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BAGAÇO DE CANA
ANTONIO LUIZ MACÊDO E SILVA

A paisagem mais bela que se afigura diante dos nossos olhos ao atravessarmos cidades de regiões açucareiras, é a paisagem dos canaviais. Dezenas, centenas e mais centenas de hectares de cana de açúcar, com as suas folhas verde-homogêneas balançando ao vento, e exibindo numa dança graciosa, pendões que sobressaem e se dirigem para o alto. Parece mais uma pintura viva, que enche os olhos e o coração.

A partir de abril ou maio, dependendo da região, a paisagem muda. Os bóias frias substituem o encantamento do verde, com as suas goivas e foices. Do nascer ao pôr do sol, durante todos os dias da colheita, lá estão eles em mangas de camisa, pano envolvendo a cabeça, chapéu e outros acessórios, tanto homens quanto mulheres, num trabalho inseguro e desumano, cortam por dia de 5 a 6 ton/homem. Os “buracos” se estendem pelo canavial inteiro, indício de uma transformação violenta, porém necessária, na paisagem que enchera os nossos olhos.

Depois do corte, a alma da cana chora. Do canavial onde o orvalho das noites banhava suas folhas; a música dos ventos embalava os campos; o clarão da lua cheia refletia o céu azul... As moendas eram, no entanto, o seu destino. Transportadas em caminhões para engenhos de rapadura ou usinas de açúcar,
Iriam cumprir a vontade de Deus e a vontade dos homens – reis da criação.

Descarregadas, raspadas e lavadas, são introduzidas na moenda. Não se ouve um gemido, apenas o estalo da casca sendo triturada, esmagada, macerada. E após o corte, a passagem pela moenda, uma, duas, três vezes, do outro lado surge uma caldo doce, que tem gosto de amor: o caldo de cana.

Daí para o fogo. Os tachos enormes de cobre recebem o caldo em temperaturas elevadíssimas, para que ele seja transformado em mel, e origine a rapadura ou o açúcar.

A cana de açúcar representa, na realidade, a vida do verdadeiro cristão. O sofrimento faz parte da vida de cada um de nós. Não há como fugir. E quando somos esmagados, triturados como a cana, mesmo que estalemos a ”casca” de fora, não nos revoltemos, mas o acolhamos e o abracemos para o nosso crescimento. Deus é Pai. Deus é amor. Nada acontece por acaso.

E o que fazer com o bagaço? Joga dentro do fogo com o qual o Espírito Santo te queima, para que o caldo doce que emana do teu sofrimento, transforme-se no mel consolador de outros irmãos e irmãs.




Este texto é administrado por: ANTONIO LUIZ MACÊDO
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