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É só dobrar o pescoço
Rafael da Silva Claro



A professora pediu para formarmos os grupos e elaborarmos os trabalhos de Ciências. O nosso grupo foi formado. Uma breve reunião definiu que arrebentaríamos exibindo o “trato digestivo” de uma galinha. Fomos direto para uma granja.

Durante o caminho, fomos “viajando” na ousadia e superprodução: a professora ficaria espantada com o esmero e a criatividade para executar tão brilhante ideia; todos os alunos ficariam impressionados com a exposição do interior de um galináceo; e uma parte dos espectadores sairia correndo, como num circo de horrores, diante do freakshow.

Chegamos no local. O atendente trouxe um franguinho vivo, colocou-o numa bancada junto de uma afiadíssima e reluzente faca e perguntou quem faria o serviço. Pronto, todos entenderam o que o funcionário quis dizer com “serviço”. O maior dilema de nossas incipientes existências estava colocado na nossa frente, numa mesinha. Quem, e como, mataria o frango?

Aquela catatonia temporária foi abandonando cada um. Estabelecemos uma rápida confabulação. Todos sabiam que nuggets, coxinhas e McChickens eram resultados de uma carnificina, mas ninguém se ofereceu para executar o trabalho sujo. Às vezes, alguém ameaçava torcer o pescoço do franguinho, mas era dissuadido pelos olhinhos esbugalhados da dócil ave suplicando clemência e um quase inaudível cacarejar.

Todos jactavam-se de saber como terminar aquilo, mas diante da hesitação, desistimos. A desistência peremptória veio quando um dos candidatos a carrasco quis adotar o animal, batizando-o. Fomos embora. A frustração de não “pormos a mão na massa” foi suplantada por admitirmos que éramos garotos da cidade, acostumados a encontrar carne (cortada e embalada) no supermercado.

No dia anterior ao trabalho científico, iniciamos a noite preparando um slide artesanal. Todo o impacto, que impressionaria e causaria assombro em todos os espectadores, foi substituído por um slide mequetrefe de fundo de quintal (quase literalmente). O trabalho seria igual aos outros, talvez pior, porque seria feito, mau e porcamente, às pressas.

A apresentação foi modesta, não foi nada impactante como prevíamos. Contrariando o furor e a correria causada pelo assombro que sonhávamos, ninguém se mexeu. O único que levantou, foi ao banheiro, talvez por incontinência urinária. Finalmente, nosso grupo não superou as expectativas. Mas ninguém do grupo brincou de Deus, talvez por falta de coragem, e o bichinho seguiu com vida.


Biografia:
Ensino secundário completo. Trabalhei em várias empresas, fora da literatura. Tenho um blog, onde publico meus textos: “Gazeta Explosiva” Blogger
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