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A CIDADE DE JOÃO NINGUÉM
Tânia Du Bois

Você já ouviu falar na cidade de joão ninguém? É a cidade onde todos mandam, ninguém obedece e poucos respeitam.
          Noel Rosa, em tempos passados, compôs uma letra com o nome de João Ninguém. O poeta teve sensibilidade para compreender o que estava acontecendo à sua volta; foi capaz de traduzir naquela música o seu tempo social. Trabalhou duro a palavra para tentar mostrar o que estava acontecendo em uma cidade saída da Revolução de 1930, num país carente da palavra; ele soube usá-la para definir o movimento das palavras para com a música:
                                         “João Ninguém
                                          Que não é velho nem moço
                                          Come bastante no almoço
                                          Pra se esquecer do jantar
                                         Esse João nunca se expôs ao perigo
                                         Nunca teve um inimigo
                                         Nunca teve opinião.”
           Mas, nos tempos atuais, é a cidade em que o povo escuta música em volume excessivo, nos carros, nas ruas, até altas horas; os carros são estacionados de qualquer maneira, em qualquer mão. Nas lojas, parece que cada dono faz o seu próprio horário de atendimento. Não há policiamento. As casas são assaltadas à luz do dia. A novidade é que, agora, os ladrões escalam prédios e até matam para roubar. Os supermercados fixam preços de acordo com a temporada; O saneamento básico é feito e refeito. E como é a cidade de joão ninguém, não são tomadas providências, nenhuma atitude sobre absolutamente nada. Tudo é permitido, tudo podem.
           Álvaro Mutis, poeta colombiano, mostra-nos que a força das armas não contempla a permanência, ao contrário, leva à destruição e ao esquecimento; a ilusão do progresso como atos a reconfigurar a terra em novas formas de compartilhamento:
                                      “Senhor das armas
                                       ilusórias, faz tanto tempo
                                       que o olvido trabalha
                                       teus poderes
                                       que teu nome, teu reino
                                       e torre, o estuário
                                       as areias e as armas
                                       se apagaram para sempre...”
          E como vivem os forasteiros nessa cidade? Eles entendem que a cidade de joão ninguém é protegida pela natureza. Que o Sol é glorioso e a Lua quando bate no mar reflete os sonhos. Que o entardecer se confunde com as telas de Ivan Freitas. Que o mar é verde como a esmeralda, como pinceladas de Sansão Pereira. Que os pescadores pertencem à tela de Elias Andrade.
          E que, ainda, sentar no terraço e apreciar a paisagem na companhia de Mário Quintana, Jorge Luis Borges e Saramago faz com que consigam esquecer que essa cidade pertence a joão ninguém. A brisa chega com Cecília Meireles e cada momento de “Isto ou Aquilo” é desfrutado com muita sabedoria.
          Assim vivem os forasteiros na cidade de joão ninguém, tentando unir as letras ao povo, dando-lhes lápis e papel para perceberem a realidade; desafiando a cidade a arranjar um amor, uma palavra, como em Pedro Du Bois:
                                             “Ante todos
                                              nenhuma resposta.

                                              Entre todos
                                              algumas promessas.

                                              Tordos
                                              pássaros existentes
                                              em outras terras.”


Biografia:
Pedagoga. Articulista e cronista. Textos publicados em sites e blogs.Participante e colaboradora do Projeto Passo Fundo. Autora dos livros: Amantes nas Entrelinhas, O Exercício das Vozes, Autópsia do Invisível, Comércio de Ilusões, O Eco dos Objetos - cabides da memória , Arte em Movimento, Vidas Desamarradas, Entrelaços,Eles em Diferentes Dias e A Linguagem da Diferença.
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