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INESPERADO
ORLANDO GALOTTI JR

Aos 39 anos, perdi o emprego de Encarregado Geral de Administração. Nessa função, organizava os horários de aulas de MBA, distribuía os serviços aos subordinados, cuidava de contas em geral, enfim era o dito pau para qualquer obra. Essa escola era de pós-graduação em economia, hoje é Universidade. Bem, nesse tempo, surgiu a necessidade de uma pequena cirurgia, coisa de uma semana. Por fatalidade, peguei uma infecção hospitalar, o filho da puta do vírus chamava STAPHYLOCOCCUS AUREUS.     Pomposo nome que me obrigou a ficar mais tempo afastado. Enquanto hospitalizado, recebi a visita de uma secretária, puxa saco do diretor, ela era legal, mas sua performance feminina não condizia com sua simpatia, mesmo assim, uma vez me disse:
- Puxa! Nós falamos somente de serviço, vamos falar sobre outras coisas. Bem, como bom menino, entendi que estava a fim de me usar como papai. Entretanto como era chefe, fingia que não entendia com receio de perder a autoridade. Devia ter comido, porque intermediou e foi me visitar para fazer acordo de homologação trabalhista.
Como um filhote de besta, concordei com a intenção de em futuro próximo satisfazê-la sexualmente. Ferrei-me. Quando fui à caça, ela havia trocado de emprego.
Tive que preservar a energia que para ela tinha reservado.

A época foi de recessão e estava difícil novo emprego.               Voltei a lecionar, dessa vez como aulas particulares. Dava pro gasto. Fazendo propaganda, só mencionava o telefone, fazendo uma pré-avaliação dos interessados, antes de fornecer o endereço, visto que morava em apartamento, num prédio familiar, com porteiro eletrônico, mas com receio de possíveis falsos alunos,       reservando-me aos comuns assaltos.   

Algumas propostas de lecionar em empresas, escolas, prefeituras no interior e empregos que estavam aquém das minhas necessidades, optei pelo que estava fazendo.
Conheci pessoas com muita vontade de aprender o idioma, alguns curiosos, traduções para universitários, empresas, etc. Foi quase o que desejava.
Alguns religiosos fanáticos fizeram parte desse contingente de alunos.
Aceitei o convite de um casal para visitar uma igreja evangélica, apesar de ser católico. Marcamos para uma sexta-feira das 20 ás 23 horas. Voltei para casa por volta das 23;30 horas. Fiz um lanche e cama. O telefone tocou. Pensei bem, e resolvi não atender pelo horário. Dormi.                                                                                                 
No sábado às 8 da manhã, o telefone tocou novamente, atendi. Era um rapaz que queria aprender inglês. Disse que tinha pressa em aprender, mas que entraria ás 10 horas no emprego e queria deixar agendadas as aulas e já pagaria o primeiro mês adiantado. Como um de meus ancestrais era grego, marquei para 8:30.                     Rapidamente, banho, café, bermuda e cigarro. No horário aprazado chegaram dois rapazes. Apresentações de praxe. Um dele pediu para usar o banheiro, indiquei o local. Enquanto ele mijava, fiquei conversando com o suposto irmão, voltou e sentou.                          
O irmão pediu, também para usar o banheiro. Bem iniciamos a conversa sobre curso. Ouvi a descarga, mas fiquei a vontade e sentado de lado para o banheiro.
Quando o irmão se aproximou, apontou um revólver para minha cara e disse: - É assalto, qualquer movimento ou grito, atiro.
Naturalmente, pensei que fosse brincadeira. Virei-me e dei de cara com o buraco do revólver bem na fuça.
Tentei: - Opa, que é isso você deve estar brincando!
Ele: - Fale baixo e nem um pio!
Enquanto me apontava aquela porra, o outro ligou o som alto e abriu o chuveiro. Isso para que os vizinhos nada escutassem e imaginassem que eu estivesse tomando banho.
Nessa altura minha barriga se rebelou, exalando os flatos um após o outro, naturalmente, pensando em se cagar de medo.
Fingi ter calma e fui falando com a dicção tremula e sem nexo, imaginando que poderia mudar a cena, chegando logo ao ato final.
Ledo engano. Abriram as quatro gavetas da mesa que suportava o computador, espalhando o conteúdo pelo chão. Localizaram os       R$ 400,00 que guardava para completar as despesas do mês. Entrou o terceiro malaco, até que parecia um rapaz honesto, com gorrinho, capa de vampiro e meio sorridente. Pensei: Esse vai me ajudar! Bem, na verdade ele trouxe sacolas e acondicionou minha televisão, tão novinha que nem tinha chegado ainda o carnê. Nas outras sacolas foi colocando algumas roupas de sua escolha, bom gosto o rapaz, pegou só o que tinha de melhor. Um falou: – Vamos levar o computador! Com a voz embargada, disse: - Por favor, não! Ele é meu ganha pão. Acho que minha cara de pedinte nato, deixaram. Enfim, ato final. Um tirou do bolso um rolo de fita crepe e envolveu minha boca. Com cara de doente tirei a fita dizendo que tinha claustrofobia. Acho que não conheciam a palavra e ficaram um olhando para o outro e nada falaram. O terceiro entrante abriu a porta dizendo – Vou ligar o carro. Os outros dois queriam me trancar no quarto, mas como não tinha chave, disseram: – Se você tentar algo, voltamos e atiramos. Saíram com as sacolas, a TV e a grana.
Puta que pariu, corri pro banheiro e aliviei toda coragem que havia segurado por vinte e cinco minutos. Após aquele desabafo fecal, tomei café com Lexotan numa dose moderada.
Chamei um vizinho conhecido, expliquei o ocorrido apenas para relaxar e ele comentou que viu os malacos saírem, mas imaginou que fossem visitas normais dos moradores do prédio. Ficou surpreso pelo acontecido, já que o prédio tinha duas portas que só abriam com acionamento eletrônico. Expliquei que me procuraram para aulas particulares e eu que havia acionado as portas. Bem, nada poderia fazer para amenizar o caso.     Pelo menos serviu para ouvir minha canção psicológica.
Um pouco menos tenso, telefonei para os alunos que teriam aula naquele sábado suspendendo o compromisso. Fui deitar. Chorei. Fiz uma retrospectiva do assalto, me senti herói e agradeci a Deus por sair ileso do acontecido.

