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O Ultimo Adeus de Uma Senhorita
Fernão Bailo

Seus olhos eram tão belos quanto a neblina que pairava no ar durante a noite. O seu sorriso constrangia o luar; o luar era constrangido de uma forma que jamais havia se visto.                                                                             
Qualquer pessoa que a visse agora deduziria convicta, havia um anjo com aspecto jovial no bairro nova Esperança. Mas, de súbito logo a admiração daria lugar a comoção, esta por sua vez à motivação do aterrador. A pessoa que a visse pensaria: "É verdade mesmo! A beleza tem a forma da destruição!" Com uma atitude tomada após o temor iria embora, esgueirando-se nas sombras até a sua casa. Os pensamentos diversos viriam à cabeça de um ignorante. Certamente o pensamento neste momento reinaria o contraste; a pureza e a malícia. O que seria de senhorita? Sabido é que tudo é belo o homem teme. E como conseqüência de tal temor haverá sempre um fim trágico e devastador. Sim, devastador. Não é certo pensar que o homem age segundo a sua necessidade. Como exemplo tem Eva e
Pandora, dois mythos distintos, agiram conforme o desejo que as consumia: a curiosidade de como seria. Por isso o homem devastou a natureza para criar a sua própria natureza. Não é a toa que Júpiter castigou Prometeu tão severamente.       
Ciente do impacto provocado naquele contraste, pela curiosidade, senhorita, que naquele momento se personificaria numa figura angelical qualquer. A pessoa (ou homem) que a visse, tomado por um desejo de posse sairia correndo atrás dela.
Como Tom Ripley disse a Dickie quando foram a Roma: "Você sabe o que a maioria dos americanos fariam num caso desses: eles a estuprariam", esse foi o medo que a tomou. Senhorita sai correndo noite adentra. Era até mais veloz que um cão, não um cão qualquer, tinha a velocidade de Lelaps o cão de Céfalo. Se alguém a visse correndo, diria que corria com as sandálias de Mercúrio, que foram emprestadas a ela a pedido de Diana.                                                           
Chegou a casa sem fôlego. Logo se arrependeu pela resolução. O pai estava em casa novamente ébrio. Não suportava vê-lo neste estado. Vendo isso, deu meia volta e saiu. Fechou a porta com cuidado.                                              
Quando estava na calçada e fechava o portão atrás de si viu Roberta.                            
     Não morre mais menina. Vamos à festa- Roberta convidou.                                     
Não prestou muita atenção no convite feito pela amiga. Pensava no estado do pai.
Sem perceber seguiu Roberta.                                                       
Quando o pai estava sóbrio o considerava o melhor pai do mundo. Era uma pessoa legal, compreensiva. Era um pai de verdade, mas quando deixava a abstinência era um Deus acuda. Até o compreendia quando se colocava a cogitar sobre a situação ou o motivo de levarem o pai a beber. A primeira justificativa, segundo seu pai, era ela ter nascido parecido com a mãe. Havia herdado a beleza da mãe. E...                                                                             
     Por que está tão pensativa menina?- Roberta indagou- Veja o Lelo acabou de convidar você pra dançar.                                                               
Ela olhou para Lelo e sorriu como se pedisse desculpa. Roberta não suportou a hesitação da amiga, isso a irritava. Por isso a empurrou na direção do rapaz.
Disse sorrindo:                                                              
     Desculpe. Hoje estou distraída.                                                 

Roberta deu alguns passos e murmurou no ouvido da amiga:                                         
     Vá se divertir menina. Você precisa se distrair, então dance!                           
Senhorita sorriu e disse a amiga:                                                    
     Obrigada.                                                             
Seu corpo dançava, mas sua cabeça estava em outro lugar. Pensava no pai, na vida triste e solitária que o pai levava.                                                           
Sua mãe era uma mulher muito bonita. Por possuir uma beleza impar ela sonhava em ser modelo. Estava prestes a seguir a carreira quando conheceu Juca.
Apaixonaram-se. Juca era ciumento. Por conta do ciúme do namorado sua mãe acatou as exigências do namorado; entre elas a exclusividade. Desistiu do sonho e foi trabalhar como empregada doméstica.                                                        Juca quando conheceu Leia estudava numa escola técnica e era estagiário de uma grande empresa no setor siderúrgico. Mas uma semana de namoro trouxe ao casal um problema comum, Leia estava grávida. E como Léia, Juca teve de colocar os pés no chão e deixou os estudos para trabalhar. Conseguiu um serviço com um tio como ajudante de pedreiro. O tempo passou e Juca aprendeu o ofício e se tornou um excelente pedreiro.                                                 
Senhorita não era a única vítima do pai. Seu irmão Gui que nascera quando o pai estava prestes a ser contratado por uma grande empresa fora do ramo da construção civil. O seu fracasso e frustração caíram sobre Gui. O nascimento de Gui mais uma vez estagnou e devastou o futuro especioso que Juca tanto almejou.              
