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O VULTO
João Carlos de Oliveira

O VULTO

O dia havia amanhecido chuvoso, desde a madrugada, caía uma chuva fina e fria, estávamos em Dezembro. Muito embora o tempo estivesse desfavorável, havia firmado compromisso inadiável, da entrega de lote de vacas comercializadas para frigorífico de Belo Horizonte, que deveriam ser pesadas e embarcadas nos currais da rede ferroviária federal da cidade de Capitão Enéas/MG. A distância a ser percorrida não era tão longa, seria uma marcha de pouco mais de 30 km, todavia, haveríamos de nos organizar, para que saíssemos cedo, mesmo porque, após o embarque do gado, deveríamos retornar aos nossos lares no mesmo dia. Além deste fato, era relevante, que também levássemos em conta, que haveria sempre o risco das enchentes do rio verde grande, pois teríamos inevitavelmente, de atravessá-lo. Organizado a comitiva de quatro vaqueiros, tratamos de comer um prato de farofa de carne com bastante café, pois iniciados a viajem, que esperávamos, não ocorresse arribada de animais, somente chegaríamos ao nosso destino, lá por volta das quatorze ou quinze horas da tarde. Na guia do gado, seguia o meu filho, com treze anos, acostumado a lida desde os seis. No coice, além de mim próprio, nos acompanhavam mais dois vaqueiros, dentre eles, o Zé de Eduardo,que montava seu cavalo Rosilhinho, preparado para qualquer eventualidade maior. Traçado o roteiro, iniciamos a viajem, a estrada cavaleira era bastante estreita, nela, havia lama e muitas poças de água. No roteiro da viajem, passsamos pela fazenda do Sr. Niquinho, pela fazenda dos Ferreiras, pela fazenda dos Barbosas, Maria de Fulgêncio, depois, entrávamos na mata do Barroso, até atravessarmos o Rio verde na altura da ponte do Piripiri, depois a fazenda dos Bragas, até chegarmos ao povoado do Sapé, já nas proximidades da cidade de Capitão Enéas. A viajem transcorreu com normalidade, a exceção, de um animal ou outro, que tentava se evadir o rebanho, para adentrar as matas, nada porém, que o Zé de Eduardo, montado no Rosilhinho, não conseguisse contornar. Conforme o combinado, por volta das quinze horas, lá estávamos com o rebanho sendo pesado e entregue na plataforma de embarques. Uma vez o gado pesado e entregue, aproveitamos da oportunidade, para fazermos pequenas compras no comércio da cidade, sem que percebêssemos, o sol ia baixando aos poucos, o certo é, que quando deixávamos a cidade, já haviam algumas luzes acesas nos postes de iluminação das ruas. Não andamos muito, o tempo nublado, contribuia sobremaneira para que a noite chegasse mais cedo. Os nossos cavalos conheciam bem o trajeto apesar da escuridão, com sua visão aguçada, desviavam bem de algumas poças de água e lama no leito da estrada - a viajem seguia normalmente. Estávamos com sorte, ao atravessarmos a ponte sobre o rio verde, percebemos, que água do seu leito havia subido muito desde a manhã, e já começava a lamber o tablado da ponte. Também em alguns trechos, tivemos que atravessar alguns pontos da estrada já alagados pela água dos sangradouros do rio, que   iniciava a sua invasão para as vazantes. Uma vez atravessado o trecho de estrada do baixadão do rio, o mais crítico e perigoso, onde em alguns pontos, nossos cavalos tiveram de nadar, a nossa viajem de retorno prosseguia num bom ritmo, apesar do frio intenso. Poucos km após a travessia do rio, decidimos que retornaríamos para casa, noutra estrada diversa daquela na qual formos de ida. Resolvemos deixar a estrada de acesso para a fazenda Mundo novo, para não encararmos a escuridão das matas do Barroso, que eram muito densas, fechadas, e escuras, decidimos sim, passar pela fazenda Atalaia, dos Gomes. De qualquer forma, seria inevitável, que