A MOÇA DO CORREIO
João Carlos de Oliveira
Os finais de semana prometiam. Na loja em que trabalhava, meu patrão já me olhava de forma atravessada, vez por outra, más com relativa assiduidade, futuras normalistas da Escola normal da cidade, faziam questão de passar pelo passeio da minha loja, os convites para os chás dançantes dos finais de semana, eram freqüentes. Não tinha mais do que 18 ou 19 anos, não era bonito, entretanto, possuía um boa aparência, o suficiente para chamar a atenção das estudantes. Na medida em que as horas da parte da manhã avançavam, meu sentido ficava aguçado, sem que o patrão percebesse, mantinha o atendimento aos fregueses da loja, sem no entanto, desgrudar os olhos da rua, pois sabia, que no máximo lá pelas onze e meia, como ocorria em todos os dias letivos, a moça dos correios, haveria de passar por ali. Mesmo sem nunca ter falado com ela, mantinha no meu peito juvenil uma paixão silenciosa, meu coração disparava somente ao vê-la. Sabia intuitivamente, que a minha presença não passava de todo desapercebido por ela, pois apesar da existência de diversas outras ruas de acesso ao seu lar, ela fazia questão, de passar todos os dias na porta da minha loja. Percebia um sorriso tímido e discreto dos seus lábios, para mim, era um prêmio. Descobri que ela residia no segundo andar do prédio do correio, exatamente na esquina de uma rua, onde por todos os dias letivos, tinha que passar por lá por volta das dezoito e trinta horas, quando seguia em direção aos meus estudos no Colégio Marista. Não demorou muito, para que ela soubesse da minha presença - morava numa rua próximo da residência dela, era como se fosse à partir de então, “ um verdadeiro encontro marcado”, quando todos os dias - de segunda a sexta feira, por volta das dezoito e trinta da tarde, ela dava a graça da sua presença na sacada do prédio, quando silenciosamente, me presenteava com um sorriso que jamais haverei de me esquecer. O tempo foi passando, nunca conseguia me aproximar dela, como fui desligado do serviço militar por não conseguir acordar às cinco horas da manhã, tive que me apresentar para um quartel do exército na cidade de Belo Horizonte para cumprir o meu dever de cidadão, onde permaneci por um ano, um mês e dezenove dias. Quando retornei à minha cidade, não mais tive a oportunidade de vê-la, soube, que a família dela havia se mudado para outra cidade, já que o pai dela, era agente dos correios. Ainda hoje, passados tantos anos, me relembro com saudades da graciosidade e beleza ímpar da moça do correio, e, por mais que o tempo passe, vai permanecer nas minhas lembranças e no aconchego do meu coração, o privilégio de tê-la conhecido um dia.
Montes Claros, MG, 29/07/2010
João Carlos de oliveira
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