dizia que me amava e que me queria naquele momento. Empurrei ele para o lado, mas foi pior, ele não respeitou os meus direitos e apontou o revólver para mim e disse: se gritar eu mato você e em seguida me mato também. E continuava a falar: Somente esta vez, não precisa ninguém saber, sua mãe não tem noção de nada e eu estou muito carente, há muito tempo que eu espero por este momento. Olhei pra ele e disse: mas meu pai! Isso é um pecado, não podemos fazer sexo, Deus vai castigar a mim e ao senhor, eu chorava baixinho com medo de uma tragédia. Nesse momento ele já passava a mão entre minhas pernas, beijava meu rosto e segurava meus seios, em momento ele sugava meus mamilos Estou morrendo de vergonha pessoal, de contar tudo isso. Desculpe, mas é a pura verdade (chora).
VIRIATO – Somos amigos, estou aqui pra ouvir cada uma de vocês. Pode continuar. Não se sinta constrangida.
LAURA – Pois é, em seguida ele tirou minha roupa e colocou sua cabeça entre minhas pernas e começou a fazer sexo oral comigo e eu era virgem. Eu ainda era criança, mas por impulso fiquei paralisada e ele tirou também a roupa. Desculpe vocês, mas meu pai tinha a fama de ser um homem bem dotado e realmente era. Ele subiu em cima de mim e falou relaxe a primeira vez dói só um pouquinho mas é natural. Ele me penetrou com seu membro avantajado e eu queria gritar de dor mas ele tapava minha boca. Quando ele tava chegando ao orgasmo ele retirou o pênis e ejaculou nas minhas pernas, senti aquele jato quente e percebi que eu estava sangrando. Ele se encarregou de cuidar de mim e estancar o sangue que saia de dentro de minhas entranhas. E ele dizia: Não conte nada pra seu ninguém está me ouvindo? Ele me falou com um ar de superioridade, e continuou: Se eu souber que você contou, de uma coisa fique certa nós morreremos, não só eu e você, mas mato sua mãe também. Fiquei aturdida com todas aquelas palavras e procurei ficar calada. Minha vida virou um inferno, porque sou uma mulher temente a Deus e nunca concordei com aquilo e tinha minha mãe que de nada sabia e eu não podia falar nada. Muitas vezes tive vontade de ir a uma delegacia e denunciar meu pai, mas me faltava coragem. Dos doze anos até agora sou obrigada a fazer sexo com ele. Minha madrinha foi morar lá em casa e passou a cuidar da minha mãe, aproveitei a oportunidade, sai de casa e passei a morar com Jasiel tive dois filhos: Gabriel o filho mais novo, é filho do meu marido, mas meu filho mais velho o Marcos é filho do meu pai. Meu marido acha que é filho dele, mas não é, porque quando eu fiquei com Jasiel meu marido, eu já tinha tido a primeira relação com meu pai eu já estava grávida, e meu pai sabe disso, porque eu contei pra ele. O menino é registrado no nome de Jasiel e eu guardo mais um segredo. Eu tomei coragem e hoje estou aqui, não posso ficar traindo meu marido transando com meu pai. Espero acabar com este pesadelo, pois já não suporto mais e é muito difícil pra mim. Vivo a base de tranqüilizantes, tenho sonhos horríveis. Pensei em procurar um psicólogo, mas fiquei insegura. Soube do trabalho desta Associação e espero encontrar uma saída para resolução deste problema. Peço desculpas a vocês pela minha carga emotiva, pois na realidade é difícil um dia em que eu não derrame minhas lágrimas. Senhor Viriato pelo amor de Deus peço que o senhor me ajude e que também proteja a mim e toda minha família. (chora). Desculpe mais uma vez, mas essa é a minha história.
VIRIATO – Eu sei e todas as pessoas aqui sabem como a senhora está se sentindo, mas vamos manter a calma e estudar juntos como resolver a situação de cada uma de vocês. Sei muito bem dona Laura que está sendo terrível encarar toda essa situação ocultando a verdade principalmente para Jasiel seu marido. Realmente seu pai está agindo como um animal irracional e acredito que ele deve ter problemas psicológicos e que também precisa de ajuda, mas que a principal a vítima é você. Mas vamos adiante, e no final das entrevistas levaremos cada caso para nossa psicóloga, e a partir daí, daremos um rumo para cada situação. A próxima por favor.
