Os estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio Espaço Verde Rousseau, no município de Cotia, na Grande São Paulo, lançaram no último dia 30 de novembro de 2010, o livro "Ladrão de Sonhos", obra escrita por eles ao longo dos últimos nove meses.
O projeto, inicialmente concebido como uma experiência literária por estimular os adolescentes a criarem a partir de suas próprias percepções, ganhou vida própria com o surgimento da protagonista Patrícia, também adolescente, que parte do interior para tentar uma vida melhor na metrópole.
O que Patrícia e seu José, o pai, não esperavam, eram que os obstáculos que enfrentariam para alcançar esta suposta "vida melhor" fossem tão árduos a ponto deles quase desistirem dos próprios sonhos. "Nunca escrevi um livro, mas ao dar vida a Patrícia, a seus amigos e vilões em 'É preciso começar', o primeiro capítulo, percebi que as personagens são como pessoas, agem como pessoas, ainda que habitem um mundo que só existe na imaginação de quem as lê", diz, surpresa, a autora Gabriela Espíndola Rezende.
A vida de Patrícia não é marcada apenas por amores e desamores; o decorrer de sua estadia pelo grande centro urbano é maculado pelos assassinatos de algumas das personagens importantes da trama, que, a certo momento, adquire o formato policialesco, algo parecido com o que o dramaturgo Sílvio de Abreu faz em suas telenovelas.
"Cara, chegou uma hora que a história estava ficando chata, então decidi: vou criar um suspense, algo que prensa a galera. É neste momento que Antonio, o gerente da contabilidade onde Patrícia trabalha é assassinado. Depois que escrevi este capítulo, a galera da sala ficou louca, dizendo 'O que você fez? A Patrícia deve viver um grande amor, não ser detetive'" confessa Fernando Tavares, autor do 7º capítulo, fã assumido de Agatha Christie, a mestra do suspense. "Mas com o tempo, todos passaram a aguardar cada capítulo como se fosse um daqueles deliciosos pães de queijos saídos do forno. A cada sexta-feira, na aula de redação, o aluno da semana dava continuidade à história de Patrícia, criando algo que justificasse a morte da personagem de Antonio. Foi muito legal viver toda essa aventura, porque a história não era só minha, era de todo mundo", continua Tavares, eufórico com a criação.
"Passei muitas noites sem dormir direito, pensando em como desvendaria os mistérios do livro. Diferentemente dos outros alunos que tinham uma semana para escrever o capítulo, eu tive duas, porque, ao iniciarmos a história, houve um sorteio em que ficou determinado quem e quando se escreveria o capítulo. Por incrível que pareça, eu deveria finalizar a trama, quase dez meses depois. Que responsabilidade! Tinha medo de não conseguir, mas pensei: se todos conseguiram, por que não conseguirei"? – revela Bruna Campos Pereira, escritora de "E por fim, tudo se resolve...", o último capítulo da saga.
"As crianças e os adolescentes de hoje são produtoras de conhecimento em escala; no caso do 9º ano, bastava canalizar todo o potencial criativo da sala para uma obra aberta, em que todos, por um instante, tivessem o poder de alterar a história e o mundo de alguém, ainda que este alguém não passasse de uma criatura imaginária. Foi a partir deste momento que eles perceberam o valor da literatura, das experiências de vida e passaram a agir como verdadeiros demiurgos – os senhores das letras" – relata o professor Carlos Rogério, entusiasta da ideia.
Para Tathiana Nicastro Kruppa e Gislena Luiza Cardoso Oliveira, Diretora e Coordenadora do Ensino Fundamental respectivamente, "este é o papel da escola do novo milênio: possibilitar que cada estudante viaje além de seu tempo físico e intrínseco, conheça novos métodos de se abordar uma mesma temática, deixando de ser mero espectador das teorias para se tornar um verdadeiro criador. E este é o papel do Colégio Espaço Verde Rousseau: permitir que toda criança vivencie o mundo mágico da literatura e, a partir dele, construa o próprio futuro, por sinal, sólido, promissor e permeado por valores fundamentais à consolidação de uma sociedade crítica e democrática".
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