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QUANDO A MORTE VALE À PENA...
Britinho

Romeu acabara de receber a pior notícia de sua vida. O médico havia pedido que alguém de sua família comparecesse ao consultório. Teimoso do jeito que era, forçou o doutor a lhe dizer qual seria sua doença. O médico disse! Mas falou que ele tinha de voltar para fazer o tratamento.
             - Eu lhe pedi que trouxesse um familiar seu, porque às vezes com a quimioterapia o paciente não se sente bem, pode sentir ânsia de vômito, e a família precisa saber de suas limitações.
               Saiu do consultório arrasado, afinal, estava com câncer e a previsão de vida era de seis meses.
               Entrou no carro e chorou. Chorou muito e ficou ali bastante tempo chorando e pensando como seria dali pra frente.
               Chegou à sua casa, passou pela esposa de cabeça baixa e foi direto para seu quarto. Afinal, ele não queria que ninguém soubesse. Sua mulher estranhou, afinal ele nunca fizera aquilo, sempre a beijava ao chegar. Curiosa, foi ao quarto lhe interrogar:
             - O que houve meu amor? Você passou e não me deu um beijo. – disse ela.
             - Nada não. Deixe-me em paz!
               Muito chateada fez o que o marido dissera, e saiu.
               Passado alguns dias, Romeu encontrava-se mais conformado. Ele havia conversado com Dudu, seu amigo, sobre sua doença e foi o único que ficou sabendo. Recebeu alguns conselhos no sentido de aproveitar melhor o restante de sua vida.
             - É meu amigo, você tem razão! Vou fazer coisas que sempre tive vontade de fazer e nunca fiz. Mas também tenho de pensar em um jeito de deixar alguma coisa pra minha família. Eu morrendo, sei que eles vão passar dificuldades. - disse ao amigo.
               De cara, Romeu fez um seguro de vida. Depois foi ao banco e fez um empréstimo grande, o máximo que conseguira. Foi até sua casa, pegou a esposa e o cartão de crédito e a levou em uma loja de eletrodomésticos. Disse a ela que comprasse tudo o que estaria precisando em sua casa. A esposa quase desmaiou de tanta felicidade!
             - Mas o que houve meu amor, ganhou na loteria? Você que é um cara controlado, gastando desse jeito! Estava tão pra baixo, tão desanimado, e de repente me dá esses presentes sorrindo? É de estranhar! – disse ela com os olhos brilhando.
             - Foi quase isso! Eu recebi um dinheiro inesperado no trabalho e, por coincidência ganhei também no bicho. – mentiu para ela.
               Defunto não tem divida, pensava ele.
               O problema que Romeu também queria curtir a vida e começou a chegar tarde em casa e a fazer muita besteira.
             - Dudu, vamos tomar uma cerveja naquele inferninho que tem lá no centro da cidade? Hoje estou a fim de pegar umas “minas” diferentes. – dizia ele.
             - Mas Romeu você tem feito muito esforço e um monte de estripulias. E eu estou preocupado com sua saúde. Você esta bem, não tem de fazer o tratamento, não tem de tomar remédio?
             - Se vou morrer mesmo, pra que fazer tratamento e tomar remédios? O médico disse que vou passar mal com a quimioterapia e aí é que não vou poder beber mesmo. Além do mais estou me sentindo um menino!
             - Bem, já que é assim, vamos pra “night”!
               No dia seguinte os dois conversando, Dudu o perguntou se ele havia usado camisinha.
             - Pra que, eu vou morrer mesmo?
             - Acontece que você não pensou em sua esposa, não é?
               Romeu mudou de assunto:
             - Hoje á noite, vou ter que sair pra arrumar um dinheiro. Você quer ir comigo, Dudu?
              - Ué, você está trabalhando a noite?
              - Claro que não, seu besta! Apesar de que.... O que farei, não deixa de ser um trabalhinho.
              - Romeu, não vai fazer nenhuma besteira, hein! A propósito! Que volume é esse em sua cintura?
              - Deixa isso pra lá, amigo!
               Dudu ficou muito desconfiado que Romeu fosse fazer alguma coisa de errado e resolveu não ir com ele.
               Romeu havia conhecido o dono de um ferro velho, que lhe prometera um bom dinheiro em cada carro roubado que ele o levasse.
                 Vou fazer meu pezinho de meia e deixar minha família bem de vida. Depois eu posso morrer tranqüilo. Pensava ele.
                 Só que ele não tinha muito jeito pra essas coisas e muitas vezes se atrapalhava todo: uma vez o alarme de um veículo disparou e ele teve que correr muito porque o dono estava perto e começou a gritar. Da outra vez ele tentou roubar um carro automático e não conseguiu sair do lugar, porque não sabia fazê-lo funcionar. O pior foi o dia em que levou um tiro de raspão na orelha, quase morreu. Porque se pega na cabeça, ele morreria antes do esperado e não concretizaria suas vontades.
                 As dores de Romeu pioraram e ele teve de voltar ao médico. De cara levou uma bronca sem tamanho por ter dito que não tomou e nem queria tomar os remédios e nem fazer o tratamento. Então o médico o intimou a fazer de novo uma bateria de exames. Após ficar horas fazendo a quimio e uma infinidade de exames, o médico o chamou em seu consultório.
               - Sr. Romeu sente-se! Quem lhe falou que o seu tumor era maligno?
               - Foi o senhor, doutor! Até me disse que eu só teria seis meses de vida.
               - Eu não lhe falei que seu tumor era maligno. Eu disse que era benigno, mas merecia alguns cuidados e teria de fazer o tratamento.
               - Como é que o tumor era benigno se eu teria só seis meses de vida.
               - Sr. Romeu o senhor não entendeu. Seis meses seriam de tratamento. Agora no mínimo o senhor vai precisar de mais seis meses. Sua situação piorou por falta de tratamento.
               - O quê! O senhor que não me explicou direito. Gastei dinheiro com seguro de vida, Estou devendo ao banco, ao cartão de crédito, também estou devendo a justiça porque virei ladrão, quase morri com tiro na orelha, posso estar aidético, a polícia deve estar atrás de mim essa hora e o senhor me diz que não vou morrer e ainda tenho mais seis meses de tratamento.
                 O coitado do médico foi parar no hospital todo quebrado e Romeu na cadeia. Sua esposa ficou sabendo de sua doença e comunicou ao sistema penal, Romeu foi um paciente exemplar no hospital penitenciário.
                                   



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