Um apólogo – Machado de Assis
Apresentação do autor
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro, a 21 de junho de 1839, filho de um mulato e uma lavadeira portuguesa. Infância no morro do Livramento. Após os estudos elementares, dedica-se a vários empregos menores a fim de ajudar no sustento da família. Conhece Paula Brito, que faculta a publicação do primeiro escrito, o poema “Ela”, na Marmota Fluminense, a 12 de janeiro de 1855. No ano seguinte, ingressa como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, onde ganha a amizade de Manuel Antônio de Almeida. Em 1858, transfere-se para a tipografia de Paula Brito, trava contacto com alguns expoentes literários do tempo, e encontra estímulo para continuar escrevendo. Passado um ano, está no Correio Mercantil, como revisor e colaborador. Nessa altura, seu nome começa a aparecer e a ser solicitado para jornais e revistas. Em 1869, casando-se com Carolina Xavier de Novais, inicia a fase madura de sua carreira. Quatro anos mais tarde, é nomeado primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Alcançada a estabilidade econômica e doméstica, vai entregar-se à construção da parte mais sólida de sua obra; os títulos sucedem-se, numa evolução que não se interrompe até à morte. Enquanto isso, ascende pouco a pouco na burocracia, de que resulta um progressivo desafogo econômico: chefe da Diretoria do Comércio, do Ministério da Agricultura (1892), Secretário do Ministro da Aviação (1898), diretor-geral da Contabilidade do Ministério (1902). Corroborando o êxito cultural e administrativo, a 15 de dezembro de 1896 funda, com outros escritores, a Academia Brasileira de Letras, e torna-se seu primeiro presidente. Coroado de glória e admiração, experimenta a mágoa profunda de perder Carolina, a 2 de outubro de 1904, e principia a morrer. Somente a Literatura lhe ameniza a solidão irremediável. Até que falece, a 29 de setembro de 1908, cercado dec alguns amigos fiéis. Espírito polimórfico, cultivou o romance (Ressurreição, 1872; A Mão e a Luva, 1874; Helena, 1876; Iaiá Garcia, 1878; Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881; Quincas Borba, 1891; Dom Casmurro, 1899; Esaú e Jacó, 1904; Memorial de Aires, 1908), o conto (Contos Fluminenses, 1870; Histórias da Meia-Noite, 1873; Papéis Avulsos, 1882; Várias Histórias, 1896; Páginas Recolhidas, 1899; Relíquias de Casa Velha, 1906; etc.), o teatro (Queda que as mulheres têm pelos tolos, 1861; Desencantos, 1861; Teatro, 1863; Os Deuses de Casaca, 1866; Tu, só Tu, Puro Amor,1881), a crônica ( A Semana, 1914; etc.), a crítica (Crítica, 1910)
Apresentação da obra
Um apólogo (alegoria onde animais e coisas falam) são pequena história de vaidade e ciúmes que levam uma agulha e a linha a uma polêmica acalorada cada uma querendo mostrar a sua superioridade sobre a outra, na função que estão exercendo de confeccionar um vestido de baile para uma bela dama da nobreza que tem de ir a um baile. Participam, na história, como figurantes um alfinete e a costureira. A agulha diz que a linha esta cheia de si sem razão nenhuma. A linha pede que ela a deixe em paz e a agulha responde que falará quando lhe der na cabeça. A linha lembra que agulha não tem cabeça. Quando a agulha diz que é muito mais importante porque é ela que vai à frente abrindo caminho, a linha responde que os batedores do imperador também vão à frente e não são importantes. A agulha se vangloria de estar sempre entre os dedos da costureira e a linha lembra que terminado o trabalho a agulha vai para a caixa de costura enquanto ela, a linha, irá para o baile com o lindo vestido e sua dona. O alfinete parece querer consolar a agulha e lhe diz que ele não abre caminho e onde o colocam ele fica. O autor termina com uma lição moral: "Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!".
CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS – Análise Crítica
Reflexão Crítica sobre a obra e implicações
O autor põe em questão as personalidades dos indivíduos, em geral. Há pessoas que servem como uma agulha, que abem o caminho, que estão no labor, e há pessoas que servem como linha, apenas com os resultados, com tudo pronto.
Percebe-se, ao final deste conto, a observação da história por um “professor de melancolia”, isto é, um mestre na arte da conformidade, da indiferença, do desgosto, que diz estar servindo de agulha a muita linha ordinária, isto é, tem aberto caminhos, aberto oportunidades pra ele mesmo e, depois dele, se seguem pessoas com o intuito de se aproveitar do que ele faz. Hoje em dia há muitos conformados com a situação em que estão, e continuam fazendo as coisas só pra os outros se beneficiarem, sendo que esses últimos, que só querem se beneficiar, existem aos montes, procurando tomar o lugar dos que avançam na vida. Temos de ser, assim, como os alfinetes, que não abrem caminhos pra ninguém, mas alcançam seus objetivos. Não há maneiras de se aproveitar destes. Com certeza, subiremos na vida dessa maneira, e cresceremos sem “encostos” a nossa volta.
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