Quase com o emocional normal, tentei os afazeres domésticos. Foi um sábado de bosta, pois caguei oito vezes.
Por volta das 17 horas, tocou o telefone. Outra surpresa. Era aquela moça que foi me visitar no hospital para assinar a homologação. Após os cumprimentos de praxe, perguntei:
- Como conseguiu meu número?
Disse: - Quando você ligou para saber sobre a liberação do FGTS, a Inês marcou seu telefone na agenda. Outro dia falei com ela e entre outras coisas, falamos de você e ela me passou seu número.              - E aí como você está?
Comentei sobre o ocorrido daquele sábado. Ela ficou abismada e perguntou-me se precisava de alguma coisa.          
Disse: - Bom hoje queria o colo de mamãe.
Ela sorriu e disse: - Não serve o meu?
Respondi: - Pena que você mora longe.
Ela – É verdade, mas estou na casa de uma amiga aqui no centro. Eu – Bem, se quiser vir aqui, e só pegar o metrô. Hoje tô precisando de um colinho.       
Ela: - Vou sim, me passe o endereço e referência, estarei aí por volta das 20 horas.
Aguardei pouco ansioso pela visita. Ás 20:15 chegou, meio ofegante pela distância da estação, inteira ofegante pelo reencontro, ofegante e meia por estar a sós comigo e no meu apartamento. Beijos de amigos e sentamos. Perguntei se chegou com facilidade. Respondeu que sim e que nunca tinha estado na zona norte. Sem perda de tempo, concordamos em pedir pizza. Na geladeira tinha suco de frutas com soja. Conversamos sobre o evento comigo e sua trajetória profissional, estudos, família entre outras baboseiras.
Após a pizza, sentamos na sala ouvindo vários cd’s. Durante o papo, ela mencionou sobre sua volta. Gentilmente, sugeri que dormisse lá e iria no dia seguinte. Fingindo certo receio, concordou. Como bom menino, imaginei que a que iria descarregar o que havia acumulado pelas péssimas emoções que tive durante o dia.
Bateu o cansaço. Fomos ao mesmo chuveiro que a visita matutina ligou pela manhã. Dei-lhe toalha e roupão. Ela foi primeiro. Já banhados perguntou onde iria dormir. Sorri e disse que minha cama era de casal. Também sorriu e fomos para o quarto. Com todo respeito, mas sedentos, iniciamos o KAMA-SUTRA que todos conhecem, mas FREUD não explica, depois dormimos. Dois a um para a dama. Após duas horas, levantei-me para ir ao banheiro. Voltei ao quarto, ela acordou, poucas palavras, iniciamos o segundo ROUND, em seguida o sono até de manhã. Banho, café, músicas, comentários sobre o tempo que havíamos perdido. Ficamos de nos telefonar para novos encontros. Foram alguns meses de trocas energéticas. Nada sério. Entretanto, levamos a ferro e fogo.
Como diz meu próprio slogan: ESPERE SEMPRE O INESPERADO.
   




Biografia:
Professor de inglês, aposentado, 56 anos, comecei a escrever em 2003.
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