Como conseqüência, Gui se sentiu um ignoto naquela casa. Aos nove anos de idade constatou que era um pária. Esse foi a acarretarão para Gui receber com alegria um convite de um sentimento melhor do que o desprezo do pai. Foi aí que Gui embarcou em uma utopia que desafiava a imaginação humana, experimentou a maconha. Descobriu uma nova maneira de ver e viver a vida.                            
     Quer uma cerveja?-Lelo perguntou em seu ouvido.                                   
     Hã... Não, não obrigada-agradeceu- Aceito um refrigerante.                               
Seu pai não a culpava de nada. Mas se sentia afligido toda vez que olhava para o rosto da filha e via o rosto da ex-mulher.                                          
Quem dera a mãe estivesse morta, desejou, mas não estava havia fugido com um homem há dez anos mais novo que ela. "Por isso que o pai me agredir tanto."- concluiu ela.                                                                  
     Que tal sairmos daqui? Vamos para a varanda, lá você toma um ar fresco. -Lelo chamou.                                                                      
Caminharam em silêncio para a varanda. Lá continuaram com o silêncio.                     
Não deveria ter aceitado o convite da amiga. Precisava sair um pouco, esclarecer as idéias. Deveria ter saído sozinha? Ao pensar nisso estremeceu, sentiu um calafrio. Lembrou de quando estava passeando pela rua e de repente alguém a seguia. Estremeceu de novo. Procurou afastar da cabeça as lembranças que se tornariam vil e aterrador se continuasse a pensar nelas.                                        
Olhou para Lelo. Estava com pena dele. Estava fazendo Lelo perder a noite ficando o tempo todo com ela. Deveria deixar que ele fosse se divertir, procurar outra garota com disposição para dançar. Deixaria Lelo ir, assim ficaria a sós com os seus pensamentos.
Lelo sorria para Senhorita. Parecia um servo a espera de uma ordem de sua senhora. Era uma criança a espera de um doce ou de um brinquedo. Ele sorria como um vendedor que era sempre escorraçado, mas sempre batia humildemente na mesma porta da pessoa que tantas vezes o escorraçara.                                                 
De repente sentia-se atraída por ele. Lelo era um rapaz alto e bonito, sorridente. Com personalidade, por isso ele passava certa confiança.                                   
Mais uma vez pensou que não deveria estar ali, não deveria ter aceitado o convite da amiga. Prejudicava, pensou ela, as pessoas com a sua má vontade. Não estava com disposição pra dançar, pra se divertir. Lelo tornou a pensar com convicção, perdia o tempo que tinha para se divertir ficando ali para fazendo-lhe companhia.                    
"Quer saber de uma coisa- disse a si mesma- Sou nova, ainda uma criança praticamente. Não vou me sobrecarregar igual à Gui. Não vou ficar aqui parada me excluindo das outras pessoas." e se decidiu "Vou é me divertir!" Olhou para Lelo e disse:                                                                         
     Vamos dançar?-disse segurando a mão de Lelo. Não precisou dizer duas vezes Lelo logo aceitou. Dirigiram-se para o meio do salão.                                             
Os dois estudavam na mesma escola. Lelo fazia o primeiro ano do colegial pela terceira vez. Não era bom em português e história. Gostava de matemática e química, achava biologia e física, matérias complexas.                                          
Já Senhorita cursava o sétimo ano do ensino fundamental. Era ótima em quase todas as disciplinas. Mas português se tornara desde a quinta série a sua disciplina predileta.                                                                      
Suas salas de aula ficavam no mesmo corredor, no primeiro andar próximo ao refeitório. Todas as vezes que os professores faziam a troca de sala de aula os alunos deveriam permanecer na sala e durante os quinze minutos se preparar para a aula seguinte. Mas eles faziam isso depois que o professor entrava na sala de aula. Os alunos preferiam ficar no corredor. Alguns alunos conversavam com colegial, outros faziam traquinagem, outros paqueravam. Foi em uma dessas ocasiões que Senhorita viu Lelo pela primeira vez.                                          
Lelo conversava com alguns colegas enquanto andavam pelo corredor. Ela com as amigas, nos seus lugares no corredor- enquanto outros alunos conversavam outros faziam diversas traquinagens, jogavam bolas feitas de papel uns nos outros e outros alunos preferiam paquerar. Senhorita considerava fazer parte da turma dos tímidos (esse ainda não existia). Enganara-se, pois Roberta como o mais novo calouro da turma da Paquera.                                                    
     Como discípula, você terá que provar se está apta ou inepta de entrar na 'thurma'- disse a ela uma das meninas. Teria de fazer algo grandioso para ser aceita por esse tipo de sociedade. Tinha que paquerar algum desconhecido.