tivéssemos que atravessar um bom trecho de matas escuras e fechadas, pelo menos, o trecho de mata dos Gomes, era mais curta. Assim decidido, percorremos relativo tempo por trecho de estradas que passavam pela sede da fazenda, andávamos somente pelo meio das pastagens, até chegarmos numa cancela, que dividia os pastos da fazenda, de uma grande área de matas de reserva, cujas estradas cavaleiras, cortavam pelo seu meio. Agora já percorrendo pelo trecho de matas, tão logo tínhamos percorrido, no máximo quinhentos ou seiscentos metros, percebemos pelos comportamento dos nossos cavalos, que havia algo de estranho logo adiante. Aproximando mais um pouco, nossos cavalos sopravam e refugavam cada vez mais, percebiam, que havia algo de estranho no leito da estrada, exatamente onde haviam caído algumas árvores e formado no local, pequena clareira. Ao nos aproximarmos ainda mais, nossos cavalos, inicialmente ressabiados e contorcendo para um lado e outro da estrada, refugavam cada vez mais, não haviam esporas, reza aos santos, nem nada, que os fizessem avançar, e deveriam mesmo, serem respeitados nos seus instintos. Como o local era muito escuro e não dava prá ver nada com nitidez, podíamos observar com relativa certeza, que de fato, havia mesmo, a presença de um vulto no meio da estrada, cuja observação, dava-nos a nítida impressão, tratar-se de um caixão de defunto. Quanto mais olhávamos para o vulto tentando decifrá-lo, mais tínhamos a a sensação da certeza, tratar-se mesmo, de um caixão de defunto. Como nossos cavalos não avançavam, tínhamos que encontrar uma outra solução, pois teríamos inevitavelmente de atravessarmos, era por ali mesmo, mesmo porque, não havia outros desvios no meio da mata, voltarmos para trás, e solicitarmos pousada na fazenda dos Gomes, era impraticável. Convencidos de que se tratava mesmo de uma visagem, e certos de que ela não nos parecia disposta a nos ceder espaço, resolvi juntamente com mais um companheiro, que deveríamos apear dos nossos cavalos, e encararmos de frente, a visagem, defunto, ou qualquer outra coisa. Como naquela época não era proibido usar armas, por acaso, tinha uma em minha cintura, e de armas a punho, decidimos nos aproximar. Na medida em que mais nos aproximávamos, a imagem do vulto que nos chegava, dava-nos cada vez mais, a sensação de certeza de que se tratava mesmo de um caixão de defunto. Aproximávamos cada vez mais. A escuridão da noite era grande, vez ou outra, aparecia alguma estrela no céu, seria necessário e prudente, que nos aproximássemos com cautela para que averiguássemos verdadeiramente do que se tratava. Sorte, que fomos prudentes, pois embora de arma a punho, em nenhum momento fizemos uso dela. Ao bem nos aproximarmos, agora já por volta dos 2 ou três metros de distância, pudemos perceber, que havia um grande engano da imagem que nos chegava, percebemos, agora sim, tratar-se de um velho boi reprodutor da raça Holandêsa, de pelagem malhado do branco e preto, cujo brilho natural dos seus pelos, associado a gotículas de água do orvalho da noite, realçava-nos uma falsa imagem, dando nos, a visão do formato de um caixão de defunto distendido no leito da estrada em sentido longitudinal. O velho reprodutor Holandês, cansado de parear as vacas da fazenda, havia fugido das pastagens para a mata de reserva, e ali naquela clareira, pousando no leito da estrada, ao abrigo da mata, resolvera malhar para fazer a sua ruminação, e dormir tranquilamente em harmonia com a natureza.


MONTES CLAROS, MG, 20/10/1998

OLIVEIRA, JOÃO CARLOS DE,

E-mail. zoo.animais@hotmail.com













Biografia:
Nem mesmo cairá uma unica folha de uma árvore, se caso não exista uma razão para tal!

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