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O que é o amor?
Alan Daniel de Brito Mello

... 4:30 da manhã! Não, hora de acordar. Ouço o barulho irritante do despertador avisando-me sobre meus deveres. Não quero acordar agora. Então o desligo com uma fúria matinal e volto a dormir só por mais 5 minutos.
...5:15, oh não , tô atrasado! Visto-me numa velocidade alucinante que nem ao menos percebo o que vesti. Porém isso não importa. Tenho que pegar o trêm das 6:00 horas se quiser chegar a tempo na aula. Tomo café? Não, não posso me dar a esse luxo e gastar 10 minutos do meu precioso tempo, afinal de contas, já o gastei com aquele cochilo de 5 minutos.
Cadê a chave para abrir o portão? Onde coloquei essa maldita chave? Vou me atrasar. Então gasto mais 30 segundos a refletir sobre o caso e me dou conta de que ela esta no lugar onde sempre esteve, no chaveiro. Abro o portão e olho o relógio, já são 5:30 e eu ainda estou aqui em frente de casa. Será que vai dar tempo de pegar o trem das 6:00? Pensar gasta muito tempo e tempo é algo que no momento não posso mais perder. Saio a passos largos, constantes e rápidos para compensar toda essa demora que se sucedeu em virtude das interrupções causadas pelas leis divinas e incrédulas dos atrasados. Viro a primeira esquina e observo a tortuosa subida que terei que encarar. Mas não há problema. Depois dela há apenas um caminho horizontal sem grandes dificuldades para se chegar a estação de trem.
     A passos apressados , porém lânguidos de sono, começo a subi-la num pensamento de já a ter terminado ,e, na lacuna que se formou deste pensamento, sinto um cheiro que me sufoca e me tira a concentração. Meu olhar se desvia para o lado e vejo um motorista a ligar seu ônibus para, assim como eu, cumprir seus deveres, sua labuta. Ah, já sei quem é ele. É o motorista que vejo todos os dias nesse horário, que vida metódica leva esse homem. Se não me falha a memória a mulher dele deve estar na frente do portão olhando-o partir para mais um dia sobrevivido. As etapas:   Enquanto ele liga o ônibus sua mulher vai abrir o portão; depois que o veículo está lá fora, os dois vão um de encontro ao outro e se beijam amorosamente com carícias e carinhos,a princípio verdadeiros; depois ele entra no seu objeto de trabalho e sai manhã a dentro, e ela, com a saudade estampada no rosto, o observa até o seu sumiço; ela volta para casa. Bom, ao que parece a mediocridade de suas vidas é compensada pela entrega que um se tem para com o outro; suas vidas estão entrelaçadas em um único canto, um único corpo, um único ser. Ufa! Já to no topo do mundo, ou melhor, no topo da rua, só falta a horizontalidade que me espera.
     Agora a andar numa plana construção de asfalto e calçadas, sinto o favônio contra meu rosto, mas de nada me serve essa sensação agradável, pois já são 5:45 da manhã e não dá tempo para curtir esse momento. Muito pouco observo o que está a minha volta, só vejo as sombras das coisas que se formam com a meia luz da manhã, ou madrugada? São monstros noturnos que estão a se recolher para suas cavernas macabras, são os espectros que vagueiam pela noite em busca de sangue e carne humana, são os boêmios que vivem a vida e não precisam acordar as 4:30 da manhã para trabalhar ou estudar. Enquanto uns estão acordando, outros vão dormir. Que inveja desses homens. Será que eles estão certos? 5:55, cheguei na estação. Ainda bem que vai dar tempo para eu pegar o trêm das 6:00.
     5:59, como eu imaginava. Ao fundo , surgindo sobre a leve neblina que demorara a madrugada toda para se formar, vem meu trem. Corro para me posicionar estrategicamente de um jeito que a porta pare em minha frente. Ele pára. A porta fica na minha frente. Eu entro.
Nossa quanta gente, não consigo sentar em nenhum banco, então é melhor pelo menos conseguir um bom lugar para ficar em pé.
     São 55 minutos de viagem caótica e desconfortável com esses cidadãos que vejo todos os dias nesse mesmo local, que esbarro neles, que compartilho o mesmo carma, mas que nem ao menos sei quem são. Aqui todos são iguais. Não há negro ou branco, gordo ou magro, alto ou baixo, forte ou fraco, velho ou novo, mulher ou homem, somos a massa que sustenta a pizza, somos o sangue que mantém viva a cidade, somos o recheio do enlatado. Individualmente nos conhece pelo nosso valor, R$2,30 se não aumentar a passagem, ou R$1,15, se for, assim como eu, um estudante que corre atrás da felicidade sem saber se precisa de tudo isso para ser feliz. Acho que a vida é uma constante tristeza com lampejos de alegria. Olho pela janela do trem e vejo paisagens distintas e contraditórias em sua essência. Vejo a favela e a miséria ao lado do shopping imponente, na qual esse monumento só se pode observar em sua magnitude total se estiver distante de suas estruturas concretas. Dá até vontade de entrar nesse templo do consumo, nessa catedral da modernidade.
     Por motivos que não sei explicar, meu olhar se voltou ao centro do vagão e então pude perceber algo. A expressão no rosto dessas pessoas. Todas elas direcionavam seus olhares para algum ponto específico fora do trem, todas tinham expressões sofridas de anos e anos de labuta, todas compartilhavam um mesmo som,o silêncio. Mas havia algo nelas que por mais sutil seja, podia-se notar; a esperança de se conseguir algo melhor. Coitados, mal sabem que a grande maioria vão morrer sem que se concretizem os anseios de sua esperança. E eu, serei um deles? Minhas esperanças e sonhos serão realizados? Tudo que luto para conseguir vale a pena?
     6:55, corro para não perder a primeira aula e passar vergonha por ter chegado atrasado. E torço, torço para aquele farol dos diabos não feche bem na hora que eu chego perto dele, fechou! Maldito! Abre logo farol, abre logo farol. Abriu. Ai meu Deus não vai dar tempo, vamos.
      - O crachá? Diz o guardinha de todos os dias.

     Abro a carteira e procuro minha identificação de estudante, mas não a encontro. O guardinha vendo meu desespero me deixa passar sem a tal carteirinha. Subo as escadas em forma de caracol numa velocidade que sou quase jogado para fora dela, devido as leis da física. Chego em frente da porta e olha dentro da sala para ver se a aula ja começou. Oh não! Não acredito! Eu havia me esquecido. Hoje não tem aula.


Biografia:
Nome? Alan Daniel de Brito Mello. Profissão? Professor, Poeta e Filósofo. Paixões? As não vividas. Decepções? As que vivi. Uma mulher? Um enigma. Nacionalidade? Brasileiro no sangue, na carne e no coração. Time de Futebol? Brasileiro Corinthiano. Uma Cidade? São paulo. Um Estado? Rio de Janeiro. Um Poeta? Vinicius de Moraes. Um filósofo? Haaa, são tantos. Mas não posso citar apenas um, então lhes digo: Nietzsche e Immanuel Kant. Um sonho? A mudança de tudo que conhecemos como certo. Uma mensagem final? Adeus!!!
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