     Escolha- principiou uma menina com divertimento na voz- ou do grupo C, do grupo B, ou do grupo P, ou o grupo T. Você escolhe.                                             
     Veja. A menina está confusa! - disse Roberta vinda em socorro da amiga. Olhe garota, o grupo C é o da conversa; o grupo T é o da traquinagem; o grupo B é os que jogam bolas de papel uns nos outros- é um bando de meninos bobos, male educado. O grupo P é os que se sobressaem sobre os demais grupos, e fazem mais nada além de paquerar.                                                                   
     Bom - abria os braços como se indicasse alguma coisa- agora você escolhe. Mas pense bem. - Roberta advertiu.                                                               
Senhorita tratou de ficar em estado de absorção. Não queria deixar que vissem o seu nervosismo, queria mostrar e comprovar-se o suficiente para as veteranas; que era uma menina esperta. "Bom, começou a pensar, O grupo C, pensou, são os intelectuais, sabem conversar fluentemente, são eloqüentes, lêem muitos livros, etc, etc. O grupo T é brincalhão, gostam de games. Tantos dos grupos C e T gostam de festas e baladas. Mas os do grupo B não vão nem cogitar sobre eles, irá tratá-los como um pormenor. Já o grupo P é interessante. Gente boa, mas gostam de curtição..."                                                                             
     E aí já escolheu?-perguntou-lhe a amiga. Roberta pegou um lápis enquanto copiava o resultado de um exercício da amiga, advertiu-a:                                   
     Tem que fazer a escolha logo. Você tem até a festa do Digo para escolher com quem vai ficar. A festa é hoje à noite.                                                     
Agora lembrava, tinha de provar que era a pessoa certa para o GPM (Grupo de Paquera de Meninas). Mas as circunstâncias de antes eram contrárias, agora eram favoráveis.                                                                                                         
Dançava uma música eletrônica, uma das, mas tocas nas radias, quando ela parou de dançar e com a mão esquerda segurou Lelo e o levou de volta a varanda.
Sim, as circunstâncias eram outras.                                                      
Desta vez não levara para a varanda para fazer companhia, igual aquele momento em que aceitara o convite para se refugiar a fim de se esconder das pessoas tentando assim ocultar o seu medo, o seu desanimo. Mas agora se refugiava sim, o motivo era outro, se refugiava para ficar a sós com a pessoa que passou a ser importado para ela, pelo menos naquele momento. Estava decidida, já havia escolhido. O escolhido foi Lelo. Lelo era inteligente, paciente e compreensivo. Exatamente tudo de que precisava agora.                                          
Não precisava de um amigo para ser ouvida, nem de uma amiga-mãe para consolá-la, mas de alguém assim como Lelo para abraçar e ser abraçada, para ficar, mas ficar juntos apenas naquela noite. Enfim, seus lábios se encostaram. Não era um ósculo, era sim, um Kiss, mas um Kiss Frances.
Esse beijo foi perfeito para que se saltasse de uma vez. Dançou, riu, conversou, sorriu muito durante a festa. Amou a casa de Diogo.                                                                     Às vinte horas foram embora para casa.                                                      
Caminhava alegremente pelas ruas no regresso para casa. Estava sozinha, havia rejeitado a companhia de Lelo. Voltava sozinha para casa.                                          
De repente, sobre veio o horror, e furtou sua beleza, furtou sua inocência e com ela a pureza. Algo furto sua jovialidade. Algo, alguma coisa ou alguém furta com atos atroes a inocência de seu corpo deixando-o caído em um chão gélido e poento daquela noite fria.
Só às duas da manhã Lelo deixou a casa de Digo.                                                    
     Que garota mais complicada, Lelo respirou fundo, Só fiquei com ela por causa da Roberta. Estava a fim de Roberta e acabei tendo que ficar com a sua amiga cheia de complexidade. ô menina chata meu Deus!                                          
     Ai, ai- lamentou- eu sou mais uma vitima, igual a Narciso em meio a tantos na tragédia grega. Acho que vou morrer com o que sinto por Roberta...                                 De repente em meio as suas lamentações Lelo viu a figura frágil de Senhorita o envolveu como uma expressão nostálgica.                                              
     Sentia atração por Roberta e agora, gosto da garota... - o seu coração bateu mais forte.                                                                                
De súbito parou na rua e se lembrou de Senhorita.                                         
     Ah o seu jeito carente de mulher! Ah a sua fragilidade!                                          
De repente, ao adentrar em um caminho o que viu o perturbou. Trêmulo pedia a Deus que o que via fosse efeito do álcool que consumira na festa. Mas não era.                            
