Entrei na sala de aula e perguntei aos alunos do 1º ano do Ensino Médio:
- Qual é o feminino de peixe-boi?
- Peixe-vaca, peixe-boi fêmea, peixe-bóia...
Era cada absurdo! Mas o que parecia uma simples brincadeira, tomou uma proporção quase surreal.
A cada negativa, novas respostas se levantavam, como se aquilo realmente trouxesse algum ganho à cultura daqueles garotos. Imagine a cena: trinta e cinco adolescentes de uma escola da periferia, com paredes pichadas, vidros quebrados e portas estouradas debatendo uma pergunta tola como essa - talvez não tão tola, porque ela fez parte do vestibular de uma universidade do Amazonas.
Chegaram até a fazer apostas, quem acertasse, pagaria o lanche do outro no intervalo; caso o perdedor não tivesse nenhum trocado, teria de pagar algum "mico", como passar o caderno de todas as disciplinas a limpo, assistir a aula de que menos gostasse em total silêncio, enfim, para eles, castigos tão cruéis quanto os praticados durante a escravidão.
Abismado com o alvoroço, encostei-me ao quadro negro e, de protagonista, fui alçado à condição de mero figurante.
Quando retomei o controle da classe e revelei o enigma - o feminino de peixe-boi é peixe-mulher, um dos alunos que nunca havia prestado atenção a uma de minhas aulas, e em cujo caderno só constavam vistos com os dizeres "exercícios não realizados", levantou a cabeça, mirou-me com os olhos dominados pela indignação e disparou: "Desde quando existe peixe-homem? Que cultura inútil! Por isso odeio a escola!"
Bingo! - ele havia matado a verdadeira charada. Talvez estejam em perguntas como essa a explicação para o fracasso da escola contemporânea: currículo oficial fantasioso, um Perrenoud às avessas, para não dizer outra coisa.
- Para que eu preciso disso? - insistiu, interrompendo minha reflexão.
E ele tinha razão, o que isso mudaria sua triste realidade, marcada pela fome e pelo aliciamento ao tráfico? Ao invés de afrontá-lo, como muitos mestres ortodoxos o fariam, optei por aplaudi-lo; diferentemente do que apregoava o sistema, ali não estava mais um número e, sim, um grande sábio da vida real, para quem não hesitei tirar o chapéu.
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Biografia: Formado em Letras e em Educomunicação. Casado, 34 anos, 3 filhos.
Colaborador de diversos órgãos midiáticos, sendo eles: YesMarília - (www.yesmarilia.com.br), parceiro da Globo.Com na cidade de Marília, interior de São Paulo, Jornal da Manhã de Marília e Revista Eletrônica Alô Ibiúna, de Ibiúna/SP.
Pertence ao quadro de autores da Editora Virtual Usina de Letras (www.contosjuvenis.cjb.net), mantido pelo Sindicato de Escritores de Brasília, que conta, até o momento, com mais de 99 obras publicadas de sua autoria, em sua maioria, artigos e contos de suspense.
Seu sonho é ser apenas FELIZ em vida, afinal, que autor consegue ser feliz ao ser incomodado o tempo todo por sua visão perspicaz e sensível de um mundo já torpe feito o atual?
* Sites para os quais escreve:
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/carlosmota
http://twitter.com/autorcarlosmota
http://www.artigonal.com/find-articles.php?q=carlos+rogerio+lima+da+mota
www.brasilwiki.com.br
www.etextos.com.br
www.contosjuvenis.cjb.net
http://carlosmota.dihitt.com.br/
www.autores.com.br/carlosmota
http://www.jornaldamanhamarilia.com.br/site/ver_noticia.aspx?CodNoticia=8298
http://www.diariodesorocaba.com.br/noticias/not.php?id=21168
http://www.talentos.wiki.br/post.php?id=14206
http://autorcarlosmota.blogs.sapo.pt http://contosjuvenis.weblog.com.pt/ http://literaturaperiferica.ning.com/profile/carlosmota
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