ROSANA – Bom dia pessoal! Meu nome é Rosana tenho vinte e três anos de idade e meu problema não é nada relacionado a abuso sexual. Eu tenho uma amiga de infância o nome dela é Fátima, sempre tivemos uma relação sincera e uma enorme confiança, por isso sempre conto meus segredos, e foi ela que pediu para que eu viesse aqui. O meu maior problema é com o meu padrasto. Quando eu tinha cinco anos, minha mãe ficou viúva. Meu pai sofreu um AVC e veio a óbito, depois de três anos minha mãe conheceu meu padrasto o nome dele é João. Ele é um homem altamente homofóbico odeia todos os homossexuais. Eu tenho um irmão com quinze anos e ele sofre bastante devido o preconceito, minha mãe no início não se acostumava com a idéia, mas mãe é mãe e ela hoje aceita o meu irmão do jeito que ele é. Eu não suporto mais ver o meu padrasto espancar meu irmão. O João meu padrasto, xinga meu irmão todos os dias e minha mãe fica calada pra evitar escândalos, e quando ele chega embriagado é um verdadeiro inferno. Sempre que ele chega embriagado, minha mãe manda meu irmão sair de casa e buscar a casa de algum amigo, até a poeira baixar. Meu padrasto quando chega embriagado, xinga minha mãe com todos os adjetivos pejorativos e a culpa por tudo é que ela fica calada. Uma vez ela foi defender meu irmão, ele bateu nela e ainda sobrou pra mim, nesse dia, quase que eu ia a delegacia prestar uma queixa, mas minha mãe pediu por tudo pra eu não fazer isso. Ele sempre disse que se ela fosse denunciá-lo, minha mãe podia se considerar uma mulher morta. Ontem aconteceu o pior. Eu estava em casa fazendo um trabalho da faculdade com minha amiga Fátima, e fiquei morrendo de vergonha quando ele chegou embriagado falando o seguinte: Onde está a puta irresponsável da sua mãe, e o fresco safado do seu irmão pra eu quebrar a cara dele? Fiquei sabendo pelos meus colegas que ele já transou com todos do bairro, inclusive sexo oral é o que ele mais sabe fazer. Não quero um nojento desse na minha casa bebendo água no mesmo copo que eu bebo. È claro que tudo aquilo que falaram pra ele era mentira, até porque meu irmão é uma pessoa educada e não se envolve com ninguém do bairro. Então eu disse pra que ele lavasse a boca quando fosse falar da minha mãe e do meu irmão, ele não gostou e disse o seguinte: você defende sua mãe e seu irmão porque é outra puta que diz que vai pra faculdade e no entanto o que você sabe mesmo fazer é sabão com essa outra aí. Minha amiga saiu de casa horrorizada aos prantos, então eu disse que não agüentava mais a situação e falei que ia denunciá-lo. Ele partiu pra cima de mim começou a me bater e como vocês estão vendo, estou com marcas em todo meu corpo, principalmente meu rosto. É por isso que estou aqui pra que esta Associação ajude a mim e também minha família, colocando de vez o estúpido do meu padrasto numa penitenciária de segurança máxima, que é onde ele deve ficar apodrecendo para sempre.
VIRIATO – É realmente deprimente esta situação. Não podemos deixar impune um monstro solto como o seu padrasto. O preconceito dele vai além das expectativas, ofendendo verbalmente e fisicamente as pessoas. Por outro lado, ele busca a bebida pra dizer aquilo que não tem coragem quando o mesmo está sóbrio. Com a ajuda da Dra. Berenice nossa psicóloga, ela vai encontrar uma solução para o seu problema, com certeza ela vai lhe orientar e lhe encaminhar para prestar queixa na delegacia da mulher e ficara acompanhando você e sua família. O negócio é não ter medo, pois se você ficar calada esse idiota chamado João, vai continuar fazendo a mesma coisa e mais tarde poderá ser bem pior. Temos mais um caso a ser ouvido e será justamente o tempo em que a Dra. Berenice estará chegando pra falar e orientar cada uma de vocês, portanto pediria à próxima que se pronunciasse. Você por favor, qual o seu nome e o que está acontecendo para que possamos lhe ajudar?