A visão trouxe ao seu coração uma comoção indivisível. Levou o corpo caído para a sua casa. Nesse momento agradeceu muito, mas muito a Deus por seus pais terem ido urgentemente para São Paulo.                                               
Tratou com carinho das feridas de Senhorita. Pouco a pouco começou a gostar da garota. Não gostou da pequena quando pela primeira vez a vira, agora a amava.
A admiração que virara paixão deu lugar ao amor. Assim a amou mais do que tudo na vida.
Parado e debruçado na janela pela primeira vez contemplava o despertar do dia na cidade.                                                                     
     O-onde... Onde estou?- sua voz estava fraca.                                                
     Está na minha casa, Lelo puxou uma cadeira e sentou ao seu lado.                         
     Não tenha medo- disse docemente.                                                      
     Sei ou apenas deduzo o que aconteceu com você.                                          
Segurando a mão dela disse, - Mas o que sei é o que você precisa se alimentar.
     Coma um pouco.
Senhorita olhou para Lelo uma lágrima rolou do seu rosto.                            
     O - obrigada. E e-eu...                                                                  
     Não- interrompeu- não fale nada, você está fraca.                                              
     Não chore minha pequena. Olha não te levei para sua casa por que não seria o certo a fazer nesse momento.                                                             
Ao ouvir isso Senhorita se tranqüilizou. Estava certa, escolhera o rapaz certo. Mas o que seu pai pensaria sobre isso?Como reagiria se ele a viu se entrar em casa acompanhada de um rapaz. Qual seria a sua reação?                                      
Lelo a levou para casa na parte da tarde.                                                 
Entraram juntos na casa de mãos dadas, levou-a direto para o quarto. Não se demorou muito no quarto, pois havia de enfrentar a fera.                                   
Ao entrar na sala Juca estava ainda na sala. Sentou ao seu lado no sofá de dois lugares. Juca nem sequer o olhou.                                                      
     Bom, o senhor não me conhece, me conhecem como Lelo, um amigo de sua filha.                               
Lelo sorriu, mas logo desfez o sorriso. Juca, nem se mexeu. Permaneceu em silêncio, um silêncio constrangedor.                                                      
     Bom, eu já me vou. Foi um prazer te conhecer. -Lelo sorriu, estendeu a mão e assim ficou durante vinte segundos. Juca nem sequer o olhou. Vendo que nada iria conseguir, recolheu o braço e disse:                                                       
      Peço ao senhor que a poupe. Ela está muito fraca. Não a torture, a vida já a castiga sem um motivo sequer.                                                        
Antes de fechar a porta Lelo se ofereceu.                                                 
     Estou à disposição do senhor. Não hesite em me chamar.                                  
Assim Lelo deixou o pai de Senhorita só com seus pensamentos.                                  
No momento em que a porta de sua casa fechou Juca sentiu uma lágrima correr do seu rosto e disse em voz baixa:                                                 
     Lamento muito minha filha. Não importo mais com o que aconteceu com você ou irá acontecer a você. O que posso fazer é me lamentar por continuar a viver. O que é pior é tê-la como filha.                                                               
Juca se levantou e saiu. Foi até o bar afogar todas as lembranças de ex-mulher ingrata que o havia trocado por um rapaz mais novo que ele. Só voltou pra casa de noite.
Deitado em sua cama Lelo se lamentava pela sorte de sua amada de ter nascido em uma família tão complicada.                                                           
O tempo passou. Ele nem sequer a esqueceu. Não deixou de visitá-la uma só vez.
Mas sempre que estava à só evitava tocar no que havia acontecido, tinha medo de machucá-la, de constrangê-la.
Tornaram-se bons amigos. Mas não era isso o que Lelo queria. Não suportava em declarar a si, diante do espelho que a amava. Sonhava com o dia em que poderia revelar ao mundo soberbamente que a amava.                                                      
Senhorita por sua vez, o evitava. Queria se vir livre do passado. Não apenas do passado, mas do sentimento que o fazia querer vê-lo mais e mais. Estava apaixonada.                                                                      
Ficou nesse dilema até dois meses, quando certo dia, pela primeira vez ele a viu entrar em sua casa, até então eles se encontravam noutros lugares.            
