Entardecer de velha cepa cai sobre a cidade esgarçada por rios imundos. As vozes amedrontadas das varandas buscam horizontes amarelos enquanto as quimeras dançam como tempestades de colibris mortos. A dor, estranha companheira, veste-se de sorrisos e passeia, solene, nas avenidas de abutres abertas no crepúsculo. Os anjos tortos e caídos dançam com as travestis, os demônios celebram os salvadores, as baratas de nuvens percorrem as casas das famílias respeitáveis e ilibadas. Os olhos surdos são perfurados por luzes e um caleidoscópio de intrigas revela imagens no fundo das taças de vinho...
Entardecer de estranhas mães carregando sonhos envelhecidos onde a fumaça de um cigarro desenha víboras que devoram certezas amanhecidas, como um mendigo a arrastar-se pelos becos e beiras numa noite de chuva. Esta dor resvala em cantos negros, de onde brotam insanas palavras vestidas de dúvidas...
Entardecer nas ruas cinzentas da solidão, quando os pássaros voam cingindo os azuis e se abrem quais livros de melancolia, como um poema de silêncios e lágrimas, quando todas as bestas do apocalipse dançam com os arautos dos senhores e matam as nascentes...
Darwin Ferraretto 11/08/06
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