NADJA – Nadja é o meu nome. Tenho cinqüenta anos de idade, sou evangélica e tenho dois filhos, a Bianca com vinte e cinco anos, e o Fabrício com vinte e três. A Bianca já é casada tem dois filhos e vive com o marido numa cidade do Estado do Paraná e o Fabrício vive comigo. Meu Deus que está no céu me escutando agora, ele sabe muito bem que do mesmo jeito que dei educação a minha filha dei também a meu filho. Eu sou viúva e vivo da pensão deixada pelo meu marido. Vocês já imaginaram sobreviver apenas da metade do que meu marido deixou? Pois é, vivo apenas com a metade porque a outra parte é pra pagar drogas pra o meu filho, e se eu não pagar, tenho certeza que eu e ele morreremos. Não sei onde fui buscar coragem pra vir até aqui, porque sempre fui ameaçada e ontem com um revolver na cabeça escutei do meu filho a seguinte frase: Eu sei que a senhora é minha mãe, mas eu estou pouco me lixando pra isso então me passe a porra do dinheiro, preciso pagar e pegar mais pedras com a galera. Olhei pra ele e disse: Fabrício meu filho! Por favor, baixe essa arma, o dinheiro ainda não foi depositado, hoje é dezenove, e o banco só libera amanhã dia vinte. Ele zangado meteu o revolver na minha cabeça. Estou usando um lenço porque tive que raspar para fazer um curativo, e como eu não tinha dinheiro, tive que dar um anel e um colar de ouro com prata, que minha mãe deixou pra mim antes de morrer. Eu convivo com esse pesadelo a mais de cinco anos, já pedi ajuda pra internar Fabrício duas vezes, a primeira vez ele fugiu da clínica e ficou perambulando pelas ruas até arrombar a casa e levar minha televisão novinha pra vender e comprar drogas. Nesse período soube que ele tinha sido preso, arrumei um advogado e ele foi solto. Da segunda vez ele ficou seis meses sem usar a maldita droga, mas caiu em tentação, e agora cheguei ao meu limite, tinha que fazer alguma coisa, pois não é fácil suportar um filho que vive te espancando e sei que estou correndo risco de vida. Na verdade não sei mais o que fazer e se for pra viver sendo espancada prefiro que ele fique preso pra que eu tenha um pouco de tranqüilidade. Desculpe minha emoção. Está sendo muito difícil eu está aqui denunciado o meu filho, mas vejo que não tenho outra saída. Se ele ficar preso vou arrumar minhas coisas e desaparecer pra bem longe. Já cheguei a pensar em suicídio, mas não sou dona da minha vida e sei que se eu tirar minha vida vou pagar, prestando contas a Deus. É por isso que estou aqui pra receber alguma orientação. Ontem me ajoelhei e em lágrimas pedi que Deus me iluminasse e me mostrasse um caminho e o caminho foi vir até aqui. Agradeço a todas as pessoas presentes e peço desculpas pela minha fraqueza. Obrigada.
VIRIATO – Não precisa a senhora se desculpar dona Nadja, estamos aqui pra ajudar, e esse é o papel principal da nossa Associação. Realmente é muito difícil pra senhora combater sozinha um problema social que é as drogas. Não só a senhora como muitas mães já estiveram aqui à procura de ajuda e com nossa orientação, muitas tiveram sucesso. A senhora não só tem a droga como problema, mas tem também um problema ainda maior que é a violência que a senhora enfrenta, e quando as coisas chegam a esse ponto, se faz necessário deixar o medo de lado e denunciar o agressor, não importa se seja filho ou filha, mas a senhora não pode e nem deve ficar calada. (O celular vibra mais uma vez). Por favor, eu peço licença pra atender ao telefone, um minutinho. Olá doutora! E aí tudo bem? Hoje temos quatro pessoas, inclusive já entrevistei todas. E pra amanhã, completei a relação com uma tal de Juliana. Está, está tudo em paz. A senhora vem à tarde? Não pode vir? Que pena! Fique tranqüila eu passo a informação ok Doutora. (desliga). Pessoal é o seguinte: infelizmente a Dra. Juliana não poderá comparecer aqui à tarde, ela pediu desculpas e disse que amanhã pela manhã ela vai deixar o outro trabalho e estará aqui sem falta pra atender vocês. Mas nossa Associação sempre que termina o expediente oferece um lanchinho e sei que vocês estão precisando restabelecer as energias, por isso peço que vocês me acompanhe até a outra sala. (elas saem em fila e Viriato sai por último).
Final
(O texto só poderá ser montado com a autorização do autor, contato: flavioactor@hotmail.com – 81 – 8640-0534 – 8805-0574).
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