Senhorita tremia, estava aflita.                                                                                                        
     Vamos entre, convidou preocupado, Mamãe foi ao bairro Ouro Fino, voltará só à noite. Vamos entre!                                                               
Senhorita entrou e se sentou no sofá. Mergulhou o rosto nas mãos desta forma o deixou aflito. Lelo ficou nervoso em ver o estado desesperador em que se encontrava a amiga.                                                                  
Buscou um copo d'água com açúcar. Ajoelhou aos seus pés e ofereceu o copo com água. Senhorita aceitou, em meio a soluços bebeu toda água.                                   
     Conte-me o que aconteceu. O que houve minha pequena?- disse docemente.
Senhorita olhou para ele, outra lágrima rolou dos seus olhos.                                   
Com as costas das mãos Lelo limpou o rosto molhado da amiga. Em seguida, pegou as mãos dela as beijou e disse com todo o cuidado:                                        
     É alguma coisa relacionada àquela noite vil- tentando dar força a amiga para que falasse completou, Sei o quão difícil é, mas você deveria pensar menos naquele triste episódio.                                                                      
     Com vou esquecer?- as palavras saíram de seus lábios como um soluço. Olhou para Lelo com pavor, como se implorasse a um estranho um abrigo.                            
     Trago o fruto, ou pior, a semente dessa terrível noite. - Senhorita levou às mãos a barriga e se lamentou. A noite para mim significa liberdade- confessou a ele. –
Hoje me prendo a uma atroz recordação.                                                        
Lelo temeu por Senhorita. De alguma forma a queria proteger do que já era impossível de proteger. Era improvável a possibilidade de salva-la.                                   
Ela continuou:                                                                      
     Não posso dizer o que aconteceu naquela noite- pensou em algo que certamente iria acontecer se pusesse aquela noite às claras, estremeceu. Se meu irmão descobre ele vai acusar o meu pai de negligência. Seria capaz de até matar.                   
Procurando abrigo confessou:                                                      
     Preciso de você Lelo- as lágrimas caiam dos seus olhos e enquanto molhava a mão de Lelo.
Lelo em silêncio olhava as lágrimas escorrer dos olhos da amada e molhar as suas mãos. De repente vendo as suas mãos que aos poucos se encharcavam teve uma idéia.                                                                            
     Está certo- era como se disse pra si mesmo. Era como se tivesse a oportunidade de gritar ao mundo que a amava. Estava para enfrentar as provas maquiavélicas da vida que tinha o prazer de provar o ser humano. Estava pronto e a arma que usaria dava a ele a certeza da vitória. Levantou-se e como se tivesse a força herculana disse que não precisava da proteção dos deuses. Dispensava os serviços de Efestos sem temer a fúria de Júpiter e dos dioses.                                             
Convidou-a docemente:                                                             
     Vamos ao shopping.                                                               
Senhorita sem entender aceitou.                                                        
Após algum tempo em uma lanchonete de dentro do shopping olhava-o curiosa.                    
     Bom, disse ele a ela, tenho uma idéia. Você deve aceitar o meu pedido. Namora comigo, casa comigo e em pouco tempo estaremos em São Paulo num belo apartamento. Prometo que terei, ou melhor, considerarei o seu filho como se fosse nosso. O que me diz?                                                                                    
Senhorita ficou encantada e disse:                                                        
     Mas você estará se sacrificando, disse se recordando do pai e no que resultou seu sacrifício.                                                                                        
     Que sacrificar que nada! Você ainda não percebeu, eu a amo! Minha pequena.
Nossa história é diferente e especiosa! Eu a amo e você, sei disso, me ama também.
Nossa história não terá o fim triste de Eugênio de Lírios do Campo, ou o fim trágico de Píramo e Tisbe ou outro final da tragédia Grega que qualquer um teme que se torne veraz. - Lelo aludiu apaixonadamente. - Eu a amo. O destino é persuasivo e está do nosso lado. Ele torce por nós.                                             Pegou as mãos de Senhorita e disse:                                                        
     Saiba que o amor que aqui- levou uma mão ao peito, ali com convicção bateu três vezes, e continuou- aqui- repetiu a palavra com um sorriso- carrego de forma alguma é fictício.                                                                         
E com um beijo selaram o seu amor. Deixaram o shopping de mãos dadas.                               
Em pouco tempo deixaram as suas famílias e a cidade de Sorocaba e foram para São Paulo. Senhorita também deixou de ser uma senhorita e passou a ser uma mulher apesar da sua pouca idade.                                                 
Assim foi o último adeus de uma senhorita


Este texto é administrado por: Fernão